Etiquetas
Cinema, Comédia, Comédia de Enganos, Comédia Musical, Corinne Calvet, Danny Kaye, Gene Tierney, Hans Adler, Jean Murat, Rudolph Lothar, Walter Lang
Jack Martin (Danny Kaye) é um entertainer nos salões nocturnos da Riviera francesa, que um dia se apercebe da sua enorme semelhança ao aviador e herói nacional francês Henri Duran (também Kaye). Quando Duran tem de partir à pressa, e em segredo, para tratar de negócios que evitem a sua ruína financeira, Jack é contratado para se fazer passar por ele numa festa. Aí Jack tem de lidar com a conquista da esposa de Duran, Lili (Gene Tierney), que nunca viu o marido ser tão afectuoso, a chegada de amantes de Duran, os ciúmes da sua própria namorada, Colette (Corinne Calvet), e as investidas negociais do rival de Duran, Felix Periton (Jean Murat).
Análise:
Desta vez numa produção para a Twentieth Century Fox, e sob realização do veterano e especialista em musicais Walter Lang, Danny Kaye recebeu como projecto a passagem ao cinema da peça da Broadway “The Red Cat” de Hans Adler. Foi a terceira adaptação ao grande ecrã, depois de a Fox já ter produzido “Folies Bergère” (L’homme des Folies Bergère, 1935), de Marcel Achard, Roy Del Ruth, com Maurice Chevalier, “Uma Noite no Rio” (That Night in Rio, 1941), de Irving Cummings, com Don Ameche.
Agora com Danny Kaye como motor do filme, mais uma vez num duplo papel, “Escândalos na Riviera” é um «backstage musical» (isto é, com os números musicais a decorrerem porque os personagens estão a encená-los para um público diegético) que apela aos nomes anteriormente citados, nomeadamente Maurice Chevalier, que leva Kaye a falar e/ou cantar com sotaque francês, num cenário que é o dos hotéis, restaurantes e clubes nocturnos luxuosos da Riviera francesa. É aí, durante um espectáculo que o actor e cantor norte-americano Jack Martin (Kaye) descobre que tem uma enorme semelhança com o aviador e herói nacional Henri Duran (também Kaye).
Essa parecença irá ser explorada quando, devido a negócios que o podem levar à ruína, Duran tem de partir, e para que a sua ausência não seja notada, Jack Martin é contratado para se fazer passar por ele numa festa em casa dos Duran. Além dos assessores de Duran, só a esposa Lili (Gene Tierney) sabe da troca, e desta nem sequer Jack sabe que ela está a par. Para ser convincente Jack começa a conquistá-la, algo que o marido há muito deixou de fazer. Ao mesmo tempo, Colette (Corinne Calvet), namorada de Jack chega com ciúmes, e o próprio Duran chega antecipadamente, aproveitando-se da troca para deixar Jack convencer o seu adversário Felix Periton (Jean Murat), onde ele tinha falhado, e deixar que a transformação da esposa funcione a seu favor.
Embora com uma parte musical algo insípida, onde os sotaques forçados, e a pequenez do palco para uma coreografia mais elaborada nos deixam com uma sensação de incompletude, “Escândalos na Riviera” vale pela comédia de enganos onde, mais uma vez, Danny Kaye assume um duplo papel. Ele é o comediante Jack Martin, divertido e aventureiro, que em breve se vê a mãos com um trabalho que não esperara, e é também o Capitão Henri Duran, um sério empresário e herói nacional, conquistador de tudo o que seja mulher, excepto a sua. É aprazível ver que Kaye se desmultiplica em dois personagens perfeitamente distintos, o primeiro perto daquilo que habitualmente faz, o segundo algo novo, sério, como se fosse outra pessoa. Entre eles surge a mulher que vai transformar toda a história, Lili (a magnífica Gene Tierney), que numa permanente manifestação de classe (note-se o seu guarda-roupa), vai interessar o primeiro Kaye a fazer parte da história, e no processo transformar o segundo para finalmente lhe dar atenção.
Com canções da habitual Sylvia Fine, onde se destaca o estranho “Popo the Puppet”, se o lado musical de “Escândalos na Riviera” não lhe permite levantar altos voos, o enredo é suficientemente elaborado, com as intenções ambíguas de cada um dos intervenientes (dos dois Kayes, e de Lili, que pode ou não saber qual é qual), e bem pilotado pelo próprio Kaye, para tornar a comédia interessante, mesmo nos seus estereótipos, como o são o final feliz que se espera desde o primeiro acto. Na memória fica ainda a excelente produção e design, a alegria de Danny Kaye, e a elegância de Gene Tierney, que tem numa das paredes um quadro seu, que é, nem mais nem menos que a pintura central do filme “Laura” (1944) de Otto Preminger, interpretado pela mesma Tierney.
“Escândalos na Riviera” foi nomeado para dois Oscars, Melhor Música e Melhor Direcção Artística.
Produção:
Título original: On the Riviera; Produção: Twentieth Century Fox Film Corporation; País: EUA; Ano: 1951; Duração: 90 minutos; Distribuição: Twentieth Century Fox Film Corporation; Estreia: 23 de Maio de 1951 (EUA), 23 de Fevereiro de 1952 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Walter Lang; Produção: Sol C. Siegel; Argumento: Valentine Davies, Phoebe Ephron, Henry Ephron [a partir da peça de Rudolph Lothar e Hans Adler, adaptada por Jessie Ernst]; Música: Earle Hagen [não creditado], Cyril J. Mockridge [não creditado], Alfred Newman [não creditado]; Direcção Musical: Alfred Newman; Canções: Sylvia Fine; Sequências Musicais: Joseph C. Wright; Orquestração: Earle Hagen, Edward B. Powell; Fotografia: Leon Shamroy [cor por Technicolor]; Montagem: J. Watson Webb Jr.; Direcção Artística: Lyle R. Wheeler, Leland Fuller; Cenários: Thomas Little, Walter M. Scott; Figurinos: Travilla, Oleg Cassini (Gene Tierney); Caracterização: Ben Nye; Efeitos Visuais: Fred Sersen; Coreografia: Jack Cole.
Elenco:
Danny Kaye (Jack Martin / Henri Duran), Gene Tierney (Lili Duran), Corinne Calvet (Colette), Marcel Dalio (Philippe Lebrix), Jean Murat (Felix Periton), Henri Letondal (Louis Foral), Clinton Sundberg (Antoine), Sig Ruman (Gapeaux), Joyce Mackenzie (Mimi), