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Klaus

Devido à sua incapacidade por se interessar por qualquer emprego, Jesper (Jason Schwartzman) é enviado pelo seu pai como carteiro para uma aldeia numa ilha remota, perto do Pólo Norte. Ao chegar, Jesper apercebe-se de que a aldeia vive numa constante mortal guerra entre duas famílias, e onde ninguém precisa de um posto de correios. Apostado em fazer algo que lhe valha poder voltar a casa, Jesper tem um golpe de sorte ao perceber que os miúdos adoram os brinquedos de um velho carpinteiro chamado Klaus (J.K. Simmons), que vive na montanha próxima perto da aldeia.

Análise:

Produção anglo-espanhola para a Netflix, “Klaus” nasceu da inspiração de Sergio Pablos, que aqui se estreou na realização, coadjuvado Carlos Martínez López. Reunindo uma equipa de estrelas norte-americanas para darem voz aos bonecos que nos vão explicar alguns dos mitos do Natal, Pablos centrou a produção no estúdio que o próprio montou em em Madrid. Aí, o animador e realizador espanhol, veterano das animações da Disney, pode dar largas ao seu designio, voltar à animação tradicional, isto é sem o uso de imagens geradas em computador.

Para tal, Sergio Pablos construiu a história de Jesper (Jason Schwartzman), o filho de um rico e importante chefe de companhia postal, que dada a sua preguiça e gosto pelo ócio, não tem qualquer interesse por nada, sendo sempre o pior nos testes que o pai lhe impõe para fazer dele membro da companhia. Como castigo e lição, Jesper é enviado como carteiro para a remota Smeerensburg, a qual fica numa desconhecida ilha do círculo polar Ártico. Mas ao chegar, Jesper descobre que a aldeia é pasto para o ódio de duas famílias – os Krum e os Ellingboe –, que vivem em guerra e não permitem que nada ali floresça. Num golpe de sorte, Jesper vai conhecer o lenhador Klaus (J. K. Simmons), o qual tem um armazém cheio de brinquedos, um dos quais vai parar em casa de uma criança que tinha perdido um desenho, que Jesper queria usar como exemplo para um envio por correio. Quando a criança espalha o boato de que enviar uma carta resulta em receber brinquedos, Jesper fica com o posto cheio, passando a ajudar o velho Klaus nas entregas nocturnas. O entusiasmo leva mesmo a criançada a querer aprender a escrever, o que tem como resultado a reabertura da escola de Alva (Rashida Jones) – uma professora desiludida que desejava abandonar a aldeia. Resta apenas convencer os adultos, uma vez que a nova ordem criada por Jesper veio trazer paz e alegria entre crianças que eram educadas para serem inimigas. Mesmo com Klaus e Alva pensarem que Jesper os traiu, e fez tudo apenas para poder regressar à cidade, este vai mostrar-lhes que está para ficar, e que o poder dos gestos altruístas pode mesmo mudar o mundo.

Feito de personagens angulares, paisagens imponentes, e velocidades vertiginosas – quer nas quedas de trenós ou nas lutas entre Krums e Ellingboes – “Klaus” mostra a sua inspiração Disney, mas com um toque de uma maior inocência, mesmo a nível técnico, ao mesmo tempo que acrescenta alguma inventividade que vai além do “bonitinho” da Disney, e que, aqui e ali, lembra um pouco Tim Burton.

Excelentemente desenhado e realizado, o filme de Sergio Pablos tem uma mensagem natalícia clara, a de que gestos de boa vontade são contagiosos e poderão melhorar os comportamentos humanos. Para tal, Pablos conta-nos uma história de um feudo milenar, o qual será definitivamente enterrado, graças às crianças, as únicas com inocência suficiente para questionarem ódios de que ninguém já recorda a origem, e com abertura suficiente para aceitarem uma simples ideia de alguém de fora: o uso do correio. Com essa base, Pablos segue depois uma espécie de checklist, que cumpre um objectivo simples, mostrar-nos a origem das convenções associadas ao Pai Natal.

Trata-se, obviamente de um Pai Natal norte-americano, aquele vestido de vermelho pela Coca-Cola, e que hoje é a sua representação mais facilmente reconhecida. Assim, entre peripécias e desventuras, é-nos, episódio a episódio, explicado porque o Pai Natal usa um trenó de renas, porque se crê que elas voem, porque distribui presentes, porque entra pelas chaminés, e porque gosta de leite e bolachinhas. Nessa necessidade de cumprir todos os pontos que a miudagem associa ao Pai Natal, não falta o seu tradicional Ho-Ho-Ho!

Mas, história – bem-conseguida – à parte, o que conta é o entretenimento sempre vivo, a mensagem clara e eficaz, e uma multitude de cenas aventurosas e divertidas que fazem do filme uma experiência tão agradável como, por vezes, comovente. Não estranha por isso que, “Klaus” tenha vencido sete prémios nos Annie Awards (prémios para cinema de animação), incluindo o de Melhor Filme de 2019, prémio que acumulou com o de Melhor Filme de Animação nos britânicos BAFTA. Já nos Oscars, “Klaus” fez história por estar – em conjunto com “Mr. Link” (Missing Link, 2019), de Chris Butler, e com “J’ai perdu mon corps” (2019), de Jérémy Clapin – entre as primeiras nomeações de sempre da Netflix. O filme viria, no entanto, a perder o galardão para “Toy Story 4” (2019), de Josh Cooley.

Imagem de "Klaus" (2019), de Sergio Pablos

Produção:

Título original: Klaus; Produção: The SPA Studios / Atresmedia Cine; Produtores Executivos: Warren Franklin; País: Espanha/Reino Unido; Ano: 2019; Duração: 98 minutos; Distribuição: Netflix (EUA), Altitude Films (Reino Unido), TriPictures (Espanha); Estreia: 8 de Novembro de 2019 (Canadá, Espanha, EUA, Irlanda, Reini Unido).

Equipa técnica:

Realização: Sergio Pablos, Carlos Martínez López (co-realizador); Produção: Jinko Gotoh, Sergio Pablos, Marisa Roman, Matthew Teevan, Mercedes Gamero, Mikel Lejarza, Gustavo Ferrada; Produtora Associada: Mary Anderson; Argumento: Sergio Pablos, Jim Mahoney, Zach Lewis [a partir de uma história de Sergio Pablos]; Música: Alfonso G. Aguilar; Orquestração: ; Fotografia: [digital, DeLuxe]; Supervisão de Animação: Torsten Schrank (Personagens), Armen Melkonian (Layout), Jean-Lic Serrano (Layout), Gabriel Gomez (Background);Montagem: Pablo García Revert ; Design de Produção: Szymon Biernacki, Marcin Jakubowski; Direcção de Produção: Pilar Cubría.

Elenco:

Jason Schwartzman (Jesper – voz), J. K. Simmons (Klaus – voz), Rashida Jones (Alva – voz), Will Sasso (Mr. Ellingboe – voz), Neda Margrethe Labba (Márgu – voz), Sergio Pablos (Pumpkin / Olaf – voz), Norm MacDonald (Mogens – voz), Joan Cusack (Mrs. Krum – voz), Evan Agos (Rapaz Ellingboe – voz), Sky Alexis (Rapariga Ellingboe 2 – voz), Jaeden Bettencourt (Rapaz Krum / Filho de Jesper – voz), Teddy Blum (Miúdo Ellingboe – voz), Mila Brener (Rapariga Ellingboe 3 – voz), Sydney Brower (Ellingboe Girl – voz), Finn Carr (Rapaz Ellingboe 1 – voz) Kendall Joy Hall (Annelise – voz), Hailey Hermida (Rapariga Krum 1 – voz) Vozes Adicionais: Lexie Holland, Brooke Huckeba, Matthew McCann, Tucker Meek, Leo Miller, Joaquin Obradors, Víctor Pablos, Lucian Perez, Bailey Rae Fenderson, Maximus Riegel, Emma Shannon, Ayden Soria, Sunday Sturz, Hudson West, Gordon Wilcox, Emma Yarovinsky, Julian Zane Chowdhury, Brad Abrell, Cathy Cavadini, Bill Chott, Daniel Crook, Brian T. Finney, Stephen Hughes, Neil Kaplan, Sam McMurray, Amanda Philipson, Alyson Reed, DeeDee Rescher, Dwight Schultz, Lloyd Sherr , Helen Slayton-Hughes, Travis Willingham, Reiulf Aleksandersen, Sara Margrethe Oskal.

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