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Dracula 3DNuma aldeia dos Cárpatos, Tanja (Miriam Giovanelli) encontra-se secretamente com o seu amante (Christian Burruano), mas ao regressar a casa pela noite é atacada por um ser sobrenatural. Semanas depois, quando Jonathan Harker (Unax Ugalde) chega à aldeia, encontra consternação e suspeita, que o deixa sem companhia para viajar até ao castelo do seu empregador, conde Drácula (Thomas Kretschmann). Aí é recebido por por uma voraz Tanja, que ele não sabe ter morrido. Sem notícias suas, a esposa Mina (Marta Gastini) viaja para a mesma aldeia ficando em casa da amiga Lucy Kisslinger (Asia Argento), a qual começa a ser atormentada por estranhos sonhos.

Análise:

A imortal história “Drácula” de Bram Stoker é das mais vezes adaptadas ao cinema, e no domínio de terror, de longe aquela que mais filmes inspirou. Por isso, a notícia de que Dario Argento tentaria também a sua abordagem não seria, por si só, motivo de surpresa, embora reste sempre a pergunta: que mais há a dizer quando se fala de Drácula? Já anteriormente, Argento fizera algumas investidas no domínio do gótico mais clássico, casos dos filmes “Terror na Ópera” (Opera, 1987) e “O Fantasma da Ópera” (Il fantasma dell’Opera, 1998), ambas inspiradas na obra de Gaston Leroux (o primeiro de forma muito livre, o segundo mais próximo). Agora, filmando pela primeira vez com tecnologia digital e optando por um filme em 3D, Argento tentava voltar a uma atmosfera de terror clássico, depois de alguns filmes falhados versando policiais contemporâneos

O filme começa com um uma escapadela nocturna, nos Cárpatos, onde a jovem Tanja (Miriam Giovanelli) se encontra às escondidas com o amante Milos (Christian Burruano) para uma noite de amor. Só que, no regresso a casa, sem o crucifixo, que perdera nos braços do amante, Tanja é atacada e morta por um ser sobrenatural. Como se não bastasse, o seu corpo acaba por desaparecer da sepultura, e novos ataques dão-se de seguida. É essa atmosfera de desconfiança que Jonathan Harker (Unax Ugalde) encontra, quando vem trabalhar no castelo do conde Drácula (Thomas Kretschmann), que o recebe com alguma frieza, e controlando uma Tanja que procura alimentar-se de Harker. As situações assustadoras sucedem-se, e quando Harker decide fugir é caçado por um Drácula em forma de lobo. Entretanto, sem notícias do marido, Mina Harker (Marta Gastini), a esposa de Jonathan, chega para ficar em casa da amiga Lucy Kisslinger (Asia Argento), a qual começa a ter sonhos estranhos, e a parecer cada vez mais doente. Mina visita Drácula, e este tenta seduzi-la por a achar parecida com o seu grande amor, há muito morta. Com a morte de Lucy, Mina chama um perito no oculto, o vampirologista Van Helsing (Rutger Hauer), que imediatamente centra esforços no castelo de Drácula. Enquanto Drácula, sentindo-se traído pelos aldeões que tinham um pacto consigo, os mata, Van Helsing entra no castelo e descobre Jonathan e Tanja, os quais destrói. Com a chegada de Drácula, Van Helsing parece derrotado, quando Mina, já liberta do feitiço do vampiro, empunha a arma de Van Helsing, e mata o conde com uma bala de prata. Deixando o cemitério onde ocorre a luta final, Mina e Van Helsing não vêem que as cinzas de Drácula se voltam a reunir, sugerindo que o conde vai voltar a ganhar vida.

Parece ser facto assente que, para adaptar “Drácula” ao cinema, é necessário trocar os nomes de muitas das personagens – excepção feita ao filme de Francis Ford Coppola de 1992, talvez a mais fiel adaptação de sempre do livro de Bram Stoker. Desta vez a história passa-se toda às portas do castelo de Drácula, numa ficcionada Pressburg, onde Lucy vive com o seu pai, e onde Mina a vem visitar, para reencontrar o seu (no filme) marido Jonathan Harker, o qual, no único ponto do enredo fiel ao livro, já se encontra no castelo do conde, em trabalho. Temos ainda Renfield, como o alterado servo do conde, mas aqui sem qualquer relação com as personagens anteriores.

Alterações de guião à parte, a primeira coisa que marca no filme de Argento é uma – certamente propositada – tendência para procurar as atmosferas dos filmes clássicos da Hammer. Os interiores algo lúgubres, o castelo gótico, a floresta onde pululam lobos, a aldeia onde muitos parecem avessos à modernidade, uma vítima na aldeia que se torna serva do vampiro, e até um estranho pacto que se revela existir entre Drácula e os líderes da aldeia, mas que ninguém quer assumir, remetem para as paisagens visuais e temáticas dos antigos filmes de Terence Fisher e seus parceiros.

