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The Forbidden Kingdom Jason Tripitikas (Michael Angarano) é um adolescente de South Boston, que vive o tempo a ver (e sonhar com) filmes de artes marciais chinesas, que descobre numa loja de Chinatown, mantida por um vendedor idoso (Jackie Chan). Um dia, quando uns colegas que estão sempre a maltratá-lo tentam assaltar a loja, o líder, Lupo (Morgan Benoit), acaba por disparar sobre o velho chinês e perseguir Jason para que este não fale. Encontrando um bastão mágico, Jason usa-o para se defender, e acaba transportado para uma China antiga, onde um guerreiro maltrapilho (Jackie Chan) o vai convencer de que aquele bastão trará equilíbrio ao mundo, libertando o mítico Rei Macaco (Jet Li).

Análise:

Com o sucesso internacional (e aclamação crítica) de alguns dos filmes do wuxia do século XXI, não seria de estranhar que a indústria de Hollywood tentasse, mais cedo ou mais tarde, explorar esse filão. Se o fez algumas vezes, sem grande sucesso, quer artístico quer financeiro – e a sequela de “O Tigre E o Dragão” (Wo hu cang long, 2000), de Ang Lee, é apenas um exemplo, – uma ou outra vez conseguiu um filme portador de algum mérito. É o caso da co-produção entre Estados Unidos, China e Hong Kong “O Reino Proibido”, filme realizado pelo norte-americano Rob Minkoff, que tinha no curriculum ter realizado o sucesso animado da Disney “O Rei Leão” (The Lion King, 1994), e que se arrogava de ser o primeiro filme de sempre a juntar as duas mais mediáticas estrelas cinematográficas de artes marciais em actividade: Jackie Chan e Jet Li, numa adaptação livre do romance do século XVI “Journey to the West” de Wu Cheng’en.

Colocando-nos no momento contemporâneo nos Estados Unidos, conhecemos Jason Tripitikas (Michael Angarano), um adolescente que vive enfiado em casa a ver (e sonhar com) filmes de artes marciais chinesas, que obtém numa loja mantida por um vendedor chinês muito idoso (Jackie Chan). Um dia, uns colegas que passam o tempo a atormentá-lo, fazem-no introduzi-los na loja para a roubar. Na confusão o líder, Lupo (Morgan Benoit) dispara contra o velho vendedor, e persegue Jason para impedir que este o denuncie. Jason, para se defender, agarra um bastão da loja, e este fá-lo cair do prédio, só que Jason vai parar noutro mundo, uma China antiga, domínio de magia, onde o bastão é procurado, pois só ele pode trazer de volta o mítico Rei Macaco, que deporá o tirano Jade Warlord (Collin Chou). Isto é-lhe dito pelo guerreiro bêbedo Lu Yan (Jackie Chan), que convence Jason de ser um imortal. No caminho, vão encontrar Pardal Dourado (Liu Yifei) e o monge guerreiro (Jet Li), e juntos vão derrotar as tropas enviadas contra eles, comandadas pela bruxa Ni Chang (Li Bingbing). Quando Lu Yan é ferido mortalmente, Jason (que entretanto vai aprendendo artes marciais) resolve levar o bastão em segredo a Jade Warlord, em troca de um elixir da vida, mas este coloca-o a lutar com Ni Chang por ele, e Jason está prestes a ser morto quando os amigos chegam, obtêm o elixir, salvam Lu Yan, e, no combate final, fazem voltar o Rei Macaco (do qual o monge guerreiro era uma espécie de avatar) que derrota o tirano. Como prémio, Jason recebe a possibilidade de regressar a casa, acordando no chão à beira do prédio de onde caía. Aí, derrota Lupo usando kung fu, e descobre que o velho vendedor (que não é mais que Lu Yan, envelhecido), continua vivo, feliz de ver que o jovem ter completou a missão.

Com um prólogo e epílogo que nos mostram um rapaz de Boston, em problemas de afirmação perante os seus pares, e refugiando-se nos filmes de artes marciais, que no final lhe darão a lição de crescimento que precisa para afrontar os seus medos e escolher o seu caminho (literalmente, dar uma tareia nos bullies que antes o atormentavam), “O Reino Proibido” perfila-se assim como uma espécie de herdeiro de “Momento da Verdade” (Karate Kid, 1984), de John G. Avildsen, ou de “Gremlins – O Pequeno Monstro” (Gremlins, 1984), de Joe Dante, no sentido em que conta uma história coming of age, onde a visita a Chinatown serve quase como um portal para um exotismo místico, metáfora de aprendizagem e crescimento. Só que, passado esse portal, tudo muda, e encontramo-nos em território wuxia mais tradicional.

Desta vez, esse território é além do mais mágico. Somos transportados para um plano diferente, fruto de mitologia, com reis e tiranos que disputam magias, e um guerreiro fantasioso preso dentro de uma estátua. O filme torna-se assim, mais que tudo, uma aventura, que nada deve aos tradicionais dramas de matriz shakespeariana. Em “O Reino Proibido” o que conta é a viagem que leva ao recrutamento de coadjuvantes, que farão o nosso herói aprender e crescer, até ao confronto final, em que os «maus» serão derrotados, tudo será posto no lugar e o universo volta a ganhar ordem. Por outras palavras, estamos na presença do mais antigo dos contos, ou, se quisermos, na presença de material de contos de fadas.

E como bom filme de aventuras, é nas sequências de acção que tudo se define. Seja a introdução de personagens e sua caracterização (quer de personalidade, quer do lado em que estão), e mesmo o desenrolar do enredo, na série de obstáculos a ultrapassar (como se de um videojogo se tratasse) para irmos passando de nível até ao confronto final. Acrescente-se que as sequências de acção são bem filmadas, numa coreografia de cortar o fôlego (da responsabilidade do mestre Yuen Woo Ping), todas elas com equilíbrio e interesse narrativo, com espaço para o humor habitual em Jackie Chan, e com um Jet Li de duplo papel (sisudo como monge, irreverente como Rei Macaco). Embora com alguns cenários naturais de belo efeito, nota-se no entanto um maior recurso ao CGI que o que é feito nos clássicos chineses a que este filme se compara, retirando-lhe pujança, e relegando-o para uma simples curiosidade.

Como tal, e sabendo que não se deve levar demasiado a sério – algo que Jackie Chan sabe tão bem fazer – “O Reino Proibido” é entretenimento que não desilude quem não procura algo mais profundo.

Jet Li e Jackie Chang em "O Reino Proibido" (The Forbidden Kingdom, 2008), de Rob Minkoff

Produção:

Título original: The Forbidden Kingdom; Produção: Casey Silver Productions / Relativity Media / China Film Co-Production Corporation / Huayi Brothers Media; Produtores Executivos: Ryan Kavanaugh, Yuen Woo Ping, Wang Zhongjun, Jon Feltheimer, Rafaella De Laurentiis; País: EUA / China; Ano: 2008; Duração: 104 minutos; Distribuição: Lionsgate (EUA), Huayi Brothers Media (China), Huayi Brothers Media (Hong Kong); Estreia: 4 de Abril de 2008 (EUA), 15 de Maio de 2008 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Rob Minkoff; Produção: Casey Silver; Produtores Associados: Philip Lee, Mathew Tang; Argumento: John Fusco [a partir de uma história de Wu Cheng’en]; Música: David Buckley; Supervisão Musical: Adam Smalley; Fotografia: Peter Pau [fotografia digital]; Montagem: Eric Strand; Design de Produção: Bill Brzeski; Direcção Artística: Lam Che Kiu [como Eric Lam]; Cenários: Lan Bin, Wen Yu Ci; Figurinos: Shirley Chan; Caracterização: Mark Garbarino; Efeitos Visuais: Ron Simonson; Coreografia: Yuen Woo Ping; Direcção de Produção: Johnny Wang.

Elenco:

Jackie Chan (Lu Yan / Velho Lojista), Jet Li (Rei Macaco / Monge Silencioso), Collin Chou (Jade Warlord), Liu Yifei (Pardal Dourado / Rapariga de Chinatown), Li Bingbing (Ni Chang), Michael Angarano (Jason Tripitikas), Deshun Wang (Imperador de Jade), Juana Collignon (Rapariga de South Boston), Morgan Benoit (Lupo), Jack Posobiec (Jovem de South Boston), Thomas McDonell (Jovem de South Boston), Zhi Ma Gui (Velha Senhora), Shen Shou He (Camponês), Jiang Bin (Jovem aldeão), Yang Shaohua (Soldado Jade), Zeng Yu Yuan (Estalajadeiro), Liu XiaoLi (Rainha Mãe).

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