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Salem's Lot Ben Mears (David Soul), um escritor e antigo habitante de Salem’s Lot, no Maine, regressa a uma terra que já o esqueceu e todos desconfiam dele como forasteiro, atraído pela mansão Marsten, onde ele crê estar a concentrar-se um grande mal. Esta é agora posse de outros forasteiros, o desconhecido Barlow, que ninguém conhece, e o seu sócio Straker (James Mason), que prepara a inauguração de uma loja de antiguidades. Mas logo começam os desaparecimentos, mortes e estranhos relatos de sonhos em que os mortos regressam, e que levam a posterior sinal de cansaço e apatia daqueles que tal sonharam. Ben suspeita que Barlow seja um vampiro e que esteja a contagiar toda a cidade, mas, além do seu ex-professor Jason Burke (Lew Ayres), ninguém nele crê.

Análise:

Com inspiração no imaginário de Salem – a pequena cidade norte-americana do Massachussets, que entrou para a história por causa dos incidentes de histeria colectiva que levaram a uma infame (e trágica) caça às bruxas em 1692 – Stephen King escreveu aquele que seria o seu segundo romance de terror, centrado num nome parecido – Jerusalem’s Lot, no estado do Maine –, aqui reinventando o mito dos vampiros, imaginando uma espécie de Drácula voltando no século XX. Os direitos do livro foram comprados pela Warner Bros., que encarregou Paul Monash de escrever um argumento que passou de projecto de filme para cinema para uma mini-série televisiva, que seria dirigida por Tobe Hooper, então cavalgando a fama do seu sucesso independente “Massacre no Texas” (The Texas Chain Saw Massacre, 1974).

Contado em flashback “A Purificação de Salem” mostra-nos a chegada de Ben Mears (David Soul) um escritor e antigo filho da cidade, que agora regressa atraído pela mansão Marsten, onde ele crê estar a concentrar-se um grande mal. Esta foi recentemente comprada por um elusivo Kurt Barlow, que ninguém ainda viu, e que é representado pelo seu sócio Richard Straker (James Mason), que prepara a inauguração de uma loja de antiguidades. As suspeitas de Ben, que entretanto começa a namorar a jovem Susan Norton (Bonnie Bedelia), filha do médico local (Ed Flanders) aumentam quando algumas mortes começam a ocorrer. Primeiro são os irmãos Glick, depois o coveiro Mike (Geoffrey Lewis), que mais tarde provoca o colapso cardíaco de Jason Burke (Lew Ayres), antigo professor de Ben, e o único que nele acredita. Mas o desaparecimento dos corpos, os sonhos recorrentes das vítimas, e o exame de um cadáver que se levanta à frente de todos, torna o caso claro. Após assistir à morte do Padre e dos seus pais, às mãos do revelado Barlow (um vampiro de aspecto grotesco), o jovem Mark Petrie (Lance Kerwin) vai-se juntar a Ben na velha mansão derrotando Straker e finalmente matando Barlow, incendiando o edifício. Mas ambos estão cientes que as criaturas de Barlow voltarão para se vingarem, o que vemos, terminado o flashback quando o par reencontra Susan, agora transformada, que tenta seduzir Ben.

Com uma atmosfera algo arcaica, mais devedora do gótico aristocrático dos anos 60, que do novo terror sujo e visceral do final dos anos 70, a que não é alheio o facto de ser uma produção para televisão, onde a contenção é necessariamente maior, “A Purificação de Salem” é fortemente marcado pelo contexto televisivo para que foi produzido. Desde o formato de imagem ao ritmo lento, o enredo telenovelesco, e até o recuperar de antigas estrelas do período clássico (Elisha Cook Jr., Lew Ayres, e o próprio James Mason), há um arrastar pensado, numa história que se quer pausada, com referências a imaginários conhecidos (o tal gótico aristocrático mais europeu que americano – note-se as constantes referências à Europa) sugerem a atmosfera.

