Etiquetas
Cinema, Fantasia, Peter Jackson, Tolkien, Universos Paralelos
A partir de amanhã, Segunda-feira, dia 22 de Abril, poderemos ouvir mais um Universos Paralelos, da autoria do António Araújo (Segundo Take), do José Carlos Maltez (A Janela Encantada) e do Tomás Agostinho (Imaginauta). É o décimo sexto episódio do programa, e o primeiro gravado ao vivo, no âmbito da 2ª Edição do Contacto, o Festival Literário de Ficção Científica e Fantasia organizado pela editora Imaginauta.
p>O tema é o O Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien, tem como convidado especial o Miguel Troncão, e pode ser ouvido aqui:
O Senhor dos Anéis de Tolkien
Em 1999, a Amazon pediu aos seus clientes que votassem no livro mais importante do milénio. Sem qualquer rigor científico, e com toda a subjectividade de uma votação deste género, o vencedor foi “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien. Uma coisa é certa, mesmo que nem todos tenham lido esta colossal obra de ficção de fantasia (e muitos menos ainda antes dos 16, como sugeria Rui Reininho numa popular canção dos GNR), a verdade é que quase toda a gente que já entrou numa livraria e comprou mais que um livro conhece este título.
Editado originalmente em 1954, “O Senhor dos Anéis” (que os editores decidiram partir em três volumes por razões óbvias) era o fruto de trabalho de um académico inglês, versado em filologia e línguas antigas, apaixonado por mitologias e línguas já desaparecidas, e professor de anglo-saxónico em Oxford. Ele era John Ronald Reuel Tolkien, nascido em 1892, com uma educação fortemente católica, e que, após testemunhar na pele o flagelo da Primeira Guerra Mundial, se decidiu por um escapismo que era, em simultâneo, um elogio de tempos idílicos, de valores heróicos, de comunhão com a natureza, poesia, fantasia e muita imaginação.
Na génese da sua construção estava uma ideia simples. Como estudioso de latim, inglês antigo e escandinavo antigo, Tolkien queria dar vida a um corpo linguístico por si criado. Para tal precisava de histórias que vivessem dessas línguas, isto é, mitologias, escritas como quem escreveu “A Ilíada”, a “Edda”, “Beowulf”, ou os mitos arturianos. Começava assim, logo em 1917, o desenvolvimento de um conjunto enorme de textos de cariz mitológico que o autor não parou de desenvolver e reformular até à sua morte, e a que sempre quis dar o nome de “Silmarillion”.
Mas, por acidente, em 1937, Tolkien escreveu e publicou um livro para crianças que falava de hobbits – umas criaturas pequeninas, que satirizavam com simpatia o inglês típico, com todas as suas idiossincrasias e simplicidades –, e que colocou no mundo por si criado. O sucesso de “O Hobbit” levou à exigência de uma sequela, algo que Tolkien não queria fazer. Como solução de compromisso entre as histórias de hobbits, e a sua amada mitologia, surgiu “O Senhor dos Anéis”, o romance épico duma imortal luta entre bem e o mal, repleto de poesia, aventura épica, ambiguidades de carácter e reflexões de comportamento humano que são a entrada num imenso mundo mágico. A riqueza de detalhe e lirismo – suportado por infindáveis apêndices históricos – fez desse mundo um fenómeno que os fãs ainda hoje estudam, como se acreditassem que a Terra Média de que os livros falam existisse realmente, tal o manancial de informação que dela dispomos.
Apesar da sua dimensão e hermetismo, “O Senhor dos Anéis” tornou-se um caso sério de popularidade nas décadas seguintes e, quando se pensava que nada mais podia elevar a obra de Tolkien, eis que, pelas mãos da New Line Cinema e de Peter Jackson, surgiu em 2001 – depois de algumas tentativas algo falhadas de Ralph Bakshi (1978) e Rankin/Bass (1982) – uma trilogia de filmes que seriam elogiados por público e crítica, fazendo das personagens e conceitos de Tolkien verdadeiros ícones da cultura popular.
Deixando o precedente de construir mundos com mapas, histórias, diferentes raças e línguas, num misto de fantasia e realidade, Tolkien tornou-se, decididamente, o mais importante autor de fantasia da literatura moderna, aquele com que todos aprendem e com que todos se comparam, continuando hoje como figura incontornável, modelo para autores contemporâneos e inspiração para milhões de leitores que procuram um pouco de escapismo ou alguém que lhes compreenda e estimule a necessidade de acreditar em outros mundos.
José Carlos Maltez, Abril 2019.
