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The Thief of Bagdad Em Bagdad, Ahmed (Douglas Fairbanks), é um ladrão aventureiro, sem preocupações para obter o que quer. Isto, até ao momento em que, ao tentar assaltar o palácio do Califa (Brandon Hurst), Ahmed se esquece do roubo ao se deixar apaixonar pela princesa (Julanne Johnston). Quando o Califa chama os pretendentes à mão da princesa, Ahmed imiscui-se entre eles, mas ao ser descoberto, a princesa recusa casar um dos outros, decidindo-se fazer um teste, no qual todos terão sete luas para trazer o mais raro dos tesouros e assim conquistar a mão da princesa.

Análise:

Depois de os filmes “O Sinal de Zorro” (The Mark of Zorro, 1920), “Os Três Mosqueteiros” (The Three Musketeers, 1921) e “Robin dos Bosques” (Robin Hood, 1922) solidificarem a carreira de Douglas Fairbanks e a estabelecerem o marco a bater nos filmes de grande aventura, este actor e produtor foi ainda mais longe, naquele que é para muitos a sua verdadeira obra-prima. Continuando a procurar inspiração em personagens literárias, de preferência referências universais, Fairbanks olhou desta vez para “As Mil e uma Noites”. De lá retirou a figura de “O Ladrão de Bagdad” por ele tornado um destemido herói romântico, num mundo cheio de fantasia e exotismo em atmosfera lírica dos contos de fadas. Era mais uma vez campo para Fairbanks explanar a sua visão para um grande cinema de aventuras maiores que a vida, com mais uma interpretação fortemente dependente do seu desempenho físico, pleno de elasticidade e elegância felina. Produzido pela sua Douglas Fairbanks Productions, a partir de uma ideia do próprio Fairbanks, o filme seria distribuído pela então jovem United Artists, a companhia que fundou com Mary Pickford, Charles Chaplin e D. W. Griffith.

O titular Ladrão de Bagdad é Ahmed (Douglas Fairbanks), um aventureiro sempre de sorriso nos lábios, que vai passando pela vida com pequenos furtos na movimentada cidade de Bagdad. Mas numa noite, ao entrar no palácio do Califa (Brandon Hurst) para roubar, Ahmed apaixona-se pela princesa adormecida (Julanne Johnston), sendo descoberto pela aia desta mongol (Anna May Wong) e forçado a fugir. Quando o Califa chama os príncipes vizinhos para procurar noivo para a filha, chegam três pretendentes, entre eles o príncipe mongol, decidido a tomar Bagdad, caso não obtenha a mão da princesa. Uma vidente (Tote Du Crow) diz à princesa que esta desposará o homem que tocar a roseira do jardim. Para alívio da princesa, nenhum dos três príncipes o faz. Mas então surge um quarto pretendente não anunciado, que não é mais que o ladrão Ahmed, disfarçado, e esse leva uma rosa à princesa, que se apaixona por ele. A princesa escolhe Ahmed, mas a escrava mongol reconhece-o como o ladrão da noite anterior, e ele é preso e chicoteado, acabando por fugir com auxílio da princesa que lhe diz que o ama. Instigada a escolher novo noivo, a princesa decide enviá-los numa, prometendo desposar quem lhe trouxer o tesouro mais raro.

Quanto a Ahmed, procura refúgio na mesquita, aconselhando-se com o imã (Charles Belcher) este diz-lhe que, se quer a princesa, deve tornar-se um príncipe, e Ahmed parte também na busca. Por seu lado, o Príncipe da Pérsia (Mathilde Comont) compra um tapete voador; o Príncipe da Índia (Noble Johnson) obtêm, do olho de um ídolo gigante, uma bola de cristal que permite ver o que se pretende; e o Príncipe mongol obtém uma pera que cura todos os males, ao mesmo tempo que organiza a tomada de Bagdad, e manda envenenar a princesa. Já Ahmed, depois de ultrapassar vários perigos e de vencer vários monstros (um lagarto, um vampiro e uma aranha gigantes) obtém um manto de invisibilidade e um baú de pó mágico que transforma o que quisermos. Quando os príncipes se voltam a reunir, vêem na bola de cristal que a princesa está doente, e voam para ela no tapete voador, curando-a com a pera mágica, assim mostrando que todos os tesouros foram importantes. Cansado de esperar, o Príncipe mongol inicia o ataque à cidade, mas à sua chegada, Ahmed faz um exército com o seu pó mágico, salvando Bagdad, por fim salvando a princesa quando o mongol a ia raptar no tapete voador.

