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Salò o le 120 giornate di Sodoma Nos momentos finais do governo de Mussolini, entre 1943 e 1945, retirados em Salò, no norte de Itália, quatro homens, símbolos da corrupção e poder fascista, isolam-se da realidade para dedicarem os seus últimos dias a viver as suas mais decadentes e escapistas fantasias. Eles são um duque (Paolo Bonacelli), um bispo (Giogio Cataldi), um juiz (Umberto Paolo Quintavalle) e um autarca (Aldo Valletti), que desposam as filhas uns dos outros, recrutam guardas, raptam oito rapazes e oito raparigas e se rodeiam de velhas prostitutas, para criar um ambiente de terror e estímulo sexual, no qual humilham, violam e torturam as suas vítimas.

Análise:

Numa carreira cheia de controvérsia, e uma carreira cuja irreverência chocou a sociedade italiana, o realizador, poeta, dramaturgo e ensaísta Pier Paolo Pasolini nunca escondeu as paixões e ódios que marcam boa parte da sua obra. Comunista convicto, Pasolini teve no seu sentimento político um mote, e não espanta a sua crítica ao regime fascista de Mussolini, surgida em 1975, na forma de “Salò ou os 120 Dias de Sodoma”, onde Pasolini se inspira em “120 Dias de Sodoma” do Marquês de Sade. O resultado é uma viagem tão subjectiva quanto escabrosa e surreal aos dias da República de Salò, o Estado criado por Mussolini no norte de Itália, após o desembarque aliado no sul, em 1943, e que o Duce governaria até Abril de 1945.

Para Pasolini o nome Salò (que ainda hoje é símbolo para os nostálgicos do fascismo italiano) não podia ser mais odioso (o seu irmão foi ali morto), retratando-o como uma mansão que serve de retiro a quatro senhores fascistas (um duque, um bispo, um juiz e um autarca) que, numa espécie de fuga decadente e escapista ao mundo real, se dedicam a viver as suas mais perversas e escabrosas fantasias sexuais. Com eles, levados contra vontade, oito rapazes e oito raparigas que passam a ser seus escravos, sob o controlo dos seus guardas e outros colaboradores, onde se contam algumas damas, profissionais do sexo, que vão contando histórias eróticas, como inspiração aos quatro mestres, para encenações brutais, seja qual for o custo para as suas vítimas.

Sob inspiração de “A Divina Comédia” de Dante, Pasolini divide a acção em quatro círculos infernais, nos quais desenvolve a história, que não é mais que um acumular de situações de natureza sexual, sempre em tom de humilhação e perversão, num filme extremamente gráfico e violento, com nudez explícita, sadismo, coprofilia, tortura, mutilações e mortes brutais, que para o autor eram a forma ideal de denunciar a decadência, desumanidade, abuso de poder, perversidade e corrupção do regime fascista. Reinterpretações posteriores mostram-no a simbolizar a degradação sexual, o consumismo e a decadência de valores em geral, que levam à desumanização da sociedade moderna. Note-se que não há qualquer fundo histórico para o filme, tirando o seu título, toda a acção decorre numa mansão sem qualquer ligação à realidade circundante, ou qualquer diálogo que a situe.

Começando no Anteinferno, história mostra-nos os quatro homens, um duque (Paolo Bonacelli), um bispo (Giogio Cataldi), um juiz (Umberto Paolo Quintavalle) e um autarca (Aldo Valletti), que desposam as filhas uns dos outros, e recrutam guardas, baseados no tamanho dos seus pénis, que raptam oito rapazes e oito raparigas. Segue-se o Circulo das Manias, onde se juntam antigas prostitutas e colaboradores que vão contando histórias com o objectivo de excitar os quatro homens, que se dedicam a violações, humilhações e torturas, incluindo mortes e um casamento forçado. Segue-se o Círculo da Merda, no qual as ex-prostitutas contam histórias de coprofilia e assassínio das suas mães, excitando os homens que se dedicam a sexo recorrendo a defecação. Finalmente chega o Círculo do Sangue, que começa com casamentos entre os homens e os guardas, seguido de sexo anal e a descoberta de traição entre guardas e escravos. É feita a escolha dos condenados os quais são violados e mortos à maneira medieval.

