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The Christmas Chronicles Verdadeiros mentores do espírito natalício, Doug (Oliver Hudson) e Claire Pierce (Kimberly Williams-Paisley) sempre filmaram as festas de Natal familiares, nas quais foram documentando o crescimento dos seus dois filhos. Hoje, órfãos de pai, Teddy (Judah Lewis) e Kate (Darby Camp) têm modos muito diferentes de fazer face à perda. Enquanto o adolescente Teddy se vai rebelando contra a família e convivendo com más companhias, a pequena Kate tenta recordar o pai nos filmes antigos. É num deles que capta o que pensa ser o verdadeiro Pai Natal, o que a leva a convencer Teddy a esperar por ele na noite de Natal, acabando ambos no seu trenó, a ajudá-lo a completar a noite de entregas de presentes.

Análise:

Num ano em que os filmes produzidos e distribuídos por companhias de streaming – sobretudo a Netflix –, começam a tentar concorrer com aqueles feitos para as salas de cinema, nomeadamente no que diz respeito a um cinema mais comercial e de vertente familiar, chega, no Natal deste ano, “The Christmas Chronicles”, uma comédia familiar alusiva à quadra natalícia, e com dedo de Chris Columbus, que estreou em alguns cinemas, mas foi sobretudo distribuída nas plataformas de streaming na internet.

“The Christmas Chronicles”, que deve o título ao modo como a família Pierce costumava documentar em vídeo todos os seus Natais desde 2005, conta-nos como, agora em 2018, os filhos Teddy (Judah Lewis) e Kate (Darby Camp) lidam com a recente morte do pai Doug (Oliver Hudson), que era o verdadeiro espírito de Natal da família. Educados com dificuldade pela mãe Claire (Kimberly Williams-Paisley), os irmãos começam a afastar-se, com Teddy, um adolescente, a começar a procurar companhias problemáticas, enquanto Kate, ainda pequena, se vira para a memória do pai e tradições familiares numa ingenuidade própria da sua idade. Na noite de Natal, convencidos que viram algo num vídeo antigo, os irmãos resolvem montar uma armadilha ao Pai Natal (Kurt Russell), e acabam por descobrir e saltar para o seu trenó. Só que a presença inesperada dos jovens leva o Pai Natal a perder o controlo do trenó, deixando cair os brinquedos, e vendo as renas fugir desvairadamente. Sem o chapéu, que lhe permite viajar mais rápido que tudo, o Pai Natal teme que não cumprirá o seu programa de entregas, o que poderá levar o mundo a uma catástrofe. Os irmãos Pierce decidem então ajudá-lo, no que resulta em corridas de carros, uma passagem pela prisão, e uma fuga no dorso das renas, que os levam ao saco das prendas, de onde chega a necessária ajuda dos elfos. Fazendo dos irmãos seus ajudantes, o Pai Natal consegue distribuir todas as prendas nas horas que faltam, devolvendo os Pierce a casa, a tempo de verem a mãe chegar do emprego, agora que estão mais unidos que nunca e decididos a honrar a memória do pai.

Talvez o facto mais notável associado a “The Christmas Chronicles” seja a sua origem, isto é: a Netflix – verdadeiro gigante em crescimento que promete revolucionar o modo como nos relacionamos com o cinema. Esquecendo esse facto, o filme de Clay Kaytis – até aqui com carreira de animador na Walt Disney, e com o crédito de realização de “Angry Birds: O Filme” (The Angry Birds Movie, 2016) – é mais uma comédia que gira em torno da ideia recorrente do rito de passagem que é o momento em que deixamos de acreditar no Pai Natal. Mesmo que ninguém que veja o filme (a menos que tenha idade inferior a 6 anos) nele acredite, essa nostalgia pelo momento de inocência passada em que tudo nos pareceu mágico continua a alimentar a chama de muitos filmes, como é o caso.

Apropriadamente, o filme dá-nos dois irmãos, em que o mais velho já abraçou o cinismo, e se dedica a comportamentos menos lícitos, enquanto a mais nova, ainda se agarra a esses momentos de credulidade que, afinal, são a ligação para todas as memórias do seu pai, guardadas nos vídeos caseiros em que o Natal era uma enorme aventura. Destaque-se o início comovedor em que, vamos passando pela história da família de vídeo em vídeo (em excertos de poucos segundos para cada Natal), até sermos levados ao momento presente em que só uma pessoa (a pequena Kate) olha já para os vídeos, agora que o pai já morreu.

Esse redescobrir (ou voltar a acreditar) na magia da inocência de outros tempos concretiza-se com o aparecimento de um Pai Natal que, mesmo não sendo o mais ortodoxo (queixa-se o desenharem sempre gordo quando não o é, ri-se de ver a sua barba grisalha sempre pintada de um puro branco, e resmunga que nunca disse “Ho! Ho! Ho!”), e deixando-se irar de vez em quando, acaba por ser bonacheirão, e tomar os jovens debaixo da sua asa, para uma aventura algo rocambolesca, que envolve denunciar sonhos de infância de adultos num bar, um recontro com a polícia, uma passagem pela cela da esquadra onde se improvisa uma banda rock (note-se a presença de Steve Van Zandt – o guitarrista de Bruce Springsteen – entre os encarcerados), e por fim, uma luta com gangsters.

Com momentos bem dispostos, um Pai Natal algo surpreendente (Kurt Russell brilha ao agarrar um papel bem contra o estereótipo que lhe é associado) e uma forte dependência dos efeitos especiais e CGI (dos voos às renas, elfos e velocidade do Pai Natal) – o que não surpreende sabendo-se de onde vem Clay Kaytis –, o filme não é necessariamente original, tendo inclusivamente várias falhas de ritmo, e momentos dispensáveis. Ainda assim, pela cor da aventura e relação entre os jovens irmãos, é mais um filme para dispor bem a família na quadra natalícia.

Destaque ainda para o curto cameo de Goldie Hawn como Mãe Natal no final do filme, ela que tem sido a companheira de Kurt Russell nos últimos trinta e tantos anos.

Darby Camp, Judah Lewis e Kurt Russell em "The Christmas Chronicles" (2018), de Clay Kaytis

Produção:

Título original: The Christmas Chronicles; Produção: 1492 Pictures, Madhouse Entertainment, Netflix, Wonder Worldwide; Produtores Executivos: Lyn Lucibello-Brancatella, Monica Lago-Kaytis, Michelle Miller, Tracy K. Price, William V. Andrew, Adam Kolbrenner, Robyn Meisinger, David Guggenheim; País: EUA; Ano: 2018; Duração: 84 minutos; Distribuição: Netflix; Estreia: 22 de Novembro de 2018 (EUA, Argentina, Espanha, Singapura, internet).

Equipa técnica:

Realização: Clay Kaytis; Produção: Chris Columbus, Mark Radcliffe, Michael Barnathan; Co-Produção: Karen Swallow; Produtora Associada: Anna Barnathan; Argumento: Matt Lieberman [a partir de uma história de Matt Lieberman e David Guggenheim]; Música: Christophe Beck; Fotografia: Don Burgess [fotografia digital]; Montagem: Dan Zimmerman; Design de Produção: Paul D. Austerberry; Direcção Artística: Kimberley Zaharko; Cenários: Patricia Larman; Figurinos: Luis Sequeira; Caracterização: Leslie Ann Sebert; Supervisão de Animação: Jye Skinn; Efeitos Especiais: Daniel Gibson; Efeitos Visuais: Erik Jan de Boer; Direcção de Produção: Betsy Megel.

Elenco:

Kurt Russell (Pai Natal), Judah Lewis (Teddy Pierce), Darby Camp (Kate Pierce), Lamorne Morris (Agente Mikey Jameson), Kimberly Williams-Paisley (Claire Pierce), Oliver Hudson (Doug Pierce), Martin Roach (Agente Dave Poveda), Vella Lovell (Wendy), Goldie Hawn (Mãe Natal), Tony Nappo (Charlie, o Barman), Jameson Kraemer (Freddy), Lauren Collins (Mulher na Outra Mesa), Seth Mohan (Vijay), Kayla Lakhani (Beena), Glen McDonald (Larry), Danielle Bourgon (Sheila), Steven Van Zandt (Wolfie), Marc Ribler (Dusty), Elizabeth Phoenix Caro (Alicia Sanchez).

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