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Andrea Martin, Bob Clark, Cinema, Cinema canadiano, Doug McGrath, Gore, James Edmond, John Saxon, Keir Dullea, Margot Kidder, Marian Waldman, Olivia Hussey, Slasher, Terror
Numa fraternidade de mulheres, com a chegada do Natal e festejos de férias universitárias, uma figura sinistra instala-se no sótão, enquanto começam a chegar telefonemas anónimos, de alguém que as raparigas apelidam de Moaner (Gemedor), que diz que as irá matar. Com o desaparecimento de uma delas (Lynne Griffin), morta no seu quarto sem que ninguém saiba, e a chegada do pai dela, e o desaparecimento de uma outra rapariga, a polícia começa a investigar. Ao mesmo tempo, na fraternidade, Jess (Olivia Hussey) é acossada pelo seu namorado Peter (Keir Dullea), quando lhe diz que está grávida e pretende abortar. Com mais mortes, a polícia vigia a fraternidade, desconfiando de Peter.
Análise:
Produção canadiana, com um elenco internacional, e baixo orçamento, “Férias Assombradas” partiu de uma ideia de Roy Moore, que escreveu uma história baseada no mito urbano “The Babysitter and the Man Upstairs”, sobre uma série de crimes que ocorreram em Montreal no Canadá. Seguiu-se a inclusão de Bob Clark ao comando, um realizador já com carreira, mas que se celebrizaria principalmente com o também filme de Natal “Uma História de Natal” (A Christmas Story, 1983). A compra da produção pela Warner Bros. tornou o filme largamente distribuído, fazendo a estreia coincidir com o Natal de 1974, tendo vindo, desde então, a sedimentar o seu estatuto de clássico alternativo de Natal.
Com a acção a decorrer numa fraternidade universitária, o filme inicia-se com o ponto de vista subjectivo de alguém que ocupa um lugar no sótão, durante os preparativos para os festejos natalícios. Enquanto as moças bebem e celebram, uma chamada anónima, atendida por Jess (Olivia Hussey) parece ser mais uma do misterioso a quem elas chamam The Moaner, que a mais assertiva Barb (Margot Kidder) provoca, para ouvir de volta que ele as vai matar a todas. Nessa noite, regressada ao quarto, Clare (Lynne Griffin) ouve um ruído, e ao investigar é apanhada e sufocada até à morte no sótão. No dia seguinte, enquanto Jess informa o namorado Peter (Keir Dullea) de que está gravida dele, e pretende abortar, o que o coloca em visível transtorno, o pai de Clare (James Edmond), chega, preocupado com a falta de notícias da filha e, juntamente com Barb e Phyl (Andrea Martin), participam o desaparecimento à polícia. O desaparecimento de outra rapariga da região leva a que o tenente Fuller (John Saxon) decrete buscas, que irão encontrar o corpo assassinado dessa rapariga. Na casa, Mrs Mac (Marian Waldman), Barb e mais tarde Phyl, são mortas, sempre com o assassino a esconder os corpos no sótão, ou nos seus quartos. Com o continuar dos telefonemas sempre mais obscenos, a polícia começa a vigiar a casa e a escutar as chamadas, com as suspeitas a recair sobre Peter, que se torna mais agressivo a querer falar com Jess. A polícia finalmente descobre que as chamadas vêm da própria casa, e Jess teme pelas amigas, subindo ao quarto de Barb, e sendo confrontada com o assassino. Escondendo-se na cave, Jess vê Peter forçar a entrada, e pensando ser ele o assassino, mata-o com o atiçador da lareira. Do sótão, o verdadeiro assassino continua a testemunhar tudo.
Com Roy Moore a colher inspiração em histórias de crimes verídicos, o argumento foi depois adaptado ao ambiente universitário, com um elenco maioritariamente feminino, ao qual Bob Clark tentou dar um sentido de realismo, em personagens com falhas (a gravidez de Jess, a rebeldia de Barb, a bebedeira de Mrs. Mac), que fizesse delas mais que simples carne para canhão. Acresce a peculiaridade de a história de passar no Natal, fazendo o filme surgir muitas vezes citado em listas de filmes alternativos daquela quadra.
Começando o filme com o ponto de vista do criminoso – que nunca vemos –, Clark traz uma característica que seria muito elogiada em “O Regresso do Mal” (Halloween, 1978), de John Carpenter, os planos da câmara subjectiva (o chamado POV – point of view), de facto já presente noutro classico do terror: “A Vítima do Medo” (Peeping Tom, 1960), de Michael Powell. Acrescenta-lhe depois uma componente psiquiátrica, com as vozes que o assassino faz, o falar sozinho, e imaginar-se a conversar com os cadáveres, algo que lembra “Psico” (Psycho, 1960) de Alfred Hitchcock. A juntar-se à formação do léxico do que se tornaria o subgénero slasher, temos ainda os crimes sem objectivo e o facto de nunca vermos o rosto do assassino, componentes que, aliadas ao macabro das mortes – sufocação com saco de plástico, gancho de talho, etc. –, ajudam a conferir um maior sentido de ameaça.