O filme estreou no Festival de Paris, três semanas depois do assassinato de Pasolini, tendo uma distribuição limitada no circuito comercial, acabando banido em muitos mercados, sendo ainda hoje objecto de controversa, afinal aquilo que Pasolini mais queria conseguir com as suas obras. O valor artístico do filme tem sido publicamente defendido por autores como Martin Scorsese, Michael Haneke e Rainer Werner Fassbinder.

“Salò ou os 120 Dias de Sodoma” deveria ser a primeira parte de uma chamada “Trilogia da Morte”, planeada por Pasolini, que não teria oportunidade de a continuar.

Imagem de "Salò ou os 120 Dias de Sodoma" (Salò o le 120 giornate di Sodoma, 1975), de Pier Paolo Pasolini

Produção:

Título original: Salò o le 120 giornate di Sodoma; Produção: Produzioni Europee Associate (PEA) / Les Productions Artistes Associés; < País: Itália / França; Ano: 1975; Duração: 117 minutos; Distribuição: United Artists (Itália, RFA, Japão, Suécia), Les Artistes Associés (França); Estreia: 22 de Novembro de 1975 (Paris Film Festival, França), 10 de Janeiro de 1976 (Itália).

Equipa técnica:

Realização: Pier Paolo Pasolini; Produção: Alberto Grimaldi, Alberto De Stefanis [não creditado], Antonio Girasante [não creditado]; Argumento: Pier Paolo Pasolini [adaptado dos textos de Marquis de Sade]; Música: Ennio Morricone; Fotografia: Tonino Delli Colli [cor por Technicolor]; Montagem: Nino Baragli; Design de Produção: Dante Ferretti; Direcção Artística: ; Cenários: Osvaldo Desideri; Figurinos: Danilo Donati; Caracterização: Osvaldo Desideri, Alfredo Tiberi; Efeitos Especiais: Alfredo Tiberi; Direcção de Produção: Antonio Girasante.

Elenco:

Paolo Bonacelli (O Duque), Giorgio Cataldi (O Bispo), Umberto Paolo Quintavalle (O Magistrado), Aldo Valletti (O Presidente), Caterina Boratto (Senhora Castelli), Elsa De Giorgi (Senhora Maggi), Hélène Surgère (Senhora Vaccari), Sonia Saviange (O Pianista), Sergio Fascetti (Vítima Masculina), Bruno Musso (Carlo Porro – Vítima Masculina), Antonio Orlando (Tonino – Vítima Masculina), Claudio Cicchetti (Vítima Masculina), Franco Merli (Vítima Masculina), Umberto Chessari (Vítima Masculina), Lamberto Book (Lamberto Gobbi – Vítima Masculina), Gaspare Di Jenno (Rino – Vítima Masculina), Giuliana Melis (Vítima Feminina), Faridah Malik (Fatimah – Vítima Feminina), Graziella Aniceto (Vítima Feminina), Renata Moar (Vítima Feminina), Dorit Henke (Vítima Feminina), Antiniska Nemour (Vítima Feminina), Benedetta Gaetani (Vítima Feminina), Olga Andreis (Eva – Vítima Feminina), Tatiana Mogilansky (Filha), Susanna Radaelli (Filha), Giuliana Orlandi (Filha), Liana Acquaviva (Filha), Rinaldo Missaglia (Guarda), Giuseppe Patruno (Guarda), Guido Galletti (Guarda), Efisio Etzi (Guarda), Claudio Troccoli (Colaborador), Fabrizio Menichini (Colaborador), Maurizio Valaguzza (Colaborador), Ezio Manni (Colaborador), Paola Pieracci (Esposa), Carla Terlizzi (Esposa), Anna Maria Dossena (Esposa), Anna Recchimuzzi (Esposa), Ines Pellegrini (Escrava).

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