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Brad Dourif, Cinema, Ed Flanders, Exorcismo, George C. Scott, Jason Miller, Satanismo, Terror, William Peter Blatty
Anos depois do exorcismo de Regan McNeil, o padre Dyer (Ed Flanders) continua a procurar conforto na companhia do detective Kinderman (George C. Scott), testemunhas dos trágicos acontecimentos de então. Mas um novo flagelo abala Georgetown, quando uma sucessão de crimes repete os preceitos de um assassino em série de nome Gemini, há muito morto. Quando o padre Dyer morre vítima deste novo criminoso, Kinderman investiga os pacientes, descobrindo uma ala para pacientes perigosos, onde um dos reclusos lhe surge ora como Gemini (Brad Dourif) ora como o padre Karras (Jason Miller), responsável pelo exorcismo original de Regan.
Análise:
A partir do seu livro de 1983 “Legion”, William Peter Blatty, o argumentista do célebre “O Exorcista” (The Exorcist, 1973) realizado por William Friedkin, foi chamado pela Morgan Creek para realizar o que seria a segunda sequela daquele filme, depois de John Carpenter ter rejeitado o projecto. Blatty escrevera o argumento para Friedkin, mas o congelamento do projecto levou-o a editar a ideia em livro, tencionando passá-lo ao cinema sob o mesmo nome (Legion), até a Morgan Creek decidir que o resultado seria mais rentável sob o nome “Exorcista”. Sem exorcismos na história, Blatty teve de fazer algumas alterações, que começam por uma sequência inicial que repete cenas da entrada da casa da família MacNeil, uma sequência final que introduz um exorcismo (apressado) feito pelo personagem do padre Morning (Nicol Williamson), e uma banda sonora que a espaços é uma imitação do tema de Mike Oldfield usado no filme original.
O resultado foi “O Exorcista III”, uma nova sequela do filme de Friedkin, mas que, ao contrário de “O Exorcista II – O Herege” (Exorcist II: The Heretic, 1977) de John Boorman, que explorava a adolescência de Regan McNeil (Linda Blair) e o passado do demónio Pazuzu, o filme de Blatty (o qual abominou o filme de Boorman) volta ao local do crime, sem nenhuma das McNeil, usando como ligação o personagem do detective Kinderman (George C. Scott), anteriormente interpretado por Lee J. Cobb, e a memória do padre Karras (Jason Miller) que executou o exorcismo original.
Mostrando ter um argumento híbrido, “O Exorcista III” conta-nos como o detective Kinderman acompanha uma série de crimes hediondos em Georgetown, Washingdon DC, que ele começa a atribuir ao antigo assassino em série conhecido como Gemini. Acontece que Gemini foi executado há vários anos, mas a verdade sobre os detalhes macabros dos seus crimes nunca foram revelados, e voltam agora a ser usados na perfeição. Para piorar, as impressões digitais deixadas em cada local do crime são sempre de pessoas diferentes. Quando Kinderman testemunha a morte do seu amigo padre Dyer (Ed Flanders), começa a acreditar que tudo está ligado ao hospital onde o padre estava internado, e relacionado com pessoas que estiveram envolvidas no caso de Regan McNeil. A investigação leva-o a encontrar o chamado Paciente X (novamente Jason Miller), um paciente encarcerado na ala de segurança do hospital, por se crer perigoso. Nas suas conversas com o Paciente X, Kinderman vê-o ora como o antigo padre Karras, ora como o próprio Gemini (Brad Dourif), e sempre como alguém que se diz possuído pelo demónio, e capaz de continuar a cometer crimes. Estes voltam a ocorrer, sempre vitimando pessoas cujo nome começa por K. Finalmente, e após a tentativa falhada do padre Morning para exorcizar o Paciente X, não resta a Kinderman alternativa senão matá-lo a tiro, antes que este mate mais gente.
Sempre com o problema de tentar unir dois argumentos diferentes (aquele que fala de crimes macabros levados a cabo por Gemini de dentro da sua ela, e aquele que liga a história com o passado de “O Exorcista”), “O Exorcista III” é um filme híbrido que, partindo do personagem de George C. Scott (um detective cínico, misantropo e facilmente irascível), acompanha uma série de mortes macabras, de contornos religiosos. Sem nunca nos mostrar explicitamente cada morte, o filme vai-nos enquadrando com elementos de suspense e mistério, sempre em volta de um imaginário cristão, que ganha assim contornos tétricos (por exemplo a imagem de Jesus que abre os olhos repentinamente).