Tirando essa homenagem, muito no filme de Argento parece irrelevante. A narrativa decorre previsivelmente, e as personagens não chegam a ser cativantes, connosco a esquecer-nos rapidamente do destino de Harker, com uma Lucy que acaba por não ser muito importante, com um Van Helsing (surpreendentemente interpretado por Rutger Hauer, curiosamente o primeiro holandês a interpretar esta personagem daquele país) que chega muito tarde, para actuar apenas uma ou duas vezes, e com uma Mina, algo perdida no seu papel. Resta um Drácula competente, nas mãos do frio de olhar cruel Thomas Kretschmann, que já trabalhara anteriormente com Dario e Asia Argento em “Viagem ao Inferno” (La sindrome di Stendhal, 1996). Isto já para não falar no inconsequente sub-enredo do pacto dos aldeões com Drácula – apenas para trazer uma cena de mortes sangrentas – e o mais inconsequente ainda papel do padre, que surge de rompante como se a sua presença fosse determinante, para morrer imediatamente sem qualquer parte no desfecho da história.

Apostando na tecnologia 3D e numa fotografia digital que chega a ser demasiado ostensiva – e logo quando o director de fotografia é Luciano Tovoli, o mesmo de “Suspiria” (1977) –, há ainda um abuso do CGI (de cenários a personagens animadas) pouco lisonjeiro, como são exemplos as sequências das moscas, a louva-a-deus gigante, os desvanecimentos dos corpos, ou as imolações por fogo. “Drácula 3D” vale por essa homenagem à Hammer, no que é quase uma recriação das mesmas paisagens com uma fotografia mais moderna, mas é inconsequente em tudo o resto. Estranho é, como numa história com tanto de onírico – cite-se mais uma vez o filme de Coppola “Dracula de Bram Stoker” (Bram Stoker’s Dracula, 1992) como exemplo –, o rei do onirismo no cinema de terror, que é Dario Argento, não tenha aproveitado para ir mais longe, deixando-nos apenas um filme demasiamente literal e inexpressivo, onde continua a apostar num intenso gore, como visível nas cenas das dentadas e veias golpeadas.

Rutger Hauer em "Dracula 3D" (2012), de Dario Argento

Produção:

Título original: Dracula 3D; Produção: Multimedia Film Production / Enrique Cerezo Producciones Cinematográficas S.A. / Les Films de l’Astre; País: Itália / França / Espanha; Ano: 2012; Duração: 110 minutos; Distribuição: Bolero Film (Itália), Filmax (Espanha), Panocéanic Films (França), IFC Midnight (EUA); Estreia: 12 de Abril de 2012 (Festival de Bruxelas, Bélgica), 9 de Novembro de 2012 (Espanha).

Equipa técnica:

Realização: Dario Argento; Produção: Roberto Di Girolamo, Giovanni Paolucci, Enrique Cerezo,; Produtor Em Linha: Massimo Paolucci; Argumento: Dario Argento, Antonio Tentori, Stefano Piani, Enrique Cerezo [a partir do livro “Drácula” de Bram Stoker]; Música: Claudio Simonetti; Fotografia: Luciano Tovoli [fotografia digital, filmado em Technicolor]; Montagem: Marshall Harvey, Daniele Campelli; Design de Produção: Massimo Antonello Geleng; Cenários: Claudio Cosentino; Figurinos: Monica Celeste; Caracterização: Bernardette Grampa; Efeitos Especiais: Sergio Stivaletti; Efeitos Visuais: John Attard; Animação: Ernesto Paganoni.

Elenco:

Thomas Kretschmann (Drácula), Marta Gastini (Mina Harker), Asia Argento (Lucy Kisslinger), Unax Ugalde (Jonathan Harker), Miriam Giovanelli (Tanja), Rutger Hauer (Van Helsing), Maria Cristina Heller (Jarmila), Augusto Zucchi (Andrej Kisslinger), Christian Burruano (Milos), Giuseppe Lo Console (Zoran), Riccardo Cicogna (Janek), Franco Ravera (Padre), Giovanni Franzoni (Reinfield), Francesco Rossini (Tenente Delbruck), Eugenio Allegri (Oste), Nicola Baldoni (Fabbro), Alma Noce (Marika), Luca Fonte (Soldado), Marco Mancia (Soldado), Toni Pandolfo (Chefe de Estação), Simona Romagnoli (Esposa de Oste).

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