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The Hills Have EyesDirigindo-se à Califórnia, numa viagem em autocaravana, a família Carter é constituída pelo casal Bob (Russ Grieve) e Ethel (Virginia Vincent), os filhos Bobby (Robert Houston), Brenda (Susan Lanier) e Lynne (Dee Wallace), o marido desta, Doug (Martin Speer), o bebé deles, e dois cães. Tudo vai bem até terem um acidente, que os deixa bloqueados no deserto do Nevada. Se o perigo de passar ali os próximos dias é, já de si, elevado, pior se torna quando os Carter percebem que não estão sós, e do deserto chega um bando de selvagens que os vai assustar, ameaçar e por fim tentar matar um a um.

Análise:

Numa altura em que ainda se dividia pela indústria pornográfica, Wes Craven realizou em 1977 o seu segundo filme de terror, um pouco na senda do filme de estreia “The Last House on the Left” de cinco anos antes. Mais uma vez, Craven centrava-se no tipo de terror que mais lhe interessava, numa viagem aos extremos da violência humana, quando esta é desregrada, não conhecendo qualquer código ético ou moral. Era o continuar do frio gore na chamada exploitation que se tornava comum no cinema dito independente da década de 1970.

Com produção de Peter Locke, através da Blood Relations (empresa formada apenas para este filme), Craven realizava mais um argumento escrito por si, e onde ele era também o responsável pela montagem. A história seguia a família Carter, em viagem pelo deserto do Nevada, a caminho da Califórnia. Ela é composta pelo casal ancião Bob (Russ Grieve) e Ethel (Virginia Vincent), os filhos adolescentes Bobby (Robert Houston) e Brenda (Susan Lanier), e a filha mais velha Lynne (Dee Wallace), casada com Doug (Martin Speer). Com eles segue ainda a bebé Katie, filha de Doug e Lynne, e os dois cães Beauty e Beast. Após uma paragem na estação de serviço meio abandonada de Fred (John Steadman), um despiste deixa-os encalhados no meio do nada. Só que esse nada é habitado por uma família selvagem, que vê no incidente uma oportunidade. A primeira vítima é a cadela Beauty, que corre para as montanhas, e que Bobby descobre morta e esventrada. Quando Bob volta à estação de serviço para procurar ajuda, depara com Fred a tentar enforcar-se. Este conta a Bob como teve um filho monstruoso, que agora habita nas montanhas com os seus próprios filhos, canibalizando quem passa. Fred é então morto, e Bob acaba atacado pelos selvagens, que o queimam vivo. Os gritos atraem Doug e Bobby para fora da caravana, deixando-a à mercê dos ataques de Mars (Lance Gordon) e Pluto (Michael Berryman), que violam Brenda, acabam por matar Ether e Lynne, e roubam o bebé. No dia seguinte Doug decide partir em busca da filha, enquanto Bobby e Brenda armadilham a caravana. Acaba por ser o cão Beast o mais eficiente, matando Mercury, e mais tarde Pluto. Enquanto isso, Jupiter (James Whitworth) é morto na armadilha de Bobby e Brenda, enquanto Doug, com a ajuda de Ruby (Janus Blythe), também membro do bando selvagem, mas que quer fugir, consegue recuperar o bebé, e matar Mars.

Mantendo o registo anterior, Wes Craven volta a explorar a ideia de uma família de bem, um conjunto de pessoas aparentemente sem preocupações, que vê o seu mundo desabar por um ataque perfeitamente inesperado. Desta vez, partindo do deserto do Nevada (todo o filme foi filmado em paisagens naturais no Apple Valley, na Califórnia), e do mito das regiões proibidas, devido à radiação de testes nucleares, Craven traz-nos um grupo de selvagens, meio mutantes, onde desponta a figura de Michael Berryman, um actor com uma fisionomia bastante peculiar. Com a paisagem desolada, o aspecto remoto de todo o evento (que dura apenas cerca de 24 horas), e a amplitude térmica do deserto, fica logo a ideia de um clima hostil (como toda a equipa sentiu com grande desconforto), que não vem apenas dos selvagens, mas da própria natureza (note-se como a última morte é culpa de uma serpente).

