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Publicação com o apoio de www.filmtwist.pt

The Stylist Claire (Najarra Townsend) é uma jovem cabeleireira, solteira e sem amizades, que se entretém a imaginar a sua vida nas vidas das suas clientes. Para isso, mata-as e tira-lhes o escalpe, para usar as suas cabeleiras e se fazer passar por elas, em casa, sozinha ao espelho. Quando Olivia (Brea Grant), uma das suas clientes, a chama de emergência pois vai casar nessa semana, Claire vê-se a passar mais tempo com ela, e aos poucos a tentar imiscuir-se cada vez mais na vida da noiva, questionando as decisões desta e intrometendo-se contra a vontade da amiga.

Análise:

Passando, após o circuito de festivais, quase directamente para o mercado de vídeo e de streaming, “A Cabeleireira” foi a primeira longa-metragem de ficção da realizadora e produtora Jill Gevargizian. Até aí, com um bom número de curtas-metragens, uma delas com o mesmo nome, e que terá sido o ponto de partida para o filme de 2020, Jill Gevargizian era ela própria cabeleireira, antes de começar a filmar. Ver aquilo em que a sua protagonista se torna não deixa de nos arrepiar um pouco. Afinal é nas mais inocentes acções do dia a dia que imaginar o terror o torna mais real e por isso terrífico, ou assim terá pensado Jill Gevargizian ao conceber a ideia deste filme.

Centrado na protagonista e nominal cabeleireira Claire (Najarra Townsend), o filme inicia-se imediatamente com uma morte macabra, de alguém assassinado na cadeira do salão de beleza. Vemos depois que Claire retira o escalpe (de cabeleira completa) da sua vítima e o junta a muitos outros, que vai colocando para se fazer passar pelas suas vítimas, sozinha ao espelho. O enredo evolui com a relação de Claire com uma das suas clientes, Olivia (Brea Grant), a qual precisa dos préstimos de Claire, pois está a dias do seu casamento. Isso é razão para Olivia convidar Claire várias vezes para a sua casa, e para Claire se sentir cada vez mais dona da vida de Olivia.

Com destaque para a fotografia de cores quentes e planos filmados com paciência e bom gosto, “A Cabeleireira” é uma espécie de slasher na primeira pessoa. Nele, em vez de acompanharmos um grupo de vítimas, assaltadas de surpresa, acompanhamos a assassina, nas peculiaridades da sua vida. Aos poucos conhecemos-lhe rotinas, sonhos, obsessões e principalmente a sua atitude de isolamento e incapacidade de relacionamento. Esta, percebe-se desde a sua primeira cena ao espelho, é combatida com imaginar-se nas vidas das outras, mesmo que para isso precise de lhes “vestir” a cabeleira. Assim, a história avança por entre os momentos em que vamos descobrindo a vida triste de uma mulher, aparentemente meiga e simples, algo inocente nos seus relacionamentos sociais, que alterna a sua existência banal com momentos de predação violenta.

Com um forte (e propositado) sentido de irrealismo no que diz respeito aos comportamentos de Claire, o filme é bastante unidireccional, como se nos mostrasse o construir de uma tragédia anunciada. Esta, já prevista pela chocante cena de abertura, ocorre na última cena, e o macabro e ridículo dessa situação não deixará de provocar risos, ou não fosse o humor negro algo muito vincado no espírito humano. Percebe-se então que, mesmo com um enredo limitado e sem muito que perdure para além dos 101 minutos de filme, este consegue os seus propósitos, muito por mérito da interpretação de Najarra Townsend, que nos vai convencendo, e até cativando, com o seu jeito tímido, inseguro… e tresloucado.

No fim, fica um exercício visual interessante, como forma de contar uma história um pouco previsível, mas com algumas componentes surpreendentes pelo tal ridículo a que a protagonista se dá. Compreende-se que o filme não tenha passado ao circuito comercial, mas não desiludirá quem se quiser deixar surpreender por uma ou duas cenas de um macabro que tem de ser levado com um sorriso.

Najarra Townsend em "A Cabeleireira" (The Stylist, 2020), de Jill Gevargizian

Produção:

Título original: The Stylist; Produção: Claw Productions, Method Media, Sixx Tape Productions, The Line Film Company; Produtores Executivos: Jason Bunn, Kyle Clark, Maisy Kay, Paul Pawlowski; País: EUA; Ano: 2020; Duração: 101 minutos; Distribuição: Epic Pictures Group (EUA); Estreia: 26 de Setembro de 2020 (Fantastic Fest, EUA).

Equipa técnica:

Realização: Jill Gevargizian; Produção: Jill Gevargizian, John Pata, Sarah Sharp, Robert Patrick Stern, Najarra Townsend; Co-Produção: Chris Knitter, Jordan Rioux; Produtores Associados: Chelsea Brown, Mark DiBona, Nick Ford, Elizabeth Gray, Christopher Dean McAfee, Tony Wash; Argumento: Jill Gevargizian, Eric Havens, Eric Stolze [a partir de uma história de Jill Gevargizian); Música: Nicholas Elert; Fotografia: Robert Patrick Stern; Montagem: John Pata; Design de Produção: Sarah Sharp; Direcção Artística: Amelia Reeves; Figurinos: Halley Sharp; Caracterização: Courtney Jones; Efeitos Especiais de Caracterização: Colleen May; Efeitos Visuais: Daniel DelPurgatorio , Brian Nowak, Gene Pita; Direcção de Produção: Austin Wagoner.

Elenco:

Najarra Townsend (Claire), Brea Grant (Olivia), Jennifer Seward (Sarah), Sarah McGuire (Dawn), Davis DeRock (Charlie), Millie Milan (Monique), Kimberly Igla (Rose), Bety Le [como Bety Le Shackleford] (Christie), Pepper (Pepper), Edward Patterson (EZ Eddie), Jimmy Darrah (Funcionário da Loja de Hardware), Jill Gevargizian (Jill Sixx), Laura Kirk (Frankie), Vienna Maas (Florista), Lindsay Solomon (Florista #1), Angela Dupuie (Florista #3), Ashley Kukay (Florista #2), Kelsey Nicholes (Elizabeth), Chelsea Brown (Chelsea), Gary Cooper (Gary), Eric Havens (Eric), Dorinda Townsend (Mãe de Claire), Halley Sharp (Barista), Christine Clayton (Prima de Olivia), Kyle Ament (Padre), Eliseo Arreola (Padrinho do Noivo), Nate Milford (Padrinho do Noivo), James Colin Leach (Padrinho do Noivo), Jack Schlotfeld (Fotógrafo), Steven Hugh Nelson (Bajulador), Jennifer Plas (Voz de Mandy), Timothy English (Homem Assustador do Café).

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