Fontes primárias
Literatura principal
- Tolkien, J. R. R. (1954) The Lord of the Rings – The Fellowship of the Ring. London: Allen & Unwin. [ed. portuguesa por Publicações Europa-América]
- Tolkien, J. R. R. (1954) The Lord of the Rings – The Two Towers. London: Allen & Unwin. [ed. portuguesa por Publicações Europa-América]
- Tolkien, J. R. R. (1955) The Lord of the Rings: The Return of the King. London: Allen & Unwin. [ed. portuguesa por Publicações Europa-América]
Literatura aconselhada
- Tolkien, J. R. R., (1937) The Hobbit. London: Allen & Unwin. [ed. portuguesa por Publicações Europa-América]
- Tolkien, J. R. R., Tolkien, C. [ed.] (1977) The Silmarillion. London: Allen & Unwin. [ed. portuguesa por Publicações Europa-América]
- Tolkien, J. R. R., Tolkien, C. [ed.] (1980) Unfinished Tales. London: Allen & Unwin. [ed. portuguesa por Publicações Europa-América]
- Tolkien, J. R. R., Tolkien, C. [ed.] (1983-1996) The History of Middle-Earth (12 volumes). London: Allen & Unwin
- Tolkien, J. R. R., Tolkien, C. [ed.] (2007) The Children of Húrin. London: HarperCollins. [ed. portuguesa por Publicações Europa-América]
- Tolkien, J. R. R., Tolkien, C. [ed.] (2017) Beren and Lúthien. London: HarperCollins. [ed. portuguesa por Publicações Europa-América]
- Tolkien, J. R. R., Tolkien, C. [ed.] (2018) The Fall of Gondolin. London: HarperCollins. [ed. portuguesa por Publicações Europa-América]
Cinema
- O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings, Ralph Bakshi, 1978)
- O Retorno do Rei (The Return of the King, Jules Bass, Arthur Rankin Jr., 1980)
- O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, Peter Jackson, 2001)
- O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (The Lord of the Rings: The Two Towers, Peter Jackson, 2002)
- O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King, Peter Jackson, 2003)
Outros filmes
- O Hobbit (The Hobbit, Jules Bass, Arthur Rankin Jr., 1977)
- O Hobbit: Uma Viagem Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey, Peter Jackson, 2012)
- O Hobbit: A Desolação de Smaug (The Hobbit: The Desolation of Smaug, Peter Jackson, 2013)
- O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit: The Battle of the Five Armies, Peter Jackson, 2014)
Videojogos (selecção)
- The Hobbit (1982), Melbourne House
- Lord of the Rings: Game One (1985), Melbourne House
- The Lord Of The Rings, Volumes 1 & 2 (1990 e 1992), Interplay
- The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring (2002), Vivendi Universal Games
- The Lord of the Rings: The Two Towers (2002), Electronic Arts
- The Lord of the Rings: The Return of the King (2003), Electronic Arts
- The Lord of the Rings: The Battle for Middle-earth II (2006), Electronic Arts
- The Lord of the Rings Online (2007), Turbine, Inc.
- Lego The Lord of the Rings (2012), Warner Bros. Interactive Entertainment.
Fontes secundárias
Bibliografia
- Carpenter H. (1977) J. R. R. Tolkien. A Biography. London: Allen & Unwin
- Carpenter H., Tolkien, C. [eds] (1981) The Letters of J. R. R. Tolkien. Nova Iorque, NY: St. Martin’s Paperbacks
Websites
- The Tolkien Society: https://www.tolkiensociety.org/
- The Encyclopedia of Arda: http://www.glyphweb.com/arda/
- The One Wiki to Rule Them All: https://lotr.fandom.com/wiki/
- Tolkien Gateway: http://www.tolkiengateway.net/wiki/
- Tolkien Boardgames: https://www.freewebs.com/tolkienboardgamecollecting/
Outras referências
Bibliografia
- A Bíblia (1500 a.C. – 90 d.C.)
- A Ilíada (Homero, séc. VIII a.C.)
- Beowulf (séc. VIII)
- Edda em prosa (Snorri Sturluson, c. 1220)
- A Morte de Artur (Thomas Mallory. Séc. XV)
- Kalevala (Elias Lönnrot, 1849)
Eu nunca fui um admirador do mundo criado por Tolkkien. A primeira vez que ouvi falar dos livros foi em meados dos anos 90 e algumas pessoas que leram os livros diziam naquela altura que era muito difícil transpor tudo aquilo para cinema porque era tudo muito detalhado.
A trilogia dirigida por Peter Jackson é de facto uma obra grandiosa e épica, só possível fazer 3 filmes em 3 anos porque já tinham todo o apoio dos efeitos CGI e um orçamento brutal.
O ambiente dos filmes, diria eu, está mais próximo da cultura celta ou nórdica do que da cultura grega ou latina.
Não tenho nenhum filme preferido da trilogia. Diria que os três complementam-se perfeitamente.
Lembro-me de um aspeto curioso naqueles anos: a cerimónia dos Óscares deu apenas 1 ou 2 estatuetas aos dois primeiros filmes mas ao terceiro filme valeu-lhe 11 estatuetas! Eu pensei: “Será que o 3.º filme é tão díspar e muito mais espetacular do que os outros dois filmes? Claro que não! Então porquê esta enorme diferença de prémios?”.
Enfim… mas, por outro lado, estamos a falar dos Óscares e aquela gente que anda por lá tem menos credibilidade do que um gato a miar (pelo menos para mim).