Craven confessaria que há, no seu filme, uma nítida vontade de homenagear “Massacre no Texas” (The Texas Chain Saw Massacre, 1974), de Tobe Hooper, um filme fundamental no terror de exploitation, que serviu de inspiração para este tipo de cinema.

Com um crescendo de tensão que começa com imagens de vultos furtivos ainda na estação de serviço, “Os Olhos da Montanha” desenvolve-se como um thriller, até ao confronto total com o bando selvagem. Depois disso ficamos com o sangue, os ataques brutais, e a violência desmesurada, na qual, como se torna habitual em Craven, os sobreviventes são aqueles que conseguem ultrapassar as suas inibições e responder com violência igualmente brutal, num contexto onde a luta por sobrevivência tudo justifica.

Após uma primeira submissão, a MPAA colocou o filme na categoria X (habitualmente para filmes pornográficos), o que levou Craven a cortar algumas cenas até receber um R. Isto já depois de Craven abandonar a ideia de o bebé ser morto pelos selvagens. Ainda assim, o filme conseguiu interessantes resultados de bilheteira, tendo-se tornado desde então um filme de culto.

Dada a sua crescente reputação, Wes Craven viria mesmo a realizar a sequela “Os Olhos da Montanha II” (The Hills Have Eyes Part II, 1984), e mais tarde a produzir o remake “Terror nas Montanhas” (The Hills Have Eyes, 2006), realizado por Alexandre Aja.

Como curiosidade, note-se a presença de um poster de “O Tubarão” (Jaws, 1975) de Steven Spielberg no interior da caravana. Tal levou Sam Raimi a mostrar um poster de “Os Olhos da Montanha” no interior da cabana do seu filme “A Noite dos Mortos-Vivos” (The Evil Dead, 1981), o que levou Wes Craven a responder no seu “Pesadelo em Elm Street” (A Nightmare on Elm Street, 1984), colocando os seus personagens a ver “A Noite dos Mortos-Vivos”, e mais tarde, de novo Sam Raimi a mostrar a luva de Freddy Krueger de “Pesadelo em Elm Street” no seu filme “A Morte Chega de Madrugada” (The Evil Dead II, 1987).

Michael Berryman em "Os Olhos da Montanha" (The Hills Have Eyes, 2006), de Wes Craven

Produção:

Título original: The Hills Have Eyes; Produção: Blood Relations Co.; País: EUA; Ano: 1977; Duração: 90 minutos; Distribuição: Vanguard; Estreia: 15 de Junho de 1977 (EUA), 12 de Junho de 1981 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Wes Craven; Produção: Peter Locke; Argumento: Wes Craven; Música: Don Peake; Direcção Musical: Don Peake; Fotografia: Eric Saarinen; Montagem: Wes Craven; Design de Produção: ; Direcção Artística: Robert A. Burns; Cenários: ; Figurinos: Joanne Jaffe; Caracterização: Donald Mulderick; Efeitos Especiais: Greg Auer, John Frazier; Efeitos Visuais: ; Direcção de Produção: Walter R. Cichy.

Elenco:

Suze Lanier-Bramlett (Brenda Carter), Robert Houston (Bobby Carter), Martin Speer (Doug Wood), Dee Wallace (Lynne Wood), Russ Grieve (Big Bob Carter), John Steadman (Fred), James Whitworth (Jupiter), Virginia Vincent (Ethel Carter), Lance Gordon (Mars), Michael Berryman (Pluto), Janus Blythe (Ruby), Cordy Clark (Mama), Brenda Marinoff (Katy), Peter Locke [como Arthur King] (Mercury), Flora (Beauty), Striker (The Beast).

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