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Cinema, Clint Eastwood, Podcast, Segundo Take, Star Wars, Universos Paralelos, Western
Pode ouvir aqui o décimo episódio de Universos Paralelos:
PODCAST
E ler a respectiva folha de sala aqui:
FOLHA DE SALA
Universos Paralelos é um programa da autoria de António Araújo (Segundo Take), José Carlos Maltez (A Janela Encantada) e Tomás Agostinho (Imaginauta), produzido e apresentado mensalmente no podcast Segundo Take.
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Eu, à semelhança dos intervenientes deste podcast, também comecei a ver westerns durante a infância. A partir daí passou a ser o meu género cinematográfico favorito mas sempre odiei os tais “cowboys cantores”.
Além dos filmes que passavam na televisão nos fins de semana, também gostava de ver séries western, nomeadamente “Bonanza” ou “The Rifleman”.
O western foi um tipo de cinema sempre em crescendo até finais dos anos 50 e inícios dos anos 60. Até então fez-se tantos westerns que o público ficou saturado. Há quem diga que o prego final no caixão do western clássico americano foi “How the West Was Won – A Conquista do Oeste”, uma mega produção de 1962 dirigida por 3 realizadores diferentes.
Os westerns italianos vieram dar nova vida ao género. Deram uma perspetiva mais crua, violenta, cínica e realista. Os de Sam Peckinpah também foram importantes nesse sentido.
Sobre estes 4 westerns de Clint Eastwood, o que menos gosto é “O Rebelde do Kansas”. Provavelmente os fantoches que pertencem ao partido político PAN ficariam muito indignados e iriam fazer um cordão humano muito fofinho em solidariedade com os cães porque nesse filme Josey Wales passa boa parte do tempo a cuspir tabaco de mascar para cima da cabeça de um cão. 🙂
“Imperdoável” teve a consagração dos Óscares mas não é o que gosto mais.
“O Pistoleiro do Diabo” e “Pale Rider” são os meu favoritos. O ambiente de ambos os filmes são muito semelhantes.
Para mim, o protagonista de “High Plains Drifter” é mesmo um fantasma! Essa versão de que o forasteiro afinal é o irmão do xerife assassinado não cola! Se Eastwood disse isso, deve ter sido para desviar atenções ou então tinha bebido umas minis a mais naquele dia! Ele está no quarto a sonhar que está a levar chicotadas, ele assusta-se quando ouve o som do chicote a estalar (quando chega a Lago) e o diálogo final com o anão sugerem de facto que é um espírito que voltou para se vingar.
Nas versões espanhola e francesa, o diálogo original (“I never did know your name!”; “Yes, you do.”) foi alterado e passou a ser isto: “Eu nunca soube o seu nome”; e a resposta: “Sabes, sim, porque esse que está aí enterrado é o meu irmão”. Essa alteração quebrou por completo (erradamente, na minha opinião) a ideia de que o forasteiro é o fantasma do xerife assassinado nas ruas de Lago.
Além disso, antes do xerife morrer ele diz “Damn you, go to hell”. É por isso que a cidade é pintada de vermelho e é por isso que na tabuleta da cidade é escrito a palavra “Hell – Inferno”.
É impossível toda esta informação estar na posse do “irmão do xerife” porque ele não estava lá quando tudo aconteceu.
O tratamento dado às mulheres é um ponto interessante que foi abordado no podcast mas que nunca me tinha debruçado sobre ele. Em “Imperdoável”, as mulheres do saloon são vista (por quase todos) como objetos sexuais que só servem para usar e deitar fora. A conversa entre William Munny e a rapariga da cara cortada é um grande momento: “Tu não és feia como eu. Eu queria apenas dizer que ambos temos cicatrizes. Mas se eu quisesse ir para a cama com alguém ia contigo e não com as outras. Mas não posso, por respeito à minha mulher”.
Em “Pale Rider” parece haver realmente atração sexual entre Megan e o Pregador mas este tem uma atitude nobre e correta. No entanto, não recusou ter sexo com a mãe de Megan, na noite antes do duelo decisivo com Stockburn.
Em “O Pistoleiro do Diabo”, é tudo à bruta! Marianna Hill é violada e ninguém quis saber. Quando se quis vingar, no momento em que o forasteiro está na banheira, ele pergunta: “Porque é que ela demorou tanto a ficar zangada?” e o anão responde “Porque você não voltou para lhe dar mais”. Verna Bloom é levada pelo forasteiro para o seu quarto e o marido (o dono do hotel) também não faz nada.
Circula uma história (não sei se é verdade) que John Wayne terá escrito uma carta a Eastwood, a criticá-lo que o western não deve ser nada daquilo, que não deve ter esses momentos de sadismo e violência. Eu partilho a visão de Eastwood e não a de Wayne. Para mim, o western tem de ver duro, violento, não pode ter “paninhos quentes” porque a vida no Oeste Americano era de facto muito difícil e sem lei.
“O Justiceiro Solitário” e “O Pistoleiro do Diabo” tiveram o mesmo diretor de fotografia, Bruce Surtees, que criou em ambos os filmes cenas excelentes repletas de sombras, para acentuar ainda mais a ideia de que “Preacher” e “Stranger” são seres sobrenaturais invocados por súplicas, rezas ou maldições.
Os anos 80 tentaram revitalizar o western mas era uma tarefa impossível. Além de “Silverado” (que eu não gosto muito), destaco também “Young Guns – Jovens Pistoleiros”, com Emilio Estevez, Kiefer Sutherland e os veteranos Jack Palance e Terence Stamp.
Sendo eu grande fã de westerns, não me chateia absolutamente nada que hoje em dia não se produza westerns porque, segundo a minha visão, assim não estragam o que de bom foi feito ao longo da história do cinema. Os melhores westerns já foram feitos e já ninguém consegue sequer chegar perto da qualidade e do carisma das obras de outrora.
Nota final: muitos dizem que a fonte de inspiração de “O Pistoleiro do Diabo” foi um western-spaghetti de 1969 realizador por Sergio Garrone chamado “Django, il Bastardo” (em Portugal, “O Sinal de Django”). É um western sobrenatural, gótico, noturno e o protagonista também é um fantasma que voltou para se vingar de 3 homens.
Parabéns pelo excelente podcast. Não vou escrever mais nada porque já chateei bastante!
Um abraço!