O filme tem sempre o cuidado de não cair numa onda de violência gráfica, evitando mostrar as mortes, as quais ocorrem quase sempre fora de campo, doseando o clima de terror com alguns momentos mais bem humorados. Inicialmente intitulado “Stop Me”, “Férias Assombradas” deixou de fora as cenas de crime presentes no seu argumento, numa opção por não mostrar sangue, preferindo antes a tensão psicológica, na peugada de Hitchcock, num clima de permanente medo.
Escolhendo para protagonistas Olivia Hussey, anterior estrela de “Romeu e Julieta” (Romeo and Juliet, 1968), de Franco Zeffirelli, e Keir Dullea, conhecido pelo seu papel em “2001: Odisseia no Espaço” (2001: A Space Odyssey, 1968), de Stanley Kubrick, Bob Clark teve em Margot Kidder – a futura Lois Lane da série “Super-Homem” – a melhor interpretação com o espírito de rebeldia e irresponsabilidade que ele queria para descrever a fraternidade de raparigas, sem fugir a linguagem grosseira, e comportamentos claramente promíscuos, como a gravidez de Jess atesta, algo que era então mais fácil numa produção canadiana que numa de Hollywood.
Sucesso moderado aquando da sua estreia, com o advento do slasher na década seguinte, “Férias Assombradas” continuou a cimentar o seu estatuto de clássico do terror, e um dos filmes seminais do subgénero, inspiração para o supracitado filme de John Carpenter, responsável pela popularização do subgénero. Nos Estado Unidos o filme seria inicialmente apresentado sob o título “Silent Night, Evil Night”, com medo que o título original o fizesse parecer um filme de blaxploitation.
Como curiosidade, note-se que John Saxon viria a repetir o papel do polícia que investiga os crimes noutro famoso slasher : “Pesadelo em Elm Street” (A Nightmare on Elm Street, 1984), de Wes Craven.
Em 2006, e com o mesmo nome, surgiu um remake do filme, realizado por Glen Morgan, com poucos pontos de contacto com o filme original, incidindo mais na história do assassino – que entretanto se convencionou chamar Billy, o nome que ele dá a si mesmo nalguns dos seus monólogos –, e com a presença de Andrea Martin, a Phyl do filme original.
Produção:
Título original: Black Christmas; Produção: Film Funding Ltd. of Canada / Vision IV / Canadian Film Development Corporation (CFDC) / Famous Players / August Films [não creditada]; Produtor Executivo: Findlay Quinn; País: Canadá; Ano: 1974; Duração: 98 minutos; Distribuição: Ambassador Film Distributors (Canadá), EMI Distribution (Reino Unido), Warner Bros. (EUA); Estreia: 11 de Outubro de 1974 (Canadá).
Equipa técnica:
Realização: Bob Clark; Produção: Bob Clark; Co-Produção: Gerry Arbeid; Produtor Associado: Richard Schouten; Argumento: Roy Moore; Música: Carl Zittrer; Fotografia: Reginald H. Morris [filmado em Panavision]; Montagem: Stan Cole; Direcção Artística: Karen Bromley; Guarda-Roupa: Debi Weldon; Caracterização: Bill Morgan; Efeitos Especiais: Warren Keillor; Direcção de Produção: David M. Robertson.
Elenco:
Olivia Hussey (Jess), Keir Dullea (Peter), Margot Kidder (Barb), John Saxon (Tenente Ken Fuller), Marian Waldman (Mrs. Mac), Andrea Martin (Phyl), James Edmond (Mr. Harrison), Doug McGrath (Sargento Nash), Art Hindle (Chris Hayden), Lynne Griffin (Clare Harrison), Michael Rapport (Patrick), Leslie Carlson (Graham), Martha Gibson (Mrs. Quaife), John Rutter (Detective a Rir), Robert Warner (Médico), Sydney Brown (Agricultor), Jack Van Evera (Equipa de Buscas), Les Rubie (Equipa de Buscas), Marcia Diamond (Mulher), Pam Barney (Jean), Robert Hawkins (Wes), David Clement (Cogan), Julian Reed (Jennings), Dave Mann (Polícia), John Stoneham Sr. (Polícia), Danny Gain (Polícia), Tom Foreman (Polícia).