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Mimì metallurgico ferito nell'onore Carmelo Mardocheo (Giancarlo Giannini), dito Mimì, um mineiro de Catânia, que, por acreditar que o voto é secreto vota no Partido Comunista, contra as ordens do mafioso Don Calogero (Turi Ferro). Em resultado, Mimì é despedido, e ruma a Turim para mudar de vida. Mas aí, trabalhando na construção civil, vê-se nas mãos do sinuoso empreiteiro Salvatore Tricarico (novamente Turi Ferro), que explora trabalhadores ilegais vindos do sul. De peripécia em peripécia, Mimì conhece e apaixona-se pela trotskista Fiorella (Mariangela Melato). Mas os chefes mandam-no de volta a Catânia, agora com Fiorella e um filho, e uma família que o espera, na qual se inclui a esposa Rosalia (Agostina Belli).

Análise:

Depois de trabalhar em teatro, rádio e televisão, a romana Lina Wertmüller começou a ganhar gosto pela realização, tendo como objectivo passar ao cinema, onde trabalharia nalguns trabalhos de Fellini, e estreando-se na realização em 1963 com “Os Inactivos” (I basilischi). Mas seria já nos anos 70 que o seu nome começou a ser notado, com uma série de filmes que se inicia com este “Ferido na Honra” que marca ainda uma das suas várias colaborações com Giancarlo Giannini. Percorrendo um caminho que tinha muitas vezes como mote as lutas sociais na Itália do seu tempo, Wertmüller escreveu e realizou uma comédia satírica sobre o estado da Sicília, do tradicionalismo e peso da máfia, à implantação do Partido Comunista (PCI) e diferenças sul-norte.

Essa é a história de Carmelo Mardocheo (Giancarlo Giannini), conhecido como Mimì, um mineiro que um dia tem o desplante de votar no PCI, contra o candidato de Don Calogero (Turi Ferro), pensando que o voto é secreto. Mas tudo se sabe, e Mimì fica sem emprego. Num acesso de raiva, Mimì decide abandonar tudo, incluindo a mulher Rosalia (Agostina Belli), que chora de medo quando faz amor com ele, e rumar a Turim. Só que, mal chega a Turim é recebido por gente que procura migrantes do sul, que colocam em obras, mal pagos e ilegais. Assim que há um acidente, o chefe, Salvatore Tricarico (novamente Turi Ferro) desfaz-se do corpo, e como Mimì viu, é perseguido e tem de fugir, mas este convence-o de que é protegido de Don Calogero e Tricarico deixa-o em paz. Mimì acaba acolhido num centro do PCI que denuncia casos de abuso de trabalhadores, e trabalha como metalúrgico. Conhece então a trotskista Fiorella (Mariangela Melato), por quem se apaixona e que dele vem a engravidar. Mas após um tiroteio num hotel, em que Mimì vê o mafioso Vico Tricarico (novamente Turi Ferro) matar várias pessoas, vai ter de voltar a casa, transferido pelos chefes, levando Fiorella e o filho.

Em Catânia, Mimì é bem recebido pela família, os amigos admiram-no por ser um homem culto do norte, e Don Calogero admira-lhe o facto de nunca ter denunciado nenhum dos crimes que viu, e fá-lo supervisor da fábrica. Mas como tem agora uma dupla vida, e quer ser fiel a Fiorella, Mimì convence Rosalia de que não tem capacidade para o acto sexual, e alastra-se o boato de que ele é homossexual. Quando Mimì, para provar a virilidade, conta que tem uma amante e um filho, descobre que Rosalia também está grávida, de um sargento da polícia, e resolve vingar-se, seduzindo e engravidando a mulher deste (Elena Fiore). Mas como a máfia mandou um assassino para lhe salvar a honra, a morte pública do sargento leva Mimì à cadeia. Quando sai, esperam-no três mulheres e os seus filhos, e a máfia coloca-o a fazer propaganda eleitoral para Vico Tricarico. Fiorella decide então que chega, e volta para o norte com o filho.

Corrido, histriónico e extremamente emotivo, “Ferido na Honra” é um verdadeiro carrossel de acontecimentos, num ritmo épico, com Mimì constantemente em apuros a ver a sua vida frequentemente mudada de pernas para o ar. Retrato cómico da Itália mais atrasada – a Sicília dominada pela máfia –, o filme de Wertmüller pode-nos parecer exagerado na sua forma, mas não o é assim tanto, uma vez que o jeito ruidoso, os crimes passionais, as decisões de honra e os comportamentos emotivos são apanágio daquela parte do país.