Na história, temos os lugares comuns do gótico, como são o espaço (a casa assombrada) e o peso do passado, na história nunca completamente revelada de Ben, mas que o fez regressar quase hipnoticamente à cidade que para ele era um local de pesadelo. Esse carácter algo onírico é depois reforçado pelo número de sequências passadas durante a noite, e o aspecto nevoeirento de paisagens e aparições, elas próprias feitas para se confundirem com sonhos. E se o mistério é algo óbvio, para não dizer mesmo declarado à partida, destacam-se os aspectos do enredo, ele próprio novelesco (o namoro acidentado de Ben e Susan, a família que procura os filhos, o casal marcado pela infidelidade da esposa, o bêbedo usado como espião, o polícia pronto a abandonar tudo quando as coisas se complicam), num sentido de nos trazer personagens como pasto para o vampiro, e de nos guiar num progressivo isolamento do protagonista. O horror aqui consiste mesmo nesse isolamento, onde percebemos que todos são arrastados para a teia vampiresca, pois o mal surge de quem mais queremos, e resistir-lhe torna-se difícil.

Apesar de muitas diferenças entre filme e livro que o originou, Stephen King elogiou a adaptação, onde o ponto mais saliente será a caracterização do vampiro Barlow (o não creditado Reggie Nalder), uma espécie de Nosferatu moderno, de aspecto ainda mais horripilante. Sem dizer uma palavra, o Barlow de Nalder é uma figura de fora deste mundo, sem nada de atraente ou sedutor, uma emanação puramente maléfica, cujo tentáculo manipulador é desempenhado pelo personagem de James Mason, bem-falante, sinuoso, elusivo e por isso igualmente perigoso.

Embora produzido para televisão, “A Purificação de Salem” receberia uma nova montagem de 112 minutos para exibição em cinema na Europa, com cortes que passavam pela excisão do prólogo e epílogo. Seria com base nesta montagem que se faria a versão que circularia posteriormente em VHS (intitulada “Salem’s Lot: The Movie”), e que se tornaria padrão para futuras exibições televisivas. O filme originaria ainda uma sequela: “O Regresso a Salem’s Lot” (Return to Salem’s Lot, 1987), realizada por Larry Cohen, e sem grande ligação à história original. Em 2004, seria a vez do remake, também para televisão, em formato de mini-série, numa colaboração entre TNT e Warner Bros. A realização seria de Mikael Salomon, e nos principais papéis estariam Rob Lowe (como Ben Mears), Donald Sutherland (como Richard Straker) e Rutger Hauer (como Kurt Barlow).

Produção:

Título original: Salem’s Lot; Produção: Warner Bros. Television; Produtor Executivo: Stirling Silliphant; País: ; Ano: 1979; Duração: 183 minutos; Distribuição: CBS (EUA); Estreia: 17 de Novembro de 1979 (TV, EUA), 10 de Setembro de 1980 (França).

Equipa técnica:

Realização: Tobe Hooper; Produção: Richard Kobritz; Produtora Associada: Anna Cottle; Argumento: Paul Monash [a partir do livro homónimo de Stephen King]; Música: Harry Sukman; Fotografia: Jules Brenner; Montagem: Carroll Sax; Design de Produção: Mort Rabinowitz; Cenários: Jerry Adams; Figurinos: Phyllis Garr, Barry Kellogg; Caracterização: Ben Lane; Efeitos Especiais: Frank Torro; Efeitos Especiais de Caracterização: Jack H. Young; Direcção de Produção: Norman A. Cook.

Elenco:

David Soul (Ben Mears), James Mason (Richard K. Straker), Lance Kerwin (Mark Petrie), Bonnie Bedelia (Susan Norton), Lew Ayres (Jason Burke), Julie Cobb (Bonnie Sawyer), Elisha Cook Jr. (Gordon ‘Weasel’ Phillips), George Dzundza (Cully Sawyer), Ed Flanders (Dr. Bill Norton), Clarissa Kaye-Mason (Majorie Glick), Geoffrey Lewis (Mike Ryerson), Barney McFadden (Ned Tebbets), Kenneth McMillan (Comissário Parkins Gillespie), Fred Willard (Larry Crockett), Marie Windsor (Eva Miller), Barbara Babcock (June Petrie), Bonnie Bartlett (Ann Norton), Joshua Bryant Bryant (Ted Petrie), James Gallery (Padre Donald Callahan), Robert Lussier (Sub-comissário Nolly Gardner), Brad Savage (Danny Glick), Ronnie Scribner (Ralphie Glick), Ned Wilson (Henry Glick), Reggie Nalder (Kurt Barlow) [não creditado].

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