Etiquetas

, , , , , , , , , ,

The Mark of Zorro Com a Califórnia espanhola a ser explorada despoticamente por governadores ambiciosos, o mascarado Zorro surge como herói do povo, castigando quem oprime os sofredores. Procurado pelas autoridades, ninguém sabe que Zorro é Don Diego Vega (Douglas Fairbanks), um jovem aparentemente preguiçoso e sem interesse por nada, filho de um aristocrata local. Don Diego corteja sem sucesso Lolita Pulido (Marguerite De La Motte) a qual está enamorada do intrépido Zorro, quando os Pulidos são presos por ajudar um frade caído em desgraça. Resta a Zorro mover todos os homens livres para salvar os Pulidos e depôr o corrupto governador.

Análise:

Estabelecida em 1917, a Douglas Fairbanks Pictures Corporation, veículo da estrela Douglas Fairbanks para produção dos seus filmes, contava já com dezena e meia de títulos ao chegar a 1920. Eles eram na sua maioria histórias romanescas de aventura ligeira, por vezes de tom romântico, tocando o western e a exploração dos Estados Unidos. Mas em 1920 a fasquia subiu, quando Douglas Fairbanks produziu, escreveu e interpretou a personagem de Zorro, num filme realizado por Fred Niblo para a United Artists (a distribuidora que o próprio Fairbanks fundara no ano anterior, com Mary Pickford, Charles Chaplin e D. W. Griffith) e que dava uma dimensão superior à persona maior que a vida que Fairbanks iria simbolizar daí em diante

Esta primeira adaptação cinematográfica da história “The Curse of Capistrano”, que Johnston McCulley publicara em 1919, transporta-nos para a Califórnia do início do século XIX, ainda uma província colonial de Espanha, lugar descrito como de opressão sobre o povo. Mas os opressores têm uma espinha encravada na garganta: Zorro, o aventureiro mascarado que castiga todos os que tratam mal esse povo. Procurado pelas autoridades em vão, Zorro é a identidade secreta de Don Diego Vega (Douglas Fairbanks), filho de um aristocrata local, e recentemente chegado de Espanha onde esteve a estudar. E para o seu pai, o importante é casar Don Diego, para continuar o nome Vega, e propõe a união com a família Pulido. Encontrada Lolita Pulido (Marguerite De La Motte), Don Diego revela-se um preguiçoso sonolento, contrastando com o galanteio de Zorro, por quem Lolita já se apaixonou. Seguem-se exemplos da prepotência das autoridades, com o castigo do humanista Frei Felipe (Walt Whitman), a insurgência dos Pulidos em sua defesa, que lhes vale a prisão, e a maldade do Capitão Ramon (Robert McKim), que quer tomar Lolita à força. Zorro decide então arregimentar os caballeros da região para lhes mostrar que juntos poderão depôr a tirania do governador (George Periolat). Assaltada a prisão, e salvos os Pulido, Ramon, imiscuindo-se na revolta rapta Lolita, mas Zorro resgata-a e leva-a para a sua casa. Invadida a casa pelos soldados do governador, Zorro revela-se então como Don Diego, vence Ramon, e com a chegada dos seus companheiros consegue a deposição do Governador, além do reconhecimento do pai e do amor de Lolita.

A história de Zorro, que hoje parece imortal, teve uma origem bem definida, e esta foi a história “The Curse of Capistrano” que Johnston McCulley escreveu para ser publicada em cinco capítulos semanais na revista “All-Story Weekly”, em 1919. O tema faz lembrar uma espécie de Robin do Bosques moderno, com um herói fora da lei que afronta os ricos e protege os pobres, aplicando-se ao México das revoluções, guerras-civis e ingerências externas da transição entre os séculos XIX e XX. Por outro lado, olhando em frente, a história de Zorro é também referida como inspiradora de Batman (supostamente foi este filme que o pequeno Bruce Wayne viu com os seus pais no cinema momentos antes do assassinato destes), sendo que a faceta do duplo amante (herói amado, anónimo ignorado) pela mesma mulher remete para a dicotomia Super-Homem/Clark Kent em face da namorada Lois Lane.

Referências externas à parte, o mais importante aqui é vermos o crescimento da figura criada por Douglas Fairbanks, indubitavelmente o primeiro grande aventureiro da história do cinema, e então com cerca de 30 filmes já por si protagonizados. Chamando a si (e através de uma produtora criada à sua imagem e que lhe servia de veículo) o papel de herói romântico, é com “O Sinal de Zorro” que Fairbanks cria definitivamente a sua persona da tela. Para trás fica o galã bidimensional prestado a simples papéis cómicos, de entra o aventureiro de épicos de capa e espada em histórias de época, geralmente adaptando clássicos literários.

Sendo já o actor mais popular de Hollywood, Fairbanks trazia agora uma dimensão de mito às suas interpretações. Como sempre, estas baseavam-se num sorriso contagiante, uma alegria pura, e uma habilidade física estrondosa, com proezas atléticas inimagináveis, do saltar ao trepar, com corridas e perseguições deliciosamente acrobáticas, sempre com um piscar de olhos à comicidade, num estilo a que hoje se chama parkour, e que terá sido algo que provavelmente o próprio Fairbanks inventou.

Com uma encenação ainda muito devedora do teatro (quase todas as sequências de interior são filmadas com uma câmara fixa dando-nos um olhar como se sobre um palco de teatro), e um enredo algo longo, cheio de desvios e caminhos paralelos, é sempre da dicotomia entre o heróico Zorro e o preguiçoso Don Diego que a história se faz. Mas mais que essa história (uma aventura romântica perfeitamente clássica, com cavalgadas a lembrar os westerns), o que fica são as acrobacias e as muitas lutas de espada nas quais Fairbanks de destaca pela agilidade e graciosidade.

Sempre a ritmo intenso, “O Sinal de Zorro” é um marco no cinema de aventuras, trazendo o género de capa e espada para entre os mais apreciados do grande público e colocando uma fasquia a ter em conta por todos os filmes de aventuras que se seguiriam. A começar pelo próprio Fairbanks, que viu neste género uma forma de se continuar a superar numa mão-cheia de títulos bem-sucedidos, e onde os feitos deste filme em particular resultaram numa esperada sequela que surgiria em 1925 sob o título “Don Q, Filho do Zorro” (Don Q, Son of Zorro), realizada por Donald Crisp.

Imagem de "O Sinal de Zorro" (The Mark of Zorro), de Fred Niblo

Produção:

Título original: The Mark of Zorro; Produção: Douglas Fairbanks Pictures Corporation; País: EUA; Ano: 1920; Duração: 167 minutos; Distribuição: United Artists; Estreia: 27 de Novembro de 1920 (EUA), 1 de Março de 1926 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Rouben Mamoulian; Produção: Douglas Fairbanks; Argumento: Douglas Fairbanks [não creditado], Eugene Miller [não creditado] [a partir da história “The Curse of Capistrano” de Johnston McCulley]; Música (versão de DVD Kino): Jon G. Marsalis; Fotografia: William C. McGann, Harris Thorpe [preto e branco]; Montagem: William Nolan [não creditado]; Direcção Artística: Edward M. Langley.

Elenco:

Douglas Fairbanks (Don Diego Vega / Señor Zorro), Marguerite De La Motte (Lolita Pulido), Robert McKim (Capitão Juan Ramon), Noah Beery (Sargento Pedro Gonzales), Charles Hill Mailes (Don Carlos Pulido), Claire McDowell (Doña Catalina Pulido), Snitz Edwards (Estalajadeiro), Sidney De Gray (Don Alejandro), George Periolat (Governador Alvarado), Walt Whitman (Frei Felipe), Tote Du Crow (Bernardo).