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InfernoRose Elliot (Irene Miracle), uma estudante de Nova Iorque, está obcecada com os segredos do prédio onde vive. Lendo o livro “As Três Mães”, escrito pelo arquitecto que construiu o prédio, Rose aprende sobre essas figuras mágicas que lidam com bruxaria. Procurando saber mais, Rose vai descobrir galerias secretas, salas inundadas e uma chave misteriosa. Quando Rose tenta contactar o irmão Mark (Leigh McCloskey), que estuda em Roma, é a amiga deste, Sara (Eleonora Giorgi), quem lê a sua carta e decide investigar o dito livro. A partir de então cada uma das duas mulheres, e mais tarde Mark, será vítima de atentados por figuras misteriosas, que matam todos os que tentam descobrir mais sobre As Três Mães.

Análise:

Depois do sucesso que foi o seu filme “Suspiria” (1977), no qual Daria Argento deixava para trás o ambiente realista que marcara os seus primeiros filmes, feitos de mistérios detectivescos e crimes macabros – que ajudaram a definir o que se chamaria o giallo –, para entrar em ambientes oníricos de mistérios sobrenaturais, onde uma cenografia barroca e feérica se tornava um elemento essencial. É nessa sequência que surge, agora com um elenco mais fortemente anglófono, “Inferno”, um filme que se propõe continuar o mito das Três Mães, falado em “Suspiria”, e que, por isso, era como que uma sequela temática daquele filme, embora com uma história e personagens completamente diferentes.

Iniciando-se em ligação a “Suspiria”, o filme dá-nos a leitura de páginas do livro “As Três Mães” por Rose Elliot (Irene Miracle), uma estudante de Nova Iorque obcecada com o mito que liga esta história de bruxaria. Decidindo saber mais, Rose desce à livraria vizinha e lê sobre uma chave que estará sob os seus pés. À saída, encontra um alçapão que a leva a estranhos subterrâneos e antigas salas inundadas, onde recupera uma chave, mas ao voltar ao seu apartamento, e ligar ao irmão Mark (Leigh McCloskey), que estuda em Roma, acaba por morrer assassinada. Em Roma, cidade também mencionada no livro, Mark ignorara inicialmente a carta da irmã, que foi lida pela sua amiga Sara (Eleonora Giorgi). Esta vai procurar o livro mencionado, mas depois de o ler é atacada, regressando a casa em pânico, para ser aí assassinada. Só então Mark liga as duas coisas e viaja para Nova Iorque para procurar a irmã. À chegada, Mark é confrontado com uma série de estranhas personagens que habitam o prédio, mas não tem notícias da irmã. Só a vizinha Elise (Daria Nicolodi) tenta ajudar, pois também ela está preocupada com o desaparecimento de Rose e os estranhos ruídos que se ouvem no prédio. Seguindo um desses ruídos, Mark perde-se e acaba inconsciente, enquanto Elise é morta violentamente. Acordado, Mark volta a investigar, e descobre um sistema de passagens secretas pelas quais chega ao velho Professor Arnold (Feodor Chaliapin Jr.), que lhe diz ser de facto o arquitecto Dr. Varelli, construtor dos covis das Três Mães. Mark é então atacado pela enfermeira de Varelli (Veronica Lazar), que se releva como Mater Tenebrarum.

Tal como em “Suspiria” – o filme com o qual “Inferno” terá sempre de ser comparado –, o mistério começa com estudantes em edifícios antigos, que sabemos, neste tomo, terem sido construídos propositadamente, e pela mesma pessoa, para albergarem o mal. Mais uma vez tudo parte da curiosidade de alguém (neste caso três personagens distintas, os irmãos Rose e Mark, e a amiga deste, Sara) que se deixa arrastar para a teia de mistério sobrenatural, envolvendo aqueles lugares e as forças que nele habitam. O que se segue é conhecido, uma presença oculta, como um perseguidor assassino – vestígios do giallo, deambulações por locais misteriosos, e mortes macabras – ataques por ratos de esgoto, por gatos, degolação pelo vidro de uma janela, esfaqueamentos, etc.

