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Betsy Baker, Bruce Campbell, Cinema, Ellen Sandweiss, Richard DeManincor, Sam Raimi, Terror, Theresa Tilly, Zombies
Cinco jovens do Michigan, Ashley ‘Ash’ J. Williams (Bruce Campbell), Cheryl (Ellen Sandweiss), Scott (Richard DeManincor), Linda (Betsy Baker) e Shelly (Theresa Tilly), vão passar uns dias numa casa isolada na floresta. Ao chegarem deparam com ruídos estranhos, e na cave encontram um antigo livro, e uma gravação que adverte para não o lerem, sob o perigo de acordarem espíritos demoníacos. Ignorando o aviso, os amigos lêem o livro, e despoletam uma série de ataques não naturais, que vão resultar em possessões demoníacas dos elementos do grupo, que logo atacam os companheiros sem qualquer piedade. A única forma de sobreviver é matar aqueles que já foram possuídos, o que se consegue decepando-os e mutilando-os o mais possível.
Análise:
Em 1978, Sam Raimi, então um jovem cineasta com apenas uma longa-metragem realizada, levava a cabo o projecto “Within the Woods”. Tratava-se de uma curta-metragem de terror sobrenatural, vocacionada para uma audiência ávida de gore, com a qual, o autor queria gerar financiamento para o seu novo projecto, um protótipo de um terror mais sangrento que o até aí já feito. O plano foi bem sucedido, e em 1981, com produção do próprio Raimi, e do seu habitual colaborador, e actor principal, Bruce Campbell, chegava “A Noite dos Mortos-Vivos”, ou mais simplesmente “The Evil Dead”, um filme destinado ao sucesso, e a gerar um mito, sequelas, e claro, muitas imitações.
Com um enredo extremamente simples, a cargo do próprio Raimi, “A Noite dos Mortos-Vivos” fala-nos de cinco jovens amigos, que vão passar uns dias numa casa de campo, isolada na floresta. Desde o início são dados indícios de desgraça, tanto no isolamento, como na ponte em ruínas que é o único acesso ao local, como, principalmente, na velha cabana, em cuja cave tenebrosa se esconde um livro demoníaco, entre objectos estranhos, onde existe também uma fita magnética com testemunhos assustadores. Tudo aponta para demónios que podem ser despertados ao invocar certas passagens do livro (escrito com sangue e forrado a pele humana). É claro que o quinteto o faz, e a partir daí, um por um, vão sendo possuídos, tornando-se uma espécie de zombies demoníacos, sedentos de sangue e morte, numa violência avassaladora.
Embora hoje, tudo no filme de Raimi nos pareça cliché (o grupo de jovens, o cenário de isolamento, as mortes violentas, o sobrenatural), o modo como tudo foi explorado tornou “A Noite dos Mortos-Vivos” um fenómeno de popularidade. Por um lado, o filme ganha por não se perder no pretensiosismo de explicações lógicas. Os jovens chegam à cabana, e antes de se pensar em muito mais, as imagens da câmara subjectiva em modo phantom ride, num voo rasteiro que deambula pela floresta vertiginosamente em direcção aos protagonistas, instala desde logo o clima de ameaça. E após a primeira leitura proibida do livro demoníaco, tudo se sucede rapidamente. O primeiro ataque mostra-nos a floresta a violentar (mesmo sexualmente) Cheryl (Ellen Sandweiss), a qual cedo se transforma em monstro e irá atacar os outros. Mesmo encerrada temporariamente no sótão, ela vê os amigos transformarem-se, e um por um tornarem-se máquinas assassinas. Tudo dá então motivo para muitas agressões, mutilações, muito sangue, e mortes macabras.
O nível de violência gráfica é tanto, que acaba por divertir, numa espécie de feira de efeitos, que torna cada momento um desafio no objectivo de superar o anterior. Cedo qualquer lógica desaparece, e todos os personagens passam a perceber que a ideia é matar (seja como for) para não ser morto, até sobrar apenas Ash (Bruce Campbell), o qual veria aqui o início de um mito (e de uma carreira) que ainda perdura.
“A Noite dos Mortos-Vivos” foi, antes de mais, um instrumento para Sam Raimi se divertir e explorar as suas ideias na busca de acção e emoções fortes, que delineariam a sua carreira daí em diante. Célebre é o seu uso de imensos duplos, substituindo os protagonistas em quase todas as cenas em que é preciso mostrar apenas alguém de costas, ou apenas uma mão, ou parte do corpo, como modo de acelerar uma produção, muitas vezes conseguida com recursos de baixo custo, muita improvisação, e um contínuo método de tentativa e erro.
Pela sua novidade e frescura, “A Noite dos Mortos-Vivos” mereceu honras de apresentação em Cannes, e o próprio Stephen King o elogiou efusivamente, o que ajudou Raimi a conseguir contrato de distribuição com a New Line Cinema, para uma distribuição mais compreensiva em 1982, depois da estreia nalguns cinemas em 1981. O filme tornou-se um fenómeno de culto, e geraria toda uma série de continuações e imitações.
Tudo começa logo com a sequela oficial “A Morte Chega de Madrugada” (Evil Dead II, 1987), que ainda conseguiu um sucesso superior ao filme de estreia, e o seu sucessor “O Exército das Trevas” (Army of Darkness, 1992), ambos os filmes realizados por Sam Raimi, e com Bruce Campbell no papel principal. A série originou várias novelas gráficas e jogos de computador de grande sucesso, levando até ao aparecimento de um musical em 2003, intitulado “Evil Dead: The Musical”, com autorização de Raimi e Campbell. Em 2013 foi a vez do remake/reboot, produzido por Raimi e Campbell, “A Noite dos Mortos-Vivos” (Evil Dead, 2013), realizado por Fede Alvarez e com Jane Levy como protagonista. Bruce Campbell voltaria para a série televisiva da Starz Network, iniciada em 2015, “Ash vs Evil Dead”, que ainda decorre, com produção de Sam e Ivan Raimi, com o próprio Campbell como produtor executivo.
Produção:
Título original: The Evil Dead; Produção: Renaissance Pictures; Produtores Executivos: Sam Raimi, Bruce Campbell, Rob Tapert; País: EUA; Ano: 1981; Duração: 85 minutos; Distribuição: New Line Cinema; Estreia: 15 de Outubro de 1981 (EUA), Fevereiro de 1987 (Fantasporto, Porto, Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Sam Raimi; Produção: Rob Tapert, Irvin Shapiro [não creditado]; Argumento: Sam Raimi; Música: Joseph LoDuca; Fotografia: Tim Philo; Montagem: Edna Ruth Paul; Cenários: Steve Frankel; Caracterização: Tom Sullivan; Efeitos Especiais: Bart Pierce [não creditado], Sam Raimi [não creditado]; Efeitos Visuais: Bart Pierce.
Elenco:
Bruce Campbell (Ashley ‘Ash’ J. Williams), Ellen Sandweiss (Cheryl), Richard DeManincor [como Hal Delrich] (Scott), Betsy Baker (Linda), Theresa Tilly [como Sarah York] (Shelly).