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Cinema, Drama, Edna Best, Gregory Ratoff, Ingrid Bergman, John Halliday, Leslie Howard, Romance
Holger Brandt (Leslie Howard), um famoso violinista de concerto, regressa a casa na Suécia, depois de mais uma digressão internacional. Aí esperam-no a esposa Margit (Edna Best) e os filhos Charles (Cecil Kellaway) e Ann Marie (Ann E. Todd), a qual já mal se lembra dele. Quem também está presente é Anita Hoffman (Ingrid Bergman), a professora de piano de Ann Marie, e figura assídua em casa dos Brandt. Numa das festas de família, após um fogoso dueto de violino e piano entre Holger e Anita, a chama da paixão acende-se entre ambos. Holger convence Anita a viajar consigo, mesmo deitando a perder o seu casamento, e a carreira que ela ainda persegue.
Análise:
Pelas mãos de David O. Selznick, que no final desse ano traria Alfred Hitchcock para os Estados Unidos, chegava, meses antes, a actriz sueca Ingrid Bergman, que se tornaria uma das maiores divas da era clássica de Hollywood – e, curiosamente, actriz importante na carreira do mestre do suspense. O filme escolhido para lançar Bergman, seria o remake do seu anterior filme “Intermezzo” (1936), dirigido, na Suécia, por Gustaf Molander, tendo a música clássica como protagonista.
Nele, Holger Brandt (Leslie Howard) é um violinista de concerto, que depois de mais uma digressão internacional, regressa à família, onde o espera a saudosa esposa Margit (Edna Best) e os filhos Charles (Cecil Kellaway) e Ann Marie (Ann E. Todd). Regressado à beatitude familiar, Holger conhece Anita Hoffman (Ingrid Bergman), a professora de piano da sua filha, e após a química musical que eles revela juntos, apaixonam-se. A início Anita evita que a relação avance, pois tem uma carreira a conquistar ainda, e ele é casado. Mas Holger, convida-a para que o acompanhe ao piano na sua próxima digressão, e o par vive essas viagens entre cidades e concertos como uma lua-de-mel. Só que, a chegada da carta de uma bolsa para estudar em Paris, e o alerta do tutor e amigo Thomas Stenborg (John Halliday), que a lembra que nenhuma felicidade se constrói sobre o sofrimento de outros leva Anita a decidir-se pela separação, enviando Holger para casa, onde a família está disposta a perdoar-lhe.
Mantendo muito do argumento original – incluindo a maioria dos nomes, e a Suécia como pátria dos protagonistas –, Selznick decidiu apostar no seguro, usando um filme onde Ingrid Bergman brilhara antes no seu país, como forma a apresentar ao público norte-americano. Ainda com um audível sotaque sueco, Ingrid espalha candura e emoção num filme que é desenhado como um melodrama, e, ainda que simples, e de certo modo limitado, consegue atingir os seus propósitos.
Sempre com a música em primeiro plano (desde as primeiras imagens), a realização suave de Gregory Ratoff deixa os dois protagonistas tomar a direcção dos acontecimentos, num enredo que é simultaneamente aquilo que se prevê e uma espécie de tragédia anunciada. É interessante fazer aqui um paralelismo entre Ingrid Bergman e a outra actriz sueca que uma mais de uma década antes tomara Hollywood de assalto: Greta Garbo. Garbo trouxera como personagem tipo uma mulher fatal, destruidora de lares, muitas vezes caída em desgraça e pagando caro por isso. É curioso ver que a Anita de Ingrid Bergman tem esse mesmo papel, com uma nuance, arrepende-se a tempo, e devolve o amante à família, para um final feliz. Afinal, estávamos já em 1939, e o Código de Hays já imperava – note-se como, mesmo depois de andarem juntos como casal pela Europa, Holger e Anita ainda são mostrados a dormir em quartos distintos.
Embora simples e directo, “Intermezzo” – que ganha o nome da peça musical de Heinz Provost, que é várias vezes executada – não deixa de ter alguns pontos de interesse, como o facto de inicialmente Holger não reparar em Anita, e o enamoramento se dar num dueto de violino e piano em que eles recriam o célebre concerto de piano de Edvard Grieg. Pela negativa, temos os clichés do melodrama, como o são o apelo às crianças para fazer a traição de Holger parecer mais cruel – ele que sempre que vê uma criança sente o peso da sua decisão – e o acidente da filha Ann Marie, catalisador da reunião familiar.
De notar que a preocupação com o lado musical levou a que tanto Leslie Howard como Ingrid Bergman fossem treinados na execução de violino e piano, respectivamente. Assim, embora as partes musicais sejam tocadas por músicos profissionais, todas as cenas de piano mostram Ingrid Bergman a executar correctamente. Já Leslie Howard teve mais dificuldade, sendo os grandes planos das mãos de Holger filmados fazendo uso de um duplo.
“Intermezzo” seria nomeado para dois Oscars da Academia: Melhor Banda Sonora e Melhor Fotografia, mas o seu verdadeiro prémio era a revelação de Ingrid Bergman, que aliava uma beleza inconfundível a uma serenidade e subtileza dramática que fariam dela, em poucos anos, uma das maiores estrelas de sempre.
Produção:
Título original: Intermezzo: A Love Story; Produção: Selznick International Pictures; Produtores Executivos: ; País: EUA; Ano: 1939; Duração: 67 minutos; Distribuição: United Artists; Estreia: 6 de Outubro de 1939 (EUA), 13 de Maio de 1940 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Gregory Ratoff; Produção: David O. Selznick; Produtor Associado: Leslie Howard; Argumento: George O’Neil [a partir de uma história de Gösta Stevens e Gustaf Molander]; Música: Robert Russell Bennett [não creditado], Max Steiner [não creditado]; Direcção Musical: Louis Forbes; Fotografia: Gregg Toland, Harry Stradling Sr. [não creditado] [preto e branco]; Montagem: Hal C. Kern, Francis D. Lyon; Direcção Artística: Lyle R. Wheeler; Figurinos: Travis Banton, Irene; Caracterização: Monte Westmore; Efeitos Especiais: Jack Cosgrove.
Elenco:
Leslie Howard (Holger Brandt), Ingrid Bergman (Anita Hoffman), Edna Best (Margit Brandt), John Halliday (Thomas Stenborg), Cecil Kellaway (Charles), Enid Bennett (Greta), Ann E. Todd (Ann Marie), Douglas Scott (Eric), Eleanor Wesselhoeft (Emma), Maria Flynn (Marianne).