Etiquetas
Armin Mueller-Stahl, Barbara Sukowa, Cinema, Cinema alemão, Drama, Helga Feddersen, Ivan Desny, Karin Baal, Mario Adorf, Matthias Fuchs, Novo cinema alemão, Rainer Werner Fassbinder
Em Coburg, em 1957, tudo vai bem entre poder político e económico, com o prefeito (Hark Bohm), o industrial (Mario Adorf) e o banqueiro (Ivan Desny) a serem alguns dos clientes assíduos do bordel local, onde trabalha Lola (Barbara Sukowa), e onde todos os negócios e formas de tornear a lei se discutem. Isto, até chegar à cidade o incorruptível comissário de planeamento Van Bohm (Armin Mueller-Stahl), disposto a pôr cobro à corrupção. O que ele não espera é conhecer Lola, que, intrigada por este homem diferente, se dispõe a conquistá-lo, para se sentir a dama honrada que ele pensa que ela é.
Análise:
Em 1981, Rainer Werner Fassbinder dava-nos aquele que ficou conhecido como o segundo filme da trilogia BRD – sucedendo a “O Casamento de Maria Braun” (Die Ehe der Maria Braun, 1978) e precedendo “A Saudade de Veronika Voss” (Die Sehnsucht der Veronika Voss, 1982) –, a qual se centrava na reconstrução RFA no pós-guerra. Desta vez, a história centra-se na vida social e autárquica de uma pequena cidade onde todos se conhecem, e tudo gira em torno do cabaré/bordel onde trabalha a cantora e prostituta Lola, interpretada por Barbara Sukowa.
Lola (Barbara Sukowa), tem uma filha, educada pela sua respeitosa mãe (Karin Baal), e trabalha num clube nocturno (que é também um bordel), por onde passa toda a vida da cidade, do músico Esslin (Matthias Fuchs), ao banqueiro (Ivan Desny), e principalmente do industrial Schuckert (Mario Adorf) ao prefeito (Hark Bohm). É ali, entre álcool e relações carnais, que tudo se decide. Pelo menos até à chegada do novo comissário de planeamento, Von Bohm (Armin Mueller-Stahl), um home íntegro, decidido a acabar com a corrupção, e admirado quer pela sua senhoria (nem menos que a mãe de Lola), quer pela secretária, a senhorita Hettich (Helga Feddersen). Por tanto ouvir falar neste homem diferente, Lola insiste em conhecê-lo, fazendo-se passar por senhora respeitável, e conquistando o inocente Von Bohm, num ápice. Só que, cedo, este é levado ao cabaré descobrindo quem ela é. Magoado, Von Bohm decide vingar-se na cidade, rejeitando todos os planos, e dificultando os negócios aos industriais, até estes perceberem que não o podem ter como inimigo. Sob o comando de Schuckert, é decidido casar Von Bohm com Lola, a qual recebe o cabaré como herança para a sua filha (também filha de Schuckert). Claro que nada mudará e esta continua a tomar todos como amantes, mas ao menos, enquanto não perceber, Van Bohm está apaziguado e cooperante.
Tal como os restantes filmes da trilogia BRD, “Lola” – passando-se nos anos 50 – tem como motor a caracterização da cidade do pós-guerra, que é de reconstrução, mas também de valores superficiais, onde o crescimento a todo o custo, entre corrupção e decadência moral é marcante. Desse ponto de vista, o filme pode ser visto quase como uma alegoria onde todas as personagens são personagens-tipo (o poder autárquico, o poder financeiro ligado à construção civil, os artistas decadentes e sem objectivos, as esposas complacentes e silenciosas, e, claro, a vida nocturna, representada por Lola e pela prostituição, álcool e alienação).
Destaca-se, claro está, a personagem nominal, Lola, interpretada por Barbara Sukowa, nova no cânone de Fassbinder. Num papel em que poderíamos imaginar Hanna Shygulla, Sukowa é sedutora, cínica, sonhadora e assertiva de um modo quase dominante. Alvo do interesse de diversos homens, ela parece conseguir dominá-los, vivendo do status quo por eles estabelecido, mas curiosa o suficiente para abarcar a mudança e o desafio representado pela chegada do homem diferente, o incorruptível Van Bohm. Nesse sentido, e com a queda de Van Bohm, perdido de amores e desgostoso por ter descoberto a verdade acerca de Lola, percebem-se alguns ecos de “O Anjo Azul” (Der blaue Engel, 1930), de Josef von Sternberg, e com Emil Jannings e Marlene Dietrich.
Mas mais que o ponto de vista pessoal – mesmo que várias personagens nos sejam apresentadas em detalhe – é a caracterização do momento social e político que interessa a Fassbinder. Por isso, seja na cama ou no escritório, são os negócios, os planos, e as formas de tornear a lei, que ocupam o papel central.
Tal como vinha acontecendo recentemente, “Lola” é um filme ao gosto bastante tradicional, com Fassbinder a explorar as suas paletas coloridas, para nos dar descrições fortemente garridas de ambientes, principalmente os nocturnos, plenos de vida, cor, luz e sensação, um pouco como fizera no recente “Lili Marleen”, do mesmo ano. Entre drama, retrato de época e sátira sócio-política, destaca-se sobretudo a força da interpretação de Barbara Sukowa, num filme que facilmente capturou o imaginário dos fãs do realizador.
Produção:
Título original: Lola; Produção: Rialto Film / Trio Film / Westdeutscher Rundfunk (WDR); Produtor Executivo: Harry Baer; País: República Federal Alemã (RFA); Ano: 1981; Duração: 115 minutos; Distribuição: Tobis (RFA), AMLF (França), Titanus (Itália); Estreia: 20 de Agosto de 1981 (RFA), 26 de Julho de 1984 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Rainer Werner Fassbinder; Produção: Horst Wendlandt, Wolf-Dietrich Brücker (WDR); Produção em Linha: Rainer Werner Fassbinder, Thomas Schühly; Argumento: Rainer Werner Fassbinder, Pea Fröhlich, Peter Märthesheimer; Música: Peer Raben, Freddy Quinn, Jean-Paul-Égide Martini (“Plaisir d’amour”); Fotografia: Xaver Schwarzenberger [cor por Fujicolor]; Montagem: Juliane Lorenz, Rainer Werner Fassbinder [como Franz Walsch]; Design de Produção: Raúl Gimenez, Udo Kier , Rolf Zehetbauer; Direcção Artística: Helmut Gassner; Figurinos: Barbara Baum, Egon Strasser; Caracterização: Edwin Erfmann, Anni Nöbauer, Hedy Polensky; Coreografia: Dieter Gackstetter; Direcção de Produção: Thomas Schühly.
Elenco:
Barbara Sukowa (Lola), Armin Mueller-Stahl (Von Bohm), Mario Adorf (Schuckert), Matthias Fuchs (Esslin), Helga Feddersen (Senhorita Hettich), Karin Baal (Mãe de Lola), Ivan Desny (Wittich), Elisabeth Volkmann (Gigi), Hark Bohm (Völker), Karl-Heinz von Hassel (Timmerding), Rosel Zech (Senhora Schuckert), Sonja Neudorfer (Senhora Fink), Christine Kaufmann (Susi), Y Sa Lo (Rosa), Günther Kaufmann (GI), Isolde Barth (Senhora Völker), Karsten Peters (Editor), Harry Baer (Manifestante), Rainer Will (Manifestante), Herbert Steinmetz (Recepcionista do Hotel), Nino Korda (Homem que Entrega a TV).