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My Father's Dragon Elmer (voz de Jacob Tremblay) é um menino que vive feliz com a sua mãe, Dela (voz de Golshifteh Farahani), ajudando-a na sua loja na aldeia de província. Mas uma crise financeira abala o seu mundo, e a loja fecha, com mãe e filho a terem de se mudar para a grande cidade de Nevergreen. Aí, perante o adiado sonho de voltarem a ter uma loja, Elmer sente-se traído, revolta-se e foge de casa na companhia da sua gata (voz de Whoopy Goldberg), a qual lhe fala de um dragão numa ilha mágica, e o faz viajar no dorso de uma baleia para convencer o dragão a ajudá-lo.

Análise:

Quinta longa-metragem produzida pela Cartoon Saloon, “My Father’s Dragon” foi também a segunda realizada por Nora Twomey, na primeira colaboração da produtora irlandesa com a gigante norte-americana Netflix. Com argumento de Meg LeFauve e história da mesma co-escrita com John Morgan (a quem o filme é dedicado por ter morrido antes da sua estreia), o filme inspira-se no livro infantil do mesmo nome, da autoria de Ruth Stiles Gannett.

“My Father’s Dragon” conta-nos a história de Elmer (voz de Jacob Tremblay), um rapazinho que vive feliz com a sua mãe, Dela (voz de Golshifteh Farahani), ajudando-a na sua loja na aldeia de província. Quando uma crise financeira destrói muito do tecido económico do país, Dela é forçada a fechar a loja e mudar-se com Elmer para a impessoal cidade de Nevergreen. Com a tristeza nos olhos de Elmer, a mãe promete-lhe que um dia abrirão nova loja. Mas as condições parcas em que vivem adiam esse sonho, e Elmer começa a sentir-se defraudado. É então que ouve uma gata falar (voz de Whoopy Goldberg), a qual o conduz ao cais, na promessa de lhe conseguir um dragão que o ajude a ganhar dinheiro. De repente, Elmer cavalga no dorso de uma baleia (voz de Judy Greer) que o conduz a uma ilha mágica, a qual corre o risco de se afundar, salvando-se só porque o dito dragão, de nome Boris (voz de Gaten Matarazzo), a eleva periodicamente. Querendo levar Boris consigo, Elmer convence-o de que está a ser usado pelos animais da ilha, e é hora de impôr a sua vontade. Isto irrita os restantes animais que, liderados pelo gorila Saiwa (voz de Ian McShane), perseguem o par para manter o dragão na ilha.

No seu jeito peculiar de unir realismo e alguma fantasia, Nora Twomey conta-nos uma mais uma história pelos olhos de uma criança, depois do mesmo ter sido feito com a afegã Parvana de “A Ganha-Pão” (The Breadwinner, 2017). Desta vez, e talvez devido à presença da Netflix, que seria a principal distribuidora do filme, depois de este ter uma breve passagem pelos cinemas da Irlanda, Reino Unido e Estados Unidos, a história tem uma menor carga dramática, e um maior apelo juvenil. Mesmo partindo de uma crise familiar e de um filho desiludido por não compreender as prioridades da sua mãe, o grosso do filme passa-se numa fantasia aventureira numa ilha onde os animais falam. É como se tivéssemos penetrado em território Disney (ou Pixar, se quisermos), com múltiplas peripécias, antagonistas trapalhões e coadjuvantes cómicos, como é o caso do dragão Boris, num excelente trabalho de vozes de Gaten Matarazzo, o conhecido Dustin da série televisiva “Stranger Things”.

O filme não deixa de ser uma aventura de descoberta interior, na qual vai compreender. E se Elmer, inicialmente, ao convencer Boris que está a ser usado pelos animais da ilha, o faz porque também ele o quer usar, é ao perceber o verdadeiro valor da amizade que Elmer contribui para a solução, desobriga Boris de o ajudar e pode voltar a casa mais adulto, mais capaz de compreender a sua mãe. Mas “My Father’s Dragon” mantém sempre um lado juvenil onde são as ditas peripécias e idiossincrasias das personagens a arrancar risos, esquecendo por vezes os temas principais da história. Nesse sentido, o filme distingue-se dos seus quatro antecessores, no que, repita-se, será certamente um efeito dessa parceria com a Netflix.

Com um design que lembra muito “A Ganha-Pão”, uma animação que se afasta da habital lógica de cenários e movimentos em duas dimensões, típica da Cartoon Saloon, e um final feliz apressado que ignora todas as tensões iniciais, o filme de Nora Twomey surge numa atitude mais convencional, quando por convencional se pensa na animação dos grandes estúdios de Hollywood.

Ironicamente (ou talvez não), ao caminhar nessa uniformização de animação e temas, “My Father’s Dragon” foi o primeiro filme da produtora irlandesa a não receber uma nomeação para os Oscars de Hollywood.

Imagem de "My Father's Dragon" (2022), de Nora Twomey

Produção:

Título original: My Father’s Dragon; Produção: Mockingbird Pictures / Cartoon Saloon / Netflix Animation; Produtores Executivos: Meg LeFauve, John Michael Morgan, Tomm Moore, Gerry Shirren, Ruth Coady, Alan Moloney; País: Irlanda / EUA; Ano: 2022; Duração: 103 minutos; Distribuição: Netflix; Estreia: 8 de Outubro de 2022 (BFI Film Festival, Reino Unido), 4 de Novembro de 2022 (Irlanda, Reino Unido).

Equipa técnica:

Realização: Nora Twomey; Produção: Bonnie Curtis, Julie Lynn, Paul Young; Produtora em Linha: Zahra Dowlatabadi; Argumento: Meg LeFauve; História: Meg LeFauve, John Michael Morgan [a partir do livro de Ruth Stiles Gannett]; Música: Jeff Danna, Mychael Danna; Montagem: Richie Cody, Darren T. Holmes; Design de Personagens: Sandra Norup Andersen; Design de Produção: Rosa Ballester-Cabo; Direcção Artística: Áine McGuinness; Direcção de Animação: Giovanna Ferrari; Efeitos Visuais: Narissa Schander; Direcção de Produção: Katja Schumann.

Elenco de vozes:

Jacob Tremblay (Elmer Elevator), Gaten Matarazzo (Boris, o Dragão), Whoopi Goldberg (O Gato), Ian McShane (Saiwa, o Gorila), Golshifteh Farahani (Dela Elevator), Dianne Wiest (Iris, o Rinoceronte), Rita Moreno (Mrs. McClaren), Chris O’Dowd (Kwan, o Macaco), Judy Greer (Soda, a Baleia), Alan Cumming (Cornelius, o Crocodilo), Yara Shahidi (Callie), Jackie Earle Haley (Tamir, o Társio), Mary Kay Place (Narradora), Leighton Meester (Sasha, o Tigre), Spence Moore II (George, o Tigre), Adam Brody (Bob), Charlyne Yi (Magda), Jack S.A. Smith (Eugene), Maggie Lincoln (Gertie).