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Adalberto Maria Merli, Antonio Cantafora, Cinema, Cinema italiano, Claudio Santamaria, Dario Argento, Fiore Argento, Giallo, Liam Cunningham, Silvio Muccino, Stefania Rocca, Terror, Thriller
Na esquadra de polícia, a detective Anna Mari (Stefania Rocca) recebe um contacto por computador que pode pertencer a um procurado serial killer. Este quer jogar um jogo de online poker em que uma turista inglesa será morta se a polícia perder o jogo. Contrariando a vontade de Anna Mari, o comissário (Adalberto Maria Merli) recusa o jogo, e a rapariga é morta perante os polícias. A vontade de Anna é entretanto reforçada pela chegada do detective inglês John Brennan (Liam Cunningham), e os dois começam uma investigação, enquanto têm de arranjar forma de ganhar os jogos seguintes, para ganharem tempo sem que haja mais mortes.
Análise:
Ao que consta, logo após o seu filme “Viagem ao Inferno” (La sindrome di Stendhal, 1996), Dario Argento terá pensado numa sequela, novamente envolvendo a detective policial Anna Manni, interpretada pela sua filha Asia Argento. Mas o envolvimento no filme “O Fantasma da Ópera” (Il fantasma dell’opera, 1998) adiaria o projecto e, depois, vendo Asia impedida de participar, o realizador acabou por voltar à história de uma detective a braços com um serial killer, agora com a actriz Stefania Rocca, mudando-lhe o apelido de Manni para Mari, e libertando-a do passado negro da protagonista de “Viagem ao Inferno”.
Temos aqui, diríamos que numa tradição já muito americana, a história de um serial killer que mata em desafio directo com a polícia. Para isso, contactando a esquadra pela internet, convida-os para um jogo de póquer cuja derrota da polícia significa a morte de uma rapariga, que eles podem ver amarrada, em vídeo. Se no primeiro caso, uma turista inglesa, o comissário (Adalberto Maria Merli) recusa jogar, e tal resulta na morte imediata da vítima, a vontade férrea de Anna Mari (Stefania Rocca), que entretanto recebe o apoio do polícia da embaixada inglesa, John Brennan (Liam Cunningham), colocam a esquadra a aceitar os jogos do assassino. Uma segunda morte leva a polícia a procurar, por um lado jogadores de risco em diversos jogos radicais, por outro, um jogador que o possa enfrentar. Tal escolha recai no jovem Remo (Silvio Muccino), viciado em jogos de máquinas. No primeiro jogo, quando tudo parece estar a correr bem, a vítima liberta-se e tenta fugir, acabando morta à frente das câmaras. A vítima seguinte é a filha do próprio comissário (Fiore Argento), mas Remo consegue vencer, e o assassino liberta-a, atacando Anna na casa desta. Anna e John vão investigando todas as pistas que encontram, incluindo o troar de um canhão e pólen de uma planta encontrado nas vítimas. Tal leva John a descobrir uma casa que poderá ser a do assassino, mas é morto por uma armadilha à entrada. Quando Anna e a polícia percebem o que se passa, acorrem tarde, e Anna, no carro com o colega Carlo (Claudio Santamaria), percebe tardiamente que este é o assassino, e agora quer fazer um último jogo, com ambos acorrentados numa linha de comboio. Mas Anna vence, e liberta-se, a tempo de se salvar, enquanto Claudio morre na linha.
Partindo da ideia simples de um serial killer cujo sadismo, ou perturbação mental, o leva a jogar jogos de morte com a polícia – e aqui vem-nos à memória “Saw – Enigma Mortal” (Saw, 2004), de James Wan, curiosamente do mesmo ano –, Argento volta ao giallo, no seu segundo filme desse género no novo século – depois de “Sangue de Inocentes” (Non ho sonno, 2001). Desta vez, centrando-se no interior de uma esquadra de polícia (polícia que é frequente ridicularizada ou menosprezada nas investigações dos filmes de Argento), temos um ambiente quase de série televisiva, que avança através da relação que se forma entre os detectives Anna Mari e John Brennan.
Com a investigação em pano de fundo, tudo o resto se torna demasiado pueril para um filme de Argento. Há um óbvio evitar da violência mais gráfica, mesmo se temos uma espécie de exame post mortem, as outras mortes ocorrem à distância, vistas através do monitor de um computador, havendo depois tiros e um corpo a ser espetado numa armadilha. A célebre câmara subjectiva de Argento está presente apenas para pontuar alguns momentos, mas sem contexto narrativo ou na construção de suspense. Os diálogos e formas de estar dos polícias são pouco mais que infantis e, por fim, o próprio jogo que constitui a base da trama é um simples jogo de sorte, sem graus de liberdade para a arte do jogador, o que diminui o interesse da premissa.
No meio de tudo isto, também a relação das personagens de Stefania Rocca e Liam Cunningham é tudo menos verosímil, mesmo que os actores pareçam estar a levar-se muito a sério. Se em Argento nem tudo no argumento faz o maior dos sentidos – o que aqui volta a acontecer – em “O Mestre do Jogo” não temos a contrapartida do estilo visual arrojado, suspense e gore imaginativo que são as imagens de marca do realizador. Com algum aparente amadorismo à mistura nas decisões tomadas, este é, sem dúvida, um dos filmes menores de Dario Argento .
Produção:
Título original: Il cartaio [Título inglês: The Card Player]; Produção: Opera Film / Medusa Film; Produtor Executivo: Claudio Argento; País: Itália; Ano: 2004; Duração: 104 minutos; Distribuição: Medusa Distribuzione (Itália), Anchor Bay Entertainment (EUA); Estreia: 2 de Janeiro de 2004 (Itália).
Equipa técnica:
Realização: Dario Argento; Produção: Dario Argento; < Argumento: Dario Argento, Franco Ferrini; Diálogos: Jay Benedict, Phoebe Scholfield; Música: Claudio Simonetti; Fotografia: Benoît Debie; Montagem: Walter Fasano; Design de Produção: Massimo Antonello Geleng, Marina Pinzuti Ansolini; Direcção Artística: Massimo Antonello Geleng; Figurinos: Patrizia Chericoni, Florence Emir; Caracterização: Bernadette Grampa, Raffaella Ragazzi; Efeitos Especiais: Sergio Stivaletti; Direcção de Produção: Tommaso Calevi.
Elenco:
Stefania Rocca (Anna Mari), Liam Cunningham (John Brennan), Silvio Muccino (Remo), Adalberto Maria Merli (Comissário da Polícia), Claudio Santamaria (Carlo Sturni), Fiore Argento (Lucia Marini), Antonio Cantafora (Vice-Chefe de Divisão de Costumes), Mia Benedetta (Francesca), Pier Maria Cecchini (Chefe da Divisão Aérea), Cosimo Fusco (Berardelli), Vera Gemma (Terceira Vítima), Giovanni Visentin (Chefe C.I.D.), Claudio Mazzenga (Mario), Alessandro Mistichelli (Anti-Hacker #2), Mario Opinato (Inspector Morgani), Luis Molteni (Patologista), Micaela Pignatelli (Professora Terzi), Jennifer Poli (Christine Girdler, Primeira Vítima), Elisabetta Rocchetti (Segunda Vítima), Conchita Puglisi (Marta), Gualtiero Scola (Investigador do Local do Crime), Carlo Giuseppe Gabardini (Anti-Hacker #1), Francesco Guzzo (Anti-Hacker #3), Irene Quagliarella (Friend Amiga da Segunda Vítima), Ulisse Minervini (Alvaro), Robert Madison (Gustavo), Emanuel Bevilacqua (Dono da Loja de Slot Machines), Robert Dawson (Empregado da Embaixada), Adriana Fonzi Cruciani (Bunny), Carla Fonzi Cruciani (Irmã de Bunny), Elena Falgheri (Professora), Michele Pellegrini (Jovem), Isabella Celani (Médica).