Tudo no enredo vai levar a que se creia termos obra de um demónio que anteriormente terá sido o perpetrador dos crimes atribuídos ao assassino Gemini, e que agora habita o corpo, que antes julgáramos morto, do Padre Karras. Partilhando memórias, e sendo capaz de sair de corpo em corpo, este demónio vai originar as mortes, nunca se percebendo se o faz pelo prazer de atormentar Kinderman, como uma vingança pelos acontecimentos do exorcismo de Regan McNeil, ou simplesmente por vício antigo.
Assim, em vez de uma história clássica de exorcismo, temos acima de tudo um thriller terrífico onde tentamos descobrir quem e como será feita a próxima morte, em ambientes em que de hospitais a igrejas, de crucifixos a estátuas, tudo parecerá sinistro e perigoso. Estranhamente, já que é como argumentista que William Peter Blatty criou a sua fama, o filme falha no argumento, resultando no entanto nas soluções de montagem e ambiente criados por um realizador que tinha aqui apenas o seu segundo filme, depois de “O Crepúsculo dos Heróis” (The Ninth Configuration, 1980), também ele uma obra no domínio do terror. Blatty tentaria mais tarde reconstituir a montagem do filme de acordo com a sua visão original, mas a fita antes rejeitada foi entretanto perdida.
Por medo que o impacto do filme sofresse com a estreia, no mesmo ano, de “Onde Pára o Diabo?” (Repossessed, 1990), paródia a “O Exorcista” protagonizada pela própria Linda Blair, a estreia de “O Exorcista III” foi antecipada algumas semanas.
Como curiosidade note-se a resposta de Gemini à pergunta de como comete os crimes sem sair da cela. A ela Dourif, o actor, responde: “It’s child’s play”, ele que é a voz de Chucky em “Chucky, o Boneco Diabólico” (A Child’s Play, 1988).
Produção:
Título original: The Exorcist III; Produção: Morgan Creek Productions; Produtores Executivos: James G. Robinson, Joe Roth; País: ; Ano: 1990; Duração: 110 minutos; Distribuição: Twentieth Century-Fox Film Corporation; Estreia: Estreia: 17 de Agosto de 1990 (EUA), 15 de Fevereiro de 1991 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: William Peter Blatty; Produção: Carter DeHaven; Produtor Associado: Steve Jaffe; Argumento: William Peter Blatty [a partir do seu próprio livro “Legion”]; Música: Barry De Vorzon; Fotografia: Gerry Fisher; Montagem: Todd C. Ramsay, Peter Lee-Thompson, Thom Noble [não creditado]; Design de Produção: Leslie Dilley; Direcção Artística: Robert Goldstein, Henry Shaffer; Cenários: Hugh Scaife; Figurinos: Dana Lyman; Caracterização: Paul Stanhope; Efeitos Especiais: Bill Purcell; Direcção de Produção: Ronald Colby.
Elenco:
George C. Scott (William Kinderman), Ed Flanders (Padre Dyer), Brad Dourif (Assassino Gemini), Jason Miller (Paciente X / Padre Karras), Scott Wilson (Dr. Temple), Nancy Fish (Enfermeira Allerton), Nicol Williamson (Padre Morning), Barbara Baxley (Shirley), Grand Bush (Sargento Atkins), Harry Carey Jr. (Padre Kanavan), George DiCenzo (Stedman), Tyra Ferrell (Enfermeira Blaine), Lois Foraker (Enfermeira Merrin), Don Gordon (Ryan), Mary Jackson (Mrs. Clelia), Zohra Lampert (Mary Kinderman), Ken Lerner (Dr. Freedman), Viveca Lindfors (Enfermeira X), Lee Richardson (Presidente da Universidade), Tracy Thorne (Enfermeira Keating), Sherrie Wills (Julie Kinderman).
No ano passado, foi lançada uma edição em Blu-Ray que tentou repor a visão original do autor com base em cenas de uma cópia VHS. Segundo o artigo que aqui partilho (http://www.blumhouse.com/2016/10/18/6-things-we-learned-from-scream-factorys-the-exorcist-iii-blu-ray-release/), essa versão inicial não era propriamente melhor que o filme que veio a estrear.