Desse jeito que é sempre uma comédia, e na qual se destaca a interpretação arrebatadora de Giancarlo Giannini, num extraordinário sotaque siciliano, Lina Wertmüller aborda temas sérios, como o são a luta entre o tradicionalismo da Democracia Cristã (DC), patrocinada pela máfia, no confronto com o PCI, e toda a mentalidade de então, desde o machismo à prepotência completa dos senhores locais, com eleições deturpadas e empregos controlados como favores, à definição de honra e métodos de a lavar pelo sangue, não esquecendo, claro, o elogio do silêncio, com que Mimì é premiado sempre que não fala.

Mas “Ferido na Honra” não critica só o sul, a DC ou a máfia. Em Turim, a vida de Mimì não é necessariamente mais fácil. O emprego é precário, as máfias existem com outros nomes e processos, servindo-se do capitalismo e industrialização apressada, e as forças de esquerda são mostradas anedoticamente como mudando de nomes, influências e posições, digladiando-se entre si, como explica Fiorella. Como se não bastasse, tudo a Mimì passa por parecer igual, e todas as figuras de autoridade – Don Calogero a sul, os chefes Tricarico a norte, mas também o dirigente sindical ou a figura religiosa – são representadas pelo mesmo actor (Turi Ferro), que espanta Mimì pela semelhança dessas figuras.

Deixando ideais retrógrados, desiludindo-se com os progressistas, e acabando o jogo nas mãos de uns e outros, Mimì vai perceber que toda a diferença reside, afinal, no lado pessoal. E aí nada podia ser mais distinto. O amor com Fiorella é alegre e passional (dormindo eles sob uma foto de Lenine), enquanto com Rosalia era preso e visto como pecado (dormindo eles sob uma imagem religiosa). Só que a vida de Mimì não lhe pertence, e com tantas influências externas, vive numa roda viva, pelo que quando decide agir (como na sedução da mulher do sargento – talvez a sedução mais desastrada e grotesca da história do cinema), estraga tudo, o que é a tragédia que ele nunca entende.

Apresentado em Cannes, “Ferido na Honra” seria nomeado à Palma de Ouro. Venceria dois David di Donatello, dois Nastri d’Argento e dois Globos de Ouro, sempre para as interpretações de Giancarlo Giannini e Mariangela Melato. Quanto a Wertmüller, entrava para a história do cinema italiano, com críticas sociais, repletas de sátira e um olhar aparentemente ligeiro que penetrava a muitos níveis no mais rocambolesco da sociedade italiana.

Giancarlo Giannini e Mariangela Melato em "Ferido na Honra" (Mimì metallurgico ferito nell'onore, 1972), de Lina Wertmüller

Produção:

Título original: Mimì metallurgico ferito nell’onore [Título Inglês; The Seduction of Mimi] Produção: Euro International Film (EIA); País: Itália; Ano: 1972; Duração: 108 minutos; Distribuição: Parafrance Films (França), New Line Cinema (EUA); Estreia: 19 de Fevereiro de 1972 (Itália), 15 de Novembro de 1974 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Lina Wertmüller; Produção: Daniele Senatore, Romano Cardarelli; Argumento: Lina Wertmüller; Música: Piero Piccioni; Fotografia: Dario Di Palma [cor por Eastmancolor]; Montagem: Franco Fraticelli; Design de Produção: Amedeo Fago; Cenários: Emilio Baldelli; Figurinos: Enrico Job; Caracterização: Michele Trimarchi; Efeitos Especiais: ; Efeitos Visuais: ; Direcção de Produção: .

Elenco:

Giancarlo Giannini (Carmelo Mardocheo, dito Mimì), Mariangela Melato (Fiorella Meneghini), Turi Ferro (Don Calogero / Vico Tricarico / Salvatore Tricarico), Agostina Belli (Rosalia Capuzzo in Mardocheo), Luigi Diberti (Pippino), Elena Fiore (Amalia Finocchiaro), Tuccio Musumeci (Pasquale), Ignazio Pappalardo (Massaro ‘Ntoni), Rosaria Rapisarda, Livia Giampalmo (Violetta, vendedora), Umberto Lentini, Salvatore Savasta, Andrea Maugeri, Salvatore Centamore, Sara Micalizzi, Antonia Micalizzi, Ottorino Russo, Francesco Pellegrini, Gianfranco Barra (Sargento Amilcare Finnocchiaro), Giovanni Cori, Gianni Pulone, Claudio Trionfi.

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