Subintitulado “Uma fantasia das Mil e uma Noites”, o filme realizado por Raoul Walsh começa (e termina) com um mago que mostra a um discípulo, escrito nas estrelas, que a felicidade é algo que se conquista, ideia essa reforçada no final, numa espécie de vinco do sonho americano. Esse conto de fantasia encontra na super-produção de Douglas Fairbanks um eco à sua altura. É de facto uma produção exemplar, que nos mostra uma Bagdad (fictícia, é claro, e como que tirada de um livro infantil) sumptuosamente rica e fascinante. Com várias dezenas de cenários diferentes, muitos deles grandiosos (e de alturas impressionantes, que parecem esmagar as pequeninas personagens), vemos as ruas da cidade, o interior do palácio, mas também diversos outros interiores, cavernas, montanhas, desertos, etc. sempre numa atmosfera de um rico e delicado exotismo. A isto junta-se os citados monstros, e os muitos efeitos especiais: da corda no início ao tapete sobrevoando a cidade, no fim, passando, claro pelo manto de invisibilidade. É um festival de sobreexposição, sempre com uma enorme qualidade, que faz inveja a muito do blue/green screen que se fazia até recentemente. Temos ainda o incrível guarda-roupa, e toda a quantidade de adereços, para não falar ainda do número de figurantes usado, e percebemos a grendeza da produção.

Mas nada disto resultaria, se o filme não cativasse desde o primeiro momento. Graças ao magnetismo de Douglas Fairbanks, o seu ladrão de Bagdad é um aventureiro inocente, de saltos felinos, e movimentos esguios, sempre bem disposto – uma espécie de Charlot galante e conquistador, de actos maiores que a vida. É ele que, ao trocar a carreira de pequeno assaltante por um amor impossível, dá rumo à história, que será de muitas aventuras e um final de salvamento: da cidade, e claro, da sua amada.

Fortemente expositivo – o filme retarda o passo muitas vezes, para nos explicar bem todas as motivações e caminhos –, dependendo muito dos intertítulos, “O Ladrão de Bagdad” tem cerca de duas horas e meia, havendo uma clara intenção de deixar o espectador beber com calma de toda a novidade que é “visitar” um mundo até aí apenas imaginado. Tingido de amarelo para os interiores e de azul para as cenas nocturnas, o filme mostra uma extraordinária qualidade de fotografia. Tendo levado apenas 35 dias a filmar, com um orçamento de perto de dois milhões de dólares, “O Ladrão de Bagdad” é um dos grandes filmes da década de 1920, com Douglas Fairbanks a citá-lo como o seu preferido dos muitos que filmou.

O filme, que foi já alvo de várias restaurações – a visionada para este texto é de 2012, pela Modern Videofilm, a partir dos negativos de 35 mm, e com música de Carl Davis, a partir da peça “Xerazade” de Nikolai Rimsky-Korsakov –, é ainda notável pela inclusão de vários actores asiáticos, principalmente Anna May Wong, que teria uma carreira interessante depois disso. Também invulgar foi a opção de colocar uma mulher (Mathilde Comont) no papel do Príncipe Persa.

Embora com o mesmo título, a produção britânica de Alexander Korda em 1940 (realizado por Ludwig Berger, Michael Powell e Tim Whelan), mantendo a mesma grandiosidade e propósitos de espectacularidade, conta uma história completamente diferente.

Anna May Wong e Douglas Fairbanks em "O Ladrão de Bagdad" (The Thief of Bagdad, 1924), de Raoul Walsh

Produção:

Título original: The Thief of Bagdad; Produção: Douglas Fairbanks Pictures; País: EUA; Ano: 1924; Duração: 148 minutos; Distribuição: United Artists; Estreia: 18 de Março de 1924 (EUA), 27 de Dezembro de 1926 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Raoul Walsh; Produção: Douglas Fairbanks; Argumento: Achmed Abdullah, Lotta Woods [adaptado por James T. O’Donohoe]; História: Douglas Fairbanks [como Elton Thomas]; Música (versão restaurada): Carl Davis [baseado em Rimsky-Korsakov]; Fotografia: Arthur Edeson [preto e branco]; Montagem: William Nolan; Direcção Artística: William Cameron Menzies; Figurinos: Mitchell Leisen; Caracterização: George Westmore; Efeitos Especiais: Hampton Del Ruth, Coy Watson Sr.; Direcção de Produção: Theodore Reed.

Elenco:

Douglas Fairbanks (Ahmed, O Ladrão de Bagdad), Snitz Edwards (Aliado do Ladrão), Charles Belcher (O Homem Santo), Julanne Johnston (A Princesa), Sôjin Kamiyama (O Príncipe Mongol), Anna May Wong (Escrava do Príncipe), Brandon Hurst (O Califa), Tote Du Crow (A Vidente), Noble Johnson (O Príncipe Indiano), Mathilde Comont (O Príncipe da Pérsia) [não creditada], Sam Baker (O espadachim) [não creditado], Sadakichi Hartmann (O Mágico da Corte) [não creditado], Laska Winter (A Escrava com o Alaúde) [não creditada].