Etiquetas
Armando De Razza, Álex Angulo, Álex de la Iglesia, Cinema, Comédia, Santiago Segura, Satanismo, Terele Pávez, Terror
Um padre basco (Álex Angulo), obcecado com estudos cabalísticos da Bíblia, crê ter descodificado a chave para o Apocalipse e nascimento do Anticristo. Tudo irá suceder na noite de Natal em Madrid, pelo que o seu plano é tornar-se mau, para vender a alma ao Diabo, e, através da sua inclusão no plano demoníaco, matar o Anticristo à nascença. A única pessoa a acreditá-lo é um fã de Death Metal (Santiago Segura), que o vai acompanhar pela noite madrilena, na tentativa de raptar um apresentador de televisão (Armando De Razza) versado no oculto.
Análise:
Tendo-se destacado nos anos 90, no cinema espanhol, pelas suas histórias macabras, onde o grotesco e o sangue coexistem com o mais fino humor negro, Álex de la Iglesia escreveu e realizou em 1995 um dos seus mais conhecidos filmes, a comédia negra de tons demoníacos, “O Dia da Besta”, escrito a meias com Jorge Guerricaechevarría.
Álex de la Iglesia conta a história do padre basco Ángel Berriartúa (Álex Angulo) que, após anos de estudos cabalísticos da Bíblia, crê ter descodificado a chave para o Apocalipse, acreditando que o nascimento do Anticristo se vai dar em Madrid, na noite de Natal. O seu plano é pecar o máximo possível para atrair a atenção do Demónio, com quem quer firmar um pacto. Isso seria um expediente para se aproximar dos planos demoníacos e matar o Anticristo no momento em que nascesse. Mas nem tudo vai correr bem ao padre Berriartúa. Se por um lado a sua propensão para o mal é um pouco insípida (roubar esmolas a pedintes ou livros em livrarias), os sarilhos que atrai vão desde logo por a polícia no seu encalce. Mas o padre, com a sua conversa louca consegue a atenção do vendedor numa loja de música e fã de Death Metal, José María (Santiago Segura), satanista amador, e que passa a seguir e ajudar o padre, por mais insensato que seja o seu plano. E este plano passa por raptar o apresentador de televisão de um programa sobre o oculto, o Professor Cavan (Armando De Razza), para que ele explique como invocar o Demónio.
Seja porque há drogas envolvidas, porque o stress toma conta deles, ou porque o Mal existe mesmo, após uma noite violenta (em o padre ataca a namorada de Cavan, tira sangue da empregada da mãe de José María, e mata a mãe dele), o trio julga ver o Demónio, em forma de um caprino que caminha em duas pernas. Assinado o pacto, o trio separa-se quando a polícia chega, mas seguindo uma série de sinais, voltam a encontrar-se quando descobrem um grupo de vigilantes nocturnos, que atacam sem abrigo e imigrantes no local que pensam ser o do nascimento. Vendo um deles como o Demónio, matam-nos, enquanto descobrem uma criança recém-nascida morta, que julgam ser o Anticristo.
Seguindo a caminhada louca de um padre que facilmente cremos fugido de uma instituição mental, “O Dia da Besta” é uma viagem pela noite, na companhia de uma série de personagens atípicos, qualquer deles habituado a viver (ou usar) alienações como forma de vida, do fã de Death Metal que se crê satanista, ao apresentador de televisão que vende falsas profecias e exorcismos. Pelo meio dos episódios, o verdadeiro mal surge na forma de um grupo de vigilantes nocturnos nacionalistas que queima sem abrigo e imigrantes. Claro que, por mais insano que o padre pareça, a sua caminhada tem uma lógica interior, mesmo que só ele a consiga descodificar. Por entre avanços e recuos, conquistas e revezes, o padre vai completando o seu caminho, com boa dose de humor negro, e fazendo-nos nutrir por ele alguma simpatia, mesmo se tem de drogar uma virgem para lhe tirar sangue, se precisa acorrentar e maltratar um apresentador televisivo, ou acabe por matar a sua hospedeira.
Tudo em “O Dia da Besta” é ambíguo, desde a moralidade dos personagens, ao seu sentido de realidade, culminando, obviamente, na conclusão final: decidir se foi tudo uma loucura colectiva, ou se a presença do Demónio era mesmo real, fica ao nosso critério. O que permanece é o humor corrosivo a uma sociedade de valores dispersos, e uma forma de filmar que nos faz quase sentir num documentário, onde as interpretações soam a improvisadamente reais, e a noite madrilena parece uma espécie de sonho descontrolado.
Curioso foi o facto de o uso de verdadeiros rituais satanistas no descrever jocoso desses cultos ter valido a Álex de la Iglesia várias ameaças de morte.
Alheio a polémicas, o filme venceu seis prémios Goya, entre eles o de melhor Realizador.
Produção:
Título original: El Dia de la Bestia; Produção: Iberoamericana Films Producción / Sociedad General de Televisión (Sogetel) / MG SRL / Canal+ España; Produtore Executivo: Andrés Vicente Gómez; País: ; Ano: 1995; Duração: 99 minutos; Estreia: 15 de Setembro de 1995 (Toronto Film Festival, Canadá), 20 de Outubro de 1995 (Espanha), 21 de Fevereiro de 1997 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Álex de la Iglesia; Produção: Antonio Saura, Claudio Gaeta; Produtor Associado: Fernando de Garcillán; Argumento: Jorge Guerricaechevarría, Álex de la Iglesia; Música: Battista Lena; Direcção Musical: Tonino Battista; Fotografia: Flavio Martínez Labiano; Montagem: Teresa Font; Direcção Artística: José Luis Arrizabalaga, Biaffra; Figurinos: Estíbaliz Markiegi; Caracterização: José Quetglás; Efeitos Especiais: Reyes Abades; Direcção de Produção: Carmen Martínez.
Elenco:
Álex Angulo (Padre Ángel Berriartúa), Armando De Razza (Professor Cavan), Santiago Segura (José María), Terele Pávez (Rosario), Nathalie Seseña (Mina), Maria Grazia Cucinotta (Susana), Gianni Ippoliti (Produtor), El Gran Wyoming (Novo Cavan), Jaime Blanch (Limpia Madrid 1), David Pinilla (Limpia Madrid 2), Antonio Dechent (Limpia Madrid 3), Ignacio Carreño (Limpia Madrid 4), Saturnino García (Sacerdote Idoso), Higinio Barbero (Satanás), Jimmy Barnatan (Criança Possuída).