Etiquetas
007, Acção, Cinema, Daniel Craig, EON, Espionagem, Ian Fleming, James Bond, Pierce Brosnan, Podcast, Segundo Take, Timothy Dalton, Universos Paralelos

2020 termina com o trigésimo sexto episódio de Universos Paralelos, da autoria do António Araújo (Segundo Take), do José Carlos Maltez (A Janela Encantada) e do Tomás Agostinho (Imaginauta).
É hora de completarmos o tema 007 com a segunda parte da saga.
Bond, o espião irresistível de Ian Fleming, ep. 2

Com a marca 007 a tornar-se uma das mais rentáveis e facilmente reconhecíveis séries de cinema, e tendo deixado para trás dois actores – Sean Connery e Roger Moore – que encarnaram de forma tão carismática o célebre espião James Bond, que os próprios ficariam para sempre conhecidos no mundo pelo nome da personagem, pela primeira vez o envelhecimento de um actor (Moore, com 58 anos à data do seu último 007) levava à necessidade de renovação da saga.
A pergunta que se colocava era se Bond seria um nome acima de qualquer actor, ou se estes o iriam transformar consideravelmente. E a aposta da EON parece ter sido a da transformação, com a escolha de Timothy Dalton, um actor pouco mediático, com vasta experiência de palco e de dramas históricos para o pequeno e grande ecrã. Tentando uma maior aproximação ao Bond de Fleming, e escamoteando a vertente mais cómica dos filmes anteriores, os novos filmes The Living Daylights (1987) e Licence to Kill (1989), contrastam por tramas bem mais realistas, vilões bastante comuns e um Bond sem grande sentido de humor.

Tal mudança deixou os resultados de bilheteira aquém das expectativas, e com um terceiro filme já alinhado, Dalton foi empurrado aos poucos para a porta de saída, enquanto se preparava uma nova mudança de trajectória. Após o maior hiato até hoje na série, estreou, em 1996, GoldenEye, que nos dava como 007 Pierce Brosnan, um actor conhecido pelo charme e galanteio que lhe valeram protagonismo na bem-sucedida série televisiva Remington Steele.
E se o mundo mudava, com o fim da Guerra Fria, muito também mudava no universo Bond. Albert Broccoli morreu, Judi Dench tornou-se a primeira M feminina, John Barry não voltaria a compor para a série, as histórias já não provinham de livros de Ian Fleming, mas, sobretudo, voltavam os super-vilões que queriam subverter a ordem mundial e o super-agente de sorriso nos lábios, capaz de tudo, inclusivamente usar humor a cada cena mais violenta.
Apesar de quatro filmes bem-sucedidos financeiramente – apenas o segundo, Tomorrow Never Dies, não acabou em primeiro lugar na semana de estreia, por esta coincidir com a de Titanic (James Cameron, 1997) – os produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson decidiram que era tempo de modernizar o seu agente secreto, retirando-lhe os contornos de quase herói imortal e imutável de banda desenhada para o tornar uma figura de carne e osso, que possamos apreender como uma personagem realista.

Para essa tarefa foi contratado Daniel Craig (novamente um actor não de topo) que, para surpresa de todos e gáudio de muitos, nos deu um Bond que sangra, sofre, se questiona e vive amargurado com escolhas e atitudes, não deixando de ser a mais violenta encarnação de quantas a personagem já conheceu. Começando com o icónico Casino Royale, o romance inicial de Ian Fleming, que nunca antes pudera ser filmado pela EON, a série conheceu um reboot. Nele fomos às origens de Bond no MI6, aos seus confrontos com M (de novo Judi Dench), ao ganhar da famosa licença para matar, à traição amorosa que o fez fechar-se em si mesmo e à super-organização criminal ele conhecerá como SPECTRE.
Com acção moderna, uso (para o bem e para o mal) de novas tecnologias e modos de filmar próprios do século XXI, análise profunda de personagem e temas adequados ao novo milénio, a série voltou a cativar e a relançar a discussão sobre qual o Bond preferido do público, e sobre as inúmeras formas como Craig poderá ser substituído no futuro.
Mas, como se fosse um título de 007, o futuro ainda não chegou, e o completamente adiado ano de 2020 privou-nos da estreia de No Time To Die, que será o quinto e último filme com Daniel Craig. Resta saber o quanto o universo Bond terá ainda para nos dar, e sob que formas (e com que actores) o fará. Uma coisa é certa, seja como o escolher fazer, conquistar o mundo não será suficiente.
José Carlos Maltez, Dezembro de 2020.
Fontes primárias
Cinema (para filmes anteriores a 1987 ver a folha do episódio 1)
- 007 – Risco Imediato (The Living Daylights, John Glen, 1987)
- 007 – Licença para Matar (Licence To Kill, John Glen, 1989)
- 007 – GoldenEye (GoldenEye, Martin Campbell 1995)
- 007 – O Amanhã Nunca Morre (Tomorrow Never Dies, Roger Spottiswoode, 1997)
- 007 – O Mundo Não Chega (The World Is Not Enough, Michael Apted, 1999)
- 007 – Morre Noutro Dia (Die Another Day, Lee Tamahori, 2002)
- 007: Casino Royale (Casino Royale, Martin Campbell, 2006)
- 007: Quantum of Solace (Quantum of Solace, Marc Forster, 2008)
- 007: Skyfall (Skyfall, Sam Mendes, 2012)
- 007: Spectre (Spectre, Sam Mendes, 215)
- 007: Sem Tempo Para Morrer (No Time To Die, Cary Joji Fukunaga, 2021)
Bibliografia (para livros anteriores a 1986 ver a folha do episódio 1)
- Gardner, John (1986) Nobody Lives for Ever. London: Jonathan Cape.
- Gardner, John (1987) No Deals, Mr. Bond. London: Jonathan Cape.
- Gardner, John (1988) Scorpius. London: Hodder & Stoughton.
- Gardner, John (1989) Win, Lose or Die. London: Hodder & Stoughton.
- Gardner, John (1989) Licence to Kill (novelization). London: Coronet Books.
- Gardner, John (1990) Brokenclaw. London: Hodder & Stoughton.
- Gardner, John (1991) The Man from Barbarossa. London: Hodder & Stoughton.
- Gardner, John (1992) Death is Forever. London: Hodder & Stoughton.
- Gardner, John (1993) Never Send Flowers. London: Hodder & Stoughton.
- Gardner, John (1993) SeaFire. London: Hodder & Stoughton.
- Gardner, John (1995) GoldenEye (novelization). London: Coronet Books.
- Gardner, John (1995) Cold. London: Hodder & Stoughton.
- Benson, Raymond (1997) Blast From the Past (short story). Beverly Hills, CA: Playboy (January 1997).
- Benson, Raymond (1997) Tomorrow Never Dies (novelization). London: Coronet Books.
- Benson, Raymond (1998) The Facts of Death. London: Hodder & Stoughton.
- Benson, Raymond (1999) Midsummer Night’s Doom (short story). Beverly Hills, CA: Playboy (January 1999).
- Benson, Raymond (1999) High Time to Kill. London: Hodder & Stoughton.
- Benson, Raymond (1999) Live at Five. New York City, NY: TV Guide (American edition) (November 1999)
- Benson, Raymond (1999) The World Is Not Enough (novelization). London: Hodder & Stoughton.
- Benson, Raymond (2000) DoubleShot. London: Hodder & Stoughton.
- Benson, Raymond (2001) Never Dream of Dying. London: Hodder & Stoughton.
- Benson, Raymond (2002) The Man with the Red Tattoo. London: Hodder & Stoughton.
- Benson, Raymond (2002) Die Another Day (novelization). London: Hodder & Stoughton.
- Faulks, Sebastian (2008) Devil May Care. London: Penguin
- Deaver, Jeffery (2011) Carte Blanche. London: Hodder & Stoughton.
- Boyd, William (2013) Solo. London: Jonathan Cape.
- Horowitz, Anthony (2015) Trigger Mortis. London: Orion Publishing.
- Horowitz, Anthony (2018) Forever and a Day. London: Jonathan Cape.
Série Young Bond
- Higson, Charlie (2005) SilverFin. London: Puffin Books.
- Higson, Charlie (2006) Blood Fever. London: Puffin Books.
- Higson, Charlie (2007) Double or Die. London: Puffin Books.
- Higson, Charlie (2007) Hurricane Gold. London: Puffin Books.
- Higson, Charlie (2008) By Royal Command. London: Puffin Books.
- Higson, C., Walker, K. (2008) SilverFin (graphic novel). London: Puffin Books.
- Higson, Charlie (2009) A Hard Man to Kill. London: Puffin Books.
- Cole, Steve (2014) Shoot to Kill. New York City, NY: Random House.
- Cole, Steve (2016) Heads You Die. New York City, NY: Random House.
- Cole, Steve (2016) Strike Lightning. New York City, NY: Random House.
- Cole, Steve (2017) Red Nemesis. New York City, NY: Random House.
The Moneypenny Diaries (por Samantha Weinberg sob o pesudónimo Kate Westbrook)
- Westbrook, Kate (2005) The Moneypenny Diaries: Guardian Angel. London: John Murray.
- Westbrook, Kate (2006) For Your Eyes Only, James (short story). London: Tatler (November, 2006).
- Westbrook, Kate (2006) Secret Servant: The Moneypenny Diaries. London: John Murray.
- Westbrook, Kate (2006) Moneypenny’s First Date With Bond (short story). London: The Spectator (November 11, 2006).
- Westbrook, Kate (2008) The Moneypenny Diaries: Final Fling. London: John Murray.