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Stromboli, Terra di DioSinopse:

Na Itália, imediatamente após o final da guerra, soldados e expatriados esperam pacientemente as ordens para ser recolocados. Entre eles estão Karin (Ingrid Bergman), uma mulher de origem lituana, que quer reunir-se com amigos na Argentina, e Antonio (Mario Vitale), um soldado à espera de ser desmobilizado. Um namoro de ocasião resulta em casamento, quando Karin percebe que não tem autorização para viajar para a Argentina e vê em Antonio uma oportunidade de deixar o campo onde está obrigada a viver. Só que não sabe que Antonio vive em Stromboli, uma pequena ilha vulcânica, sem qualquer conforto ou interesse. Subjugada por uma vida que não previu, e constantemente oprimida pelo conservadorismo e preconceito das pessoas da ilha, Karin, cada vez mais decide-se em deixar a ilha e o marido.

Análise:

“Stromboli” foi o primeiro de seis filmes de Roberto Rossellini tendo por protagonista a famosa actriz sueca, Ingrid Bergman. É conhecida a história de Bergman que, ao ver “Roma, Cidade Aberta” e “Libertação”, escreveu ao realizador italiano congratulando-o e oferecendo-se para participar num dos seus filmes. Quando em 1949 Rossellini procurava, nos Estados Unidos, financiamento para mais um filme, a oportunidade concretizou-se. Financiado pela companhia Berit (montada por Rossellini e Bergman) e pela RKO Pictures de Howard Hughes, o filme teria também uma versão americana cuja montagem fugiu ao controlo do realizador.

Ao mesmo tempo Rossellini e Bergman começavam uma relação amorosa, e a actriz deu à luz o primeiro filho do casal, quando ambos estavam ainda casados com outras pessoas. Tal provocou um escândalo que prejudicou as carreiras de Rossellini e Bergman nos Estados Unidos.

Filmado em cenários naturais, na ilha vulcânica de Stromboli (uma pequena ilha a norte da Sicília), Rossellini usou actores não profissionais, com os habitantes da ilha a representarem-se a si próprios. Com a fotografia austera habitual no realizador italiano, o filme centra-se nas condições de vida da pequena ilha, onde os homens pescam, e as mulheres esperam em casa, num tipo de vida com raizes que se perdem no tempo. O estilo realista de Rossellini é apenas traído pelo modo impecável como Ingrid Bergman se apresenta. Destaque ainda para o italiano bastante razoável da actriz, num filme onde o dialecto local é também predominante.

“Stromboli” tem, por isso também, um valor documental. Rossellini filma a vida na remota ilha e, quase como se documentasse em tempo real, mostra-nos momentos marcantes do quotidiano, como a pesca do atum, a erupção vulcânica (que aconteceu de facto durante as filmagens), ou a fuga dos habitantes para os barcos até o vulcão acalmar.

Neste contexto Rossellini filma a história de uma mulher, que vem viver para a ilha sem saber o que a espera. Com a ajuda do Padre, Karin (Ingrid Bergman) tenta compreender o marido Antonio (Mario Vitale) e agradar-lhe, para que a sua espera até ao ansiado dia da partida pareça menos dolorosa. Mas Antonio, à imagem das pessoas de Stromboli, embora viva sob a ameaça mortal do vulcão, não tenciona partir, pois o seu apego à terra e tradição superam toda a racionalidade.

Esta mentalidade é espelhada naqueles que viveram longe (por exemplo nos Estados Unidos) e regressaram para morrer ali. É uma abnegação e resistência sem explicação, mostrada na labuta diária e na resignação ao poder do vulcão, apenas com a fé e tradição do povo que nunca conheceu outra realidade.

Karin, habituada a uma vida de luxo, é uma verdadeira outsider a este modo de viver e sentir. Por isso nunca consegue uma verdadeira comunicação com Antonio. Onde ela precisa de liberdade, ele quer que ela se vista como as outras mulheres. Onde ela tenta embelezar a casa, ele procura manter os rituais e altares de família. Onde ela vê inocência, ele teme maldade e a má língua do seu povo.

Sem planos, luz ou interpretações encenados, Rossellini filmou sem um argumento rígido, deixando-se levar pelos acontecimentos, e criando assim um filme que marca pela sua força natural, pelo carácter espartano dos cenários, e pelo drama sincero que nos é trazido por Ingrid Bergman.

Ingrid Bergman, com uma interpretação notável, em que encarna o desespero e frustração da sua personagem com elegância, venceria o Nastro d’Argento de 1951 para melhor actriz estrangeira.

Produção:

Título original: Stromboli Terra Di Dio; Produção: Berit Films / RKO Radio Pictures; País: Itália / EUA; Ano: 1950; Duração: 96 minutos; Distribuição: Cinecittà (Itália), RKO Radio Pictures (EUA); Estreia: Setembro de 1950 (Festival de Veneza, Itália), 23 de Novembro de 1950 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Roberto Rossellini; Produção: Roberto Rossellini; História: Roberto Rossellini, Sergio Amidei, Gian Paolo Callegari, Art Cohn, Renzo Cesana; Argumento: Roberto Rossellini [não creditado], Félix Morlión; Fotografia: Otello Martelli (preto e branco); Montagem: Jolanda Benvenutti; Música: Renzo Rossellini; Assistentes de Realização: Marcello Caracciolo Di Laurino; Caracterização: Mel Berns; Direcção de Orquestra: Constantin Bakaleinikoff.

Elenco:

Ingrid Bergman (Karin), Mario Vitale (Antonio), Renzo Cesana (O Padre), Mario Sponzo (O Guarda do Farol).