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Charles Crichton, Cinema, Cinema inglês, Comédia, Ealing, Farsa, George Relph, Hugh Griffith, John Gregson, Naunton Wayne, Stanley Holloway
Com a nacionalização dos comboios ingleses, os habitantes de Titfield são informados da supressão do troço que liga a sua aldeia a Mallingford. Incapazes de aceitar a razão financeira pela concorrência da companhia de autocarros Crump & Pearce, os populares decidem tomar o assunto em suas mãos. Assim, o pároco, e entusiasta de comboios, Sam Weech (George Relph), o aristocrata local e descendente dos fundadores da linha, Gordon Chesterford (John Gregson), e o milionário Walter Valentine (Stanley Holloway), fundam uma nova companhia, e começam a conduzir composições, com a ajuda do maquinista retirado Dan Taylor (Hugh Griffith).
Análise:
Filmado em Technicolor, “The Titfield Thunderbolt” foi a primeira das chamadas Ealing Comedies filmada a cores. Mais uma vez saído da pena de T. E. B. (Tibby) Clarke, o filme é outro dos seus exemplos de histórias românticas em que um grupo de cidadãos humildes se insurge contra o estado das coisas, impondo a sua ordem pelo meio de muita imaginação e voluntarismo natural. Mais uma vez, o filme foi realizado pelo maior nome da produtora: Charles Crichton
“The Titfield Thunderbolt” conta-nos a história da população da aldeia rural de Titfield, que um dia é informada de que o ramo entre as aldeias (ficionais) Titfield e Mallingford vai ser suprimido, pois não consegue competir com o novo serviço de autocarros da empresa Crump & Pearce. Isto é um rude golpe no orgulho local, e decide-se passar à acção. Sam Weech (George Relph), o pároco e entusiasta de comboios, e Gordon Chesterford (John Gregson), o aristocrata local, formam uma empresa, a Light Railway Order, financiada pelo milionário Walter Valentine (Stanley Holloway) e começam a conduzir composições, com a ajuda do maquinista retirado Dan Taylor (Hugh Griffith). A iniciativa é um sucesso e todos querem viajar no comboio de Titfield. Isso provoca o ciúme dos proprietários da companhia de autocarros Vernon Crump (Jack MacGowran) e Alec Pearce (Ewan Roberts), os quais tentam vários actos de sabotagem, por fim provocando um descarrilamento, destruindo máquina e carruagens, em véspera da inspecção que garantirá ou não a continuidade da linha. Mais uma vez os habitantes de Titfield recorrem ao seu engenho, e improvisam, uma solução, retirando o nominal Titfield Thunderbolt do museu, e usando como carruagem a improvisada casa de Dan Taylor. Já com o inspector a bordo, a viagem faz-se com muitas peripécias, mas conseguindo cumprir o horário, permitindo a Titfield manter a sua linha.
Evocativo das comédias de 1949 “Whisky Galore”, de Alexander Mackendrick, e “Passaporte para o Paraíso” (Passport to Pimlico), de Henry Cornelius, o enredo evolui como mais um “nós contra eles” tão típico da Ealing. O “nós” é a população de uma aldeia, alegre, barulhenta, generosa e solidária (uma espécie de romantismo da inocência de outros tempos, sejam eles reais ou imaginados), e o “eles” a máquina da sociedade moderna, burocrática e trituradora, capaz de suprimir uma linha por simples lucro. Nesse sentido, e num momento em que os comboios ingleses estavam em fase de nacionalização, este filme é dos mais politizados da Ealing até então, como comprovado na frase em que, constatando que o novo comboio do povo já dá lucro, alguém se queixa “se isto se sabe, ainda nos nacionalizam a companhia”.
Mas mais que mensagens políticas, o que domina o filme é o tal espírito de voluntarismo que leva um grupo de cidadãos a pôr mãos à obra para defender o seu modo de vida e orgulho local. Tudo isto é feito com muita alegria e improviso (desde o roubo de uma locomotiva a outra companhia até ao uso da casa de Dan atada com cordas à locomotiva retirada do museu). A entreajuda é a palavra de ordem, e um bom exemplo é o momento em que Crump e Pearce sabotam a torre de água, e o abastecimento do comboio é feito por populares com tachos e frigideiras. Outro exemplo é o momento de convencer o relutante operador do cilindro (Sidney James) a reparar o comboio, que até leva uma mulher a oferecer-se-lhe em casamento. O espírito jocoso do filme é aumentado pelas presenças de Stanley Holloway (vocacionado para a personagem do milionário bonacheirão dado à bebida) e de Hugh Griffith, pertencendo aos dois a sequência mais burlesca do filme, com o roubo frustrado de outra locomotiva.
Sempre a bom ritmo, e com peripécias na linha que se calhar não se viam desde “Pamplinas Maquinista” (The General, 1926), de Buster Keaton, “The Titfield Thunderbolt” é hoje bastante elogiado, embora na altura da sua estreia não fosse tão bem recebido, talvez por, entre outras coisas, porque na década de cinquenta o público já não se identificava com a nostalgia dos caminhos de ferro.
Produção:
Título original: The Titfield Thunderbolt; Produção: Ealing Studios, Michael Balcon Productions J. Arthur Rank Organisation; Produtor Executivo: Michael Balcon [não creditado]; País: Reino Unido; Ano: 1953; Duração: 80 minutos; Distribuição: General Film Distributors (GFD) (Reino Unido), Universal Pictures (EUA); Estreia: 5 de Março de 1953 (Reino Unido).
Equipa técnica:
Realização: Charles Crichton; Produção: Michael Truman; Argumento: T. E. B. Clarke; Música: Georges Auric; Direcção Musical: Ernest Irving; Fotografia: Douglas Slocombe [cor por Technicolor]; Montagem: Seth Holt; Direcção Artística: C. P. Norman; Guarda-roupa: Anthony Mendleson; Caracterização: Harry Frampton; Efeitos Especiais: Sydney Pearson, E. R. Taylor; Efeitos Visuais: Geoffrey Dickinson, Eugene Hague.
Elenco:
Stanley Holloway (Walter Valentine), George Relph (Pároco Sam Weech), Naunton Wayne (George Blakeworth), John Gregson (Gordon Chesterford), Godfrey Tearle (Ollie Matthews, O Bispo de Welchester), Hugh Griffith (Dan Taylor), Gabrielle Brune (Joan Hampton), Sidney James (Harry Hawkins), Reginald Beckwith (Coggett), Edie Martin (Emily), Michael Trubshawe (Ruddock), Jack MacGowran (Vernon Crump), Ewan Roberts (Alec Pearce), Herbert C. Walton (Seth), John Rudling (Clegg), Nancy O’Neil (Mrs. Blakeworth), Campbell Singer (Sargento da Polícia), Frank Atkinson (Sargento na Estação), Wensley Pithey (Polícia), Harold Alford (Guarda), Ted Burbidge (Maquinista), Frank Green (Operador da Caldeira).