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Acção, Cinema, Douglas Fairbanks Jr., Guerra, Howard Hawks, John Monk Saunders, Neil Hamilton, Primeira Guerra Mundial, Richard Barthelmess
Na França, durante a Primeira Guerra Mundial, a britânica Royal Flying Corps (RFC) vai lutando como pode contra a mais fortemente equipada força aérea alemã. Mesmo que o comandante major Brand (Neil Hamilton) se limite a cumprir ordens, enquanto luta por mais recursos e condições, é acusado pelos seus pilotos de os forçar a missões consecutivas, com novos pilotos a chegarem cada vez mais mal preparados. É o que pensa o líder de esquadrão, Dick Courtney (Richard Barthelmess), que o vocaliza ferozmente junto do seu superior. Mas quando Brand é chamado ao quartel-general para novas tarefas, é Dick quem o substitui, percebendo então quão ingrata é a tarefa, e passando a ver os seus homens insurgirem-se agora si, pelas mesmas razões que antes ele tiver contra o major Brand.
Análise:
Em 1930, Howard Hawks, um realizador que se tornaria um dos nomes ais importantes da idade de ouro do studio system de Hollywood trocava a Fox pela Warner Bros. – a qual comprara a First National, que tem a chancela deste filme – e iniciava uma série brilhante de filmes que ajudaram a definir vários géneros, da guerra ao filme de gangsters, da screwball comedy ao western, numa casa conhecida pela sua vontade de arriscar em novos territórios e modos de contar histórias. A partir do romance “The Flight Commander” de John Monk Saunders, e um pouco no encalço do celebrado “Asas” (Wings, 1927) de William A. Wellman – o primeiro filme a vencer o Oscar de Melhor Filme (então Best Production) – Hawks teve incumbência de construir um filme de guerra que fosse tanto um drama humano como uma aventura de elevados efeitos e combates aéreos.
“A Patrulha da Alvorada” conta a história de uma companhia da Royal Flying Corps (RFC) – força aérea britânica estacionada em França na Primeira Guerra Mundial – e das suas condições de stress de combate. Esta é dirigida pelo major Brand (Neil Hamilton), que por mais que ralhe com os superiores, não consegue demovê-los de estarem sempre a dar missões arriscadas a um grupo de pilotos cada vez mais mal preparados, com menos horas de descanso e menor hipótese de sucesso. Entre eles, é o comandante do esquadrão A, Dick Courtney (Richard Barthelmess) quem mais se insurge contra Brand, numa relação cada vez mais tensa, onde os pilotos veteranos mortos vão sendo substituídos por recrutas cada vez mais jovens. Quando o famoso alemão Von Richter lança um desafio à base da RFC, os pilotos são proibidos de responder, mas Courtney e o seu braço direito Douglas Scott (Douglas Fairbanks Jr.) desobedecem e atacam com sucesso o campo alemão. Na sequência, Brand é chamado ao quartel-general, sendo substituído pelo próprio Courtney. Então Courtney começa a perceber que Brand não tinha qualquer hipótese de desobedecer ao comando central, e passa a ser ele a entregar as ordens que tanto odiava. Tal vale-lhe o ódio do seu amigo Scott, principalmente quando um dos novos recrutas enviado numa missão da qual não volta é o seu irmão mais novo Gordon Scott (William Janney). É ainda em dor que Douglas Scott se oferece para a missão seguinte, que tudo indica ser quase um suicídio, mas Courtney embebeda-o nessa noite, e voa no seu lugar, contra as ordens que o prendem à secretária. Com bravura Courtney completa a missão, mas morre durante a mesma. No final vemos a vida da base aérea a continuar, com novos recrutas impreparados a ser enviados para missões perigosas, com as ordens dadas pelo novo comandante que é agora Douglas Scott.
A meio caminho entre drama e aventura de guerra, “A Patrulha da Alvorada” não depende tão extensivamente de sequências aéreas como “Asas”, as quais estão aliás ausentes na primeira metade do filme. Hawks procura antes o realismo nas relações entre os pilotos e o comando, mostrando os telefonemas conflituosos, as esperas ansiosas, os regressos tristes, as violentas discussões e as noites passadas a beber como forma de vencer a ansiedade. Momentos de ironia dramática incluem a chegada do irmão de Douglas Scott, que sabemos ser apenas carne para canhão – mas sabemos também que quando toca à família a tragédia amplia-se –, e a captura de um piloto alemão, responsável pela morte de alguns ingleses, mas que agora, em terra é apenas mais um soldado, que, como eles próprios, sofre pelas perdas de camaradas e pelo constante stress, e é por isso tratado como amigo.
O tom de tragédia que atravessa todo o filme, é o da inevitabilidade. Esta é expressa na ironia que é vermos Courtney passar de principal contestatário para a cadeira de comando que tanto detesta, e assim comprovar que nada mais pode fazer que continuar a transmitir as ordens que antes contestava. O golpe final nesta ironia é dado no último plano, quando a tarefa passa a Scott, que antes contestava as ordens de Courtney, numa evidência de que a realidade da guerra suplanta todas as boas intenções, e que, sejam quais forem as suas convicções, ninguém é mais que mais uma roda dentada na engrenagem, destinada a ir rodando até ser triturada.
E este, mais que o lado épico de aventura aérea – embora o filme tenha algumas sequências memoráveis – que marca a mensagem de “A Patrulha da Alvorada”. A constante discussão, a chegada de recrutas imberbes, as noites passadas a beber e aquele quadro negro onde se vão apagando os nomes dos pilotos abatidos em combate contribuem para esse clima de tristeza e desespero, que fazem do filme uma mensagem anti-guerra.
Como curiosidade acrescente-se que o próprio Howard Hawks, um veterano da Primeira Guerra Mundial, pilotou aviões nalgumas sequências do filme, o qual foi recebido com enorme sucesso nos cinemas dos Estados Unidos. Menos agradado ficou Howard Hughes, que, ainda antes da estreia, processou a Warner por plágio do seu filme “Os Anjos do Inferno” (Hell’s Angels, 1930) que estava ainda em produção. Tal levou a Warner a acelerar a estreia, mas viria a ganhar o processo contra Hughes.
O filme viria a conhecer um remake em 1938, com o mesmo título, realização de Edmund Goulding (que curiosamente trabalhara com Hughes no citado filme deste autor), e interpretações de Errol Flynn e David Niven. Gravado com melhores condições técnicas, foi um sucesso que fez esquecer o filme de Hawks, o qual, quando passado à televisão viu o seu nome mudar para “Flight Commander” (o título do livro em que se baseia), para evitar confusões com o filme de 1938.
Produção:
Título original: The Dawn Patrol; Produção: First National Pictures; País: EUA; Ano: 1930; Duração: 108 minutos; Distribuição: First National Pictures; Estreia: 10 de Julho de 1930 (EUA), 9 de Dezembro de 1930 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Howard Hawks; Produção: Robert North [não creditado]; Argumento: Dan Totheroh, Howard Hawks, Seton I. Miller, Ewart Adamson [não creditado] [a partir da história “The Flight Commander” de John Monk Saunders]; Música: Rex Dunn [não creditado]; Direcção Musical: Leo F. Forbstein [Vitaphone Orchestra]; Fotografia: Ernest Haller, Elmer Dyer (Cenas Aéreas) [preto e branco]; Montagem: Ray Curtiss; Direcção Artística: Jack Okey; Cenários: Ray Moyer [não creditado]; Efeitos Especiais: Fred Jackman, Harry Redmond Sr. [não creditado].
Elenco:
Richard Barthelmess (Dick Courtney), Douglas Fairbanks Jr. (Douglas Scott), Neil Hamilton (Major Brand), Frank McHugh (Flaherty), Clyde Cook (Bott), James Finlayson (Sargento de Campo), Gardner James (Ralph Hollister), William Janney (Gordon Scott), Edmund Breon (Tenente Phipps).