
O termo wuxia (武俠) é um termo chinês que significa literalmente “herói militar”, e se aplicou à literatura de aventuras de artes marciais de propensões fantásticas, onde o elemento “wu” designa a componente marcial e o termo “xia” o executante, geralmente descrito como “espadachim” (mesmo que a técnica não requeira espada) ou herói, especialista de uma dada técnica, e seguindo um código de honra (também ele denominado “xia”), geralmente ligado ao budismo.
Com histórias que já vêm de tempos tão antigos como o século III a.C., o período dos sete reinos em guerra, sua consequente unificação pelo rei de Qin, e tentativas de o assassinarem – antes de ele se tornar o primeiro imperador chinês, e construtor da Grande Muralha da China –, foram o tema das primeiras grandes obras dentro deste género, as quais marcam ainda o wuxia actual. Das sagas do século XIV, como “Romance dos Três Reinos” (de Luo Guanzhong), “Margem da Água” (de Shi Nai’an) ou “Jornada ao Oeste” (de Wu Cheng’en) até obras de autores recentes como Louis Cha e Gu Long, a popularidade do género tornou-o sempre profícuo por toda a história da China, mesmo quando algumas agendas políticas lhe tentavam reduzir a importância, sendo mesmo banido durante alguns períodos do século XX.
No cinema, os grandes filmes wuxia surgem na década de 1960, com a Shaw Brothers de Hong Kong à cabeça. Destacam-se realizadores como King Hu, Chang Cheh e Chor Yuen, que reinam no género durante duas décadas, vindo a diluir-se – em importância e conteúdo – a partir dos anos 80, quando surge já Tsui Hark. Foi já na entrada do século XX, e aproveitando o inesperado sucesso internacional da produção sino-americana do filme “O Tigre E o Dragão” (Wo hu cang long, 2000), realizado por Ang Lee – um taiwanês a trabalhar em Hollywood –, que o género despertou interesse fora da China, gerando uma nova tendência, aproveitada pelos realizadores da chamada quinta geração (como Zhang Yimou e Chen Kaige). O cinema wuxia moderno foi mesmo uma ferramenta de unificação cultural na China, com a junção dos chamados cinemas (tal como actores e autores) de Hong Kong, de Taiwan e da China continental.
Mesmo que pensados para um público mais internacional, estes filmes a que aqui se chama “Wuxia moderno” têm muito em comum com o wuxia tradicional, como sejam as histórias de heróis que têm de lutar pela sua honra e código ético, mesmo que isso os prejudique, narrativas complexas e cheias de surpresas, dramas de índole shakespeariana, uma fotografia deslumbrante, super-produções de elaborados cenários e guarda-roupas e enorme número de figurantes, e claro, muitas sequências de combate, de uma coreografia magistral e movimentos a lembrar bailados, onde os exageros de saltos e voos impossíveis funcionam como figuras estéticas.