O que mais distingue Argento, para além do seu gosto mórbido por mortes macabras e sangrentas (sempre diferentes umas das outras), no que o poderemos nomear como seguidor de Edgar Allan Poe, é a forma como pinta a sua imagem, como se de um quadro garrido se tratasse. Com cenários barrocos, uma luz sobrenatural onde vermelhos e azuis surgem como que aveludados e proeminentes, e uma sequência de cenários que funcionam como antecâmaras entre um mundo realista e um mundo onírico. Note-se a sequência inicial em que Rose desce um alçapão para se encontrar num misterioso porão debaixo de uma rua de Nova Iorque, caminhando por ele, passa para galerias subterrâneas inundadas de cor irreal, para numa nelas, por um buraco no chão, perceber uma sala repleta de água, Rose entra nela nadando a partir do tecto, e vê-se num salão barroco, ricamente decorado, onde tudo ainda brilha. Essa passagem entre mundos é constante em “Inferno” a ponto de nos perguntarmos se as personagens estão sempre acordadas, ou se não estarão, por vezes, a meio de um sonho, cujo início não se percebeu, e o final se deseja ardentemente. Argento salpica isto ainda com imagens quase subliminares, como inserts inusitados, seja de uma faca, de sangue, da unha de um gato, etc., no sentido de criar um clima de ameaça constante.

De argumento mais solto que o bem conciso “Suspiria”, “Inferno” peca por uma estrutura algo confusa, onde o objectivo parece ser apenas uma sucessão de mortes. Por outro lado beneficia desse mesmo factor para trazer uma maior diversidade de cenários, soluções e mortes, transformando o filme num labirinto de espaços e acontecimentos que apela bem mais ao surrealismo. Não se duvide que, para Argento, mais importante que um argumento apelativo era a criação de momentos, e aí “Inferno” não desilude, com a sua quota-parte de episódios inesquecíveis pelo seu sadismo e surpresa, ao mesmo tempo que filmados com o cuidado de quem está a pintar um quadro, mais que a fazer um filme. Não obstante, “Inferno” foi sempre um filme odiado pelo próprio Argento, que se encontrava doente no decorrer das filmagens.

O filme é ainda notável por ser a última colaboração entre Dario Argento e Mario Bava, o qual tem vários papéis não creditados na produção do filme (director de fotografia, efeitos especiais, direcção de algumas sequências). Já o seu filho, Lamberto Bava, ele próprio tornado realizador, é creditado como assistente de Argento. Quem ficou fora da lista de créditos como argumentista foi Daria Nicolodi, a companheira de Argento, que confessou ser dela a ideia do filme, mas estar cansada de lutar com Dario Argento pelo seu nome, como fizera em “Suspiria”.

Imagem de "Inferno" (1980), de Dario Argento

Produção:

Título original: Inferno; Produção: Produzioni Intersound; Produtores Executivos: Salvatore Argento, Guglielmo Garroni; País: Itália; Ano: 1980; Duração: 106 minutos; Distribuição: Twentieth Century Fox; Estreia: 7 de Fevereiro de 1980 (EUA), 15 de Janeiro de 1982 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Dario Argento; Produção: Claudio Argento; Produtor Associado: ; Argumento: Dario Argento; Música: Keith Emerson; Orquestração: Godfrey Salmon; Fotografia: Romano Albani [cor por Technicolor]; Montagem: Franco Fraticelli; Design de Produção: ; Direcção Artística: Giuseppe Bassan; Cenários: Francesco Cuppini, Maurizio Garrone; Figurinos: Massimo Lentini; Caracterização: Pierantonio Mecacci; Efeitos Especiais: Germano Natali; Efeitos Visuais: Mario Bava [não creditado]; Direcção de Produção: Angelo Iacono, Andrew W. Garroni, William Lustig [não creditado].

Elenco:

Leigh McCloskey (Mark Elliot), Irene Miracle (Rose Elliot), Eleonora Giorgi (Sara), Daria Nicolodi (Elise De Longvalle Adler), Sacha Pitoëff (Kazanian), Alida Valli (Carol, A Governanta), Veronica Lazar (Enfermeira / Mater Tenebrarum), Gabriele Lavia (Carlo), Feodor Chaliapin Jr. (Professor Arnold / Dr. Varelli), Leopoldo Mastelloni (John, o Mordomo), Ania Pieroni (Estudante de Música), James Fleetwood (Cozinheiro), Rosario Rigutini (Homem), Ryan Hilliard (Sombra), Paolo Paoloni (Professor de Música), Fulvio Mingozzi (Taxista), Luigi Lodoli (Livreiro), Rodolfo Lodi (Velho), Roberto Chevalier (dobragem de voz de Leigh McCloskey [não creditado], Vittorio Di Prima (dobragem de voz de Sacha Pitoëff [não creditado], Vittoria Febbi (dobragem de voz de Veronica Lazar [não creditado], Franco Odoardi (dobragem de voz de Feodor Chialiapin Jr. [não creditado], Isabella Pasanisi (dobragem de voz de Irene Miracle [não creditado].

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