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The Emperor and the Assassin No século III a.C., Ying Zheng (Xuejian Li), o rei de Qin, é recordado diariamente do designío família de se tornar senhor único de toda a China. Acabado de triunfar em Han, Ying Zheng enfrenta oposição interna, com o primeiro-ministro (Chen Kaige), a rainha-mãe (Yongfei Gu) e o amante desta, o Marquês Changxin (Zhiwen Wang), a alertarem-no para os perigos de unir os outros reinos contra ele. A solução chega pela parte da amante, a senhora Zhao (Li Gong), a qual vai, em cumplicidade com o rei, a Yan contratar um assassino para tentar matá-lo, e assim dar-lhe um pretexto para invadir Yan. O escolhido é Jing Ke (Fengyi Zhang), um assassino caído em desgraça, cuja reencontrada compaixão levará a que a senhora Zhao se apaixone por ele.

Análise:

Visto, a par de Zhang Yimou, como um dos expoentes da chamada quinta geração do cinema chinês, aquela que voltou a pôr a cinematografia do grande continente na agenda internacional, Chen Kaige habituou os seus a grandes produções, de um enorme formalismo, senão mesmo academismo, onde o presente chinês é questionado de modo algo incómodo, mesmo que para tal tenha de recorrer a analogias provenientes de contos históricos e lendários, de enorme beleza plástica.

É o que acontece em “O Imperador e o Assassino”, um filme que narra os acontecimentos do terceiro século antes de Cristo, num momento em que Ying Zheng (Xuejian Li), o rei de Qin, se dedicava a conquistar os restantes seis reinos que integravam a China (de uma centena que no século precedente se foram fundindo nos sete reinos sobreviventes), no sentido de se tornar imperador único. Depois da brutal conquista de Han, Ying Zheng teme que avançar sem desculpas leve à união dos outros reinos contra si. É a sua concubina, a senhora Zhao (Li Gong) quem propõe uma solução, queimando a cara para aparentar um castigo do rei, e dirigindo-se a Yan com o príncipe até aí refém (Zhou Sun), sob o pretexto de contratar um assassino para matar ao rei de Qin, que assim, descoberta a tentativa, poderia invadir Yan. Mas a traição do Marquês Changxin (Zhiwen Wang) amante de sua mãe (Yongfei Gu), bem como a descoberta através do primeiro-ministro Lu Buwei (Chen Kaige) de que Ying Zheng é filho deste e não do anterior rei, leva-o a endurecer posição, e invadir violentamente o reino de Zhao, onde em criança fora refém.

Em Yan, a senhora Zhao recruta um assassino, na pessoa de Jing Ke (Fengyi Zhang), o qual, depois de um incumbência passada o levar a causar a morte de uma rapariga cega (Xun Zhou), perdeu toda a vocação, e vive agora como pedinte. Resistindo a tortura, Jing Ke é permeável à compaixão da senhora Zhao, apaixonando-se por ela. E quando o príncipe de Yan ameaça matá-la, Jing Ke aceita a incumbência. A proximidade entre a senhora Zhao e Jing Ke leva-os a relacionar-se amorosamente, mas quando ela descobre o que o rei de Qin está a fazer na sua terra natal de Zhao, decide voltar ao plano original, enviando Jing Ke para a capital de Qin, embora ambos saibam que ele não regressará. Na planeada entrevista com o rei, Jing Ke tenta matá-lo, mas vê-se traído, com a sua espada quebrada, sendo morto em inúmeras estocadas por Ying Zheng, o qual vê a senhora Zhao chegar, não para voltar a estar com ele, como era o plano inicial, mas para ir embora com o corpo de Jing Ke.

Com uma narrativa dividida em cinco capítulos, os quais se reportam a momentos e espaços distintos, com uma relação temporal nem sempre clara, “O Imperador e o Assassino” é uma super-produção que não se poupa a esforços na cenografia e guarda-roupa, definição de interiores e exteriores, uso e movimentação de figurantes, para contar uma história, hoje quase mítica, da origem daquele que seria chamado o Primeiro Imperador. Com o objectivo idílico de criar um mundo onde reine a paz «para todos os que vivem debaixo do céu», e métodos sangrentos e vingativos para o obter, Ying Zheng mostra-se tanto sonhador e poético como cruel, numa dicotomia que vai conduzir a sua acção e a daqueles que o rodeiam. Entre estes está a sua amante, a senhora Zhao, que o acompanha desde a adolescência, em Zhao, onde ele foi refém, mas que hoje já custa a rever nele os ideais de paz que o guiavam. Mas o carisma dele ainda a convence a embarcar num plano elaborado o qual vai transformar a relação entre ambos.

Misto de drama épico de acção e de intriga trágica shakesperariana, o filme de Kaige Chen lida tanto com as grandezas externas, como com as verdades interiores. Senão vejamos: o rei é uma criança que ainda é constantemente lembrado do desígnio de família, deixa-se abalar pela traição da rainha-mãe, que tem um amante e filhos de que ele não sabe, e embora um guerreiro feroz, é emocionalmente dependente daquela que ama, mas que sente fugir-lhe. Esta, numa vida de submissão ao amante, escolhe ver o mundo pelos seus olhos, e é através da dor de um ex-assassino que vai encontrar uma nova compaixão que pode ser a sua ruína. Por sua vez, o assassino, deixou uma vida de ódio, quando confrontado com uma criança que não conseguiu matar, será trazido de volta a esse caminho, quando vê as crianças mortas pelo rei que Qin, e pelo amor descoberto, na pessoa da senhora Zhao. No final, mais que conquistas e guerras, é das relações entre estas três pessoas que se tece a história, que termina num rei triunfante, mas interiormente arrasado por ter perdido aquela que sempre amou para o homem enviado para o matar.

Com a lentidão reverencial do género, as habituais sequências de movimentos de tropas e lutas de espadas, faustosas cenas de batalha (incluindo o trágico massacre das crianças) e interiores riquíssimos e opulentos, muito de “O Imperador e o Assassino” é composto de um cerimonial teatral que quase nos escapa. A sua estrutura complexa, e passeio por diferentes teatros de acção tornam-no, no entanto, uma peça viva, sempre em evolução, onde os confrontos interiores são tocantes e a intriga sempre cativante, com a serena, mas imponente interpretação de Li Gong no centro, numa personagem cuja evolução acontece perante os nossos olhos, mas cujas verdadeiras intenções nem sempre nos são claras, o que ajuda à criação de tensão durante grande parte do filme.

O lado trágico de “O Imperador e o Assassino” tem levado a que o filme seja frequentemente comparado com as tragédias gregas. Temos uma espécie de morte anunciada, e propósitos frustrados desde a origem (não só o assassinato, mas o amor, e o ideal de bondade do rei). Temos sobretudo a evolução de um rei que tem boas intenções, mas só triunfa quando se torna sanguinário, invadindo, massacrando e eliminando todos em volta. Em contraposição temos o assassino, que de mau passa a bom, pela compaixão pela criança morta, e pelo amor pela senhora Zhao. Entre eles, temos o papel feminino que, tentando salvar dois homens (o imperador e o assassino), causa a mudança do primeiro – que ao perder causas mais elevadas, se torna ele um assassino –, e do segundo – que se retira de uma vida pacífica para morrer ao tentar matar o primeiro.

“O Imperador e o Assassino” foi um portento no estudo de uma época e esforço de reconstituição de locais, arquitecturas, vestuário e comportamentos, tornando-se a mais cara produção do cinema chinês até então. O palácio Xianyang, onde decorre parte da acção foi construído de raiz, tornando-se depois um parque temático aberto aos turistas, o mesmo tendo acontecido com outros dos locais descritos no filme.

Competindo em Cannes, pela Palma de Ouro, “O Imperador e o Assassino” venceria o Grande Prémio de Técnica, enquanto na China recebia prémio de Melhor Fotografia nos Galos Dourados.

Li Gong em "O Imperador e o Assassino" (Jing Ke ci Qin Wang, 1998), de Chen Kaige

Produção:

Título original: Jing Ke ci Qin Wang/荊軻刺秦王 [título inglês: The Emperor and the Assassin]; Produção: Shin Corporation / Canal+ / New Wave Company / Beijing Film Studio / Nippon Film Development and Finance / China Film Co-Production Corporation / Pricel; Produtores Executivos: Hiromitsu Furukawa, Sanping Han, Tsuguhiko Kadokawa; País: China / Japão / França; Ano: 1998; Duração: 161 minutos; Distribuição: Sony Pictures Classics [EUA]; Estreia: 8 de Outubro de 1998 (China).

Equipa técnica:

Realização: Chen Kaige; Produção: Kaige Chen, Satoru Iseki, Shirley Kao; Produtores Associados: Philip Lee, Sunmin Park; Argumento: Kaige Chen, Peigong Wang; Música: Jiping Zhao; Orquestração: ; Fotografia: Fei Zhao; Montagem: Xinxia Zhou; Design de Produção: Qi Lin, Juhua Tu; Direcção Artística: Weihua Ji, Shudong Yang; Cenários: Zhenzhou Yi, Xiaoman Zhang; Figurinos: Qiuping Huang, Mo Xiaomin; Caracterização: ; Efeitos Especiais: Shaochun Liu; Efeitos Visuais: Katsuto Asahi; Direcção de Artes Marciais: Jiacheng Liu; Direcção de Produção: Xia Zhang.

Elenco:

Li Gong (Lady Zhao), Fengyi Zhang (Jing Ke), Xuejian Li (Ying Zheng), Yongfei Gu (Rainha Mãe), Zhiwen Wang (Marquês Changxin), Xiaohe Lü (General Fan Yuqi), Zhou Sun (Dan, Príncipe de Yan), Chen Kaige (Lu Buwei), Changjiang Pan (Carcereiro), Xun Zhou (Rapariga Cega), Benshan Zhao (Gao Jianli), Haifeng Ding (Qin Wuyang).

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