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Riso AmaroSinopse:

Todos os anos, na Primavera, no norte de Itália, milhares de mulheres se reúnem para a sazonal apanha do arroz. Num desses campos Silvana (Silvana Mangano) vê juntar-se-lhe como companhia, Francesca (Doris Dowling), uma mulher em fuga após um roubo de jóias que perpretou com o seu cúmplice Walter (Vittorio Gassman). Silvana começa por não compreender Francesca, pensando denunciá-la, mas acaba seduzida por Walter que lhe promete as jóias, se esta o ajudar. A luta de vontades entre Silvana e Francesca vai então confundir-se na labuta diária dos campos de arroz

Análise:

“Arroz Amargo” (em italiano “Riso Amaro”, que também pode significar “Riso Amargo”) foi o terceiro filme de Giuseppe De Santis. Tal como o seu “Caccia Tragica”, mostrou a propensão do autor em filmar temas relacionados com a ruralidade italiana. Depois da reforma agrária era a vez dos campos de arroz, numa história de maior cariz dramático e pessoal.

De facto, De Santis, com argumento escrito em colaboração com Carlo Lizzani e Gianni Puccini, construiu um filme que, apesar de seguir a regra máxima do Neo-realismo, que é o olhar comprometido com a consciência social, torna essa realidade rural um pano de fundo sobre o qual decorre uma história de pessoas singulares. E esta é uma história de paixões, cobiças, e lutas pela redescoberta e redefinição pessoais.

Tudo se passa durante a sazonal apanha do arroz, que, como nos é narrado em voz off, todos os anos, na Primavera, atrai mulheres de todos os pontos do norte de Itália. Estas são agricultoras, operárias em fábricas, costureiras, ou simples domésticas, que durante algumas semanas se sujeitam a um trabalho mais pesado em troca de um salário extra, no geral pago em arroz.

É um trabalho exclusivamente de mulheres, pela necessidade da delicadeza das mãos femininas no tratamento de uma planta sensível. Tal coloca a ênfase no papel da mulher, símbolo de vida e nascimento, símbolo de uma luta primordial e de alegria interna. Por isso, o filme, visto pela perspectiva feminina dos ritmos do trabalho, pautados pelos cantares, que marcam os bons e maus momentos, numa linguagem e beleza muito próprias.

Símbolo de vida, de alegria (mostrada na dança, quase num paralelo de antigas danças rituais de sagração da Primavera) e de feminilidade, é Silvana (Silvana Mangano). Exalando sensualidade a cada movimento, Silvana é o pólo de atracção que define os acontecimentos. É ela quem marca os estados de espírito no campo (por exemplo a luta entre as “regulares” e aquelas que surgiram sem contrato), quem põe a ladra Francesca (Doris Dowling) a repensar a sua vida, e quem é o alvo da atenção dos dois homens, Marco (Raf Vallone) e Walter (Vittorio Gassman).

Começando como uma história de crime (a fuga de dois ladrões após um roubo de jóias no Grand Hotel), o filme é absorvido pela força de Silvana. O filme torna-se então quase um veículo para Silvana Mangano. Sedutora nas suas danças (repare-se como marcam os dois encontros com Walter, que definem as mudanças no rumo da história), inocente de um modo juvenil nas ideias e sonhos, confusa com a realidade que tem perante a si (por exemplo no destino a dar a Francesca), fácil de seduzir e de ludibriar, são sempre os seus passos que conduzem cada novo desenvolvimento.

Francesca (Doris Dowling, com dobragem de voz de Andreina Pagnani) é o contraponto de Silvana, a mulher de passado duvidoso, que busca a redenção. É no vigor do trabalho e no companheirismo do campo que Francesca procura merecer a sua redenção. Pelos olhos de Silvana, Francesca vê os erros passados, e decide a mudança, que se concretiza ao mudar o seu afecto de Walter para Marco.

Num mundo de mulheres, são as acções dos homens que acabam por ditar o destino de cada uma. Como se cada mulher (Silvana e Francesca) fossem marcadas pelo homem que escolheram. Neste sentido, Marco (o ex-militar, de boa consciência) é o homem leal, capaz de trazer a felicidade, e Walter a promessa de sonhos impossíveis, escondidos em desilusão, e catalizadores da desgraça.

Com um filme todo ele filmado em cenários naturais, Giuseppe De Santis presta homenagem às mulheres, e ao trabalho rural, não dispensando a caracterização das condições (por vezes trágicas) por elas vividas. Seja nos cantares, nas danças de campo, no ritmo de trabalho, ou nas suas preocupações diárias, a história é uma explosão de vitalidade e feminilidade pura, sem sofisticações artificiais.

Pelo seu enredo de conflitos passionais mesclados com uma história de crime, o filme foi um dos maiores sucessos internacionais do cinema italiano da época, e o primeiro filme neo-realista a ser verdadeiramente aclamado em Itália. Apresentado no Festival de Cannes, “Arroz Amargo” foi ainda nomeado aos Oscars de Hollywood.

Curiosamente, Silvana Mangano, que De Santis considerava a Rita Hayworth italiana, não usa a sua própria voz no filme, sendo dobrada por Lydia Simoneschi, que no total a dobraria em 10 filmes. A verdadeira voz de Silvana Mangano pode no entanto ser ouvida nas sequências de canto. Na versão inglesa, a actriz é dobrada por Bettina Dickson.

Produção:

Título original: Riso Amaro; Produção: Lux Film; País: Itália; Ano: 1949; Duração: 104 minutos; Distribuição: Lux Film (Itália), Lux Film Distributing Corporation (EUA); Estreia: 21 de Setembro de 1949 (Itália), 1 de Janeiro de 1951 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Giuseppe De Santis; Produção: Dino De Laurentiis; História: Corrado Alvaro, Giuseppe De Santis, Carlo Lizzani, Gianni Puccini; Argumento: Giuseppe De Santis, Carlo Lizzani, Carlo Musso, Ivo Perilli, Gianni Puccini, Mario Monicelli [não creditado]; Fotografia: Otello Martelli (preto e branco); Assistentes de Realização: Basilio Franchina, Gianni Puccini; Montagem: Gabriele Varriale; Caracterização: Amato Garbini; Figurinos: Anna Gobbi; Directores de Produção: Luigi De Laurentiis, Fernando Pisani; Música: Goffredo Petrassi; Direcção de Orquestra: Fernando Previtali.

Elenco:

Vittorio Gassman (Walter), Doris Dowling (Francesca, com voz de Andreina Pagnani), Silvana Mangano (Silvana), Raf Vallone (Marco), Checco Rissone (Aristide), Nico Pepe (Beppe), Adriana Sivieri (Celeste), Lia Corelli (Amelia), Maria Grazia Francia (Gabriella), Dedi Ristori (Anna), Anna Maestri (Irene), Mariemma Bardi (Gianna), Maria Capuzzo (Giulia), Isabella Zennaro (Rosa), Carlo Mazzarella (Gianetto), Ermanno Randi, Antonio Nediani (Erminio), Mariano Englen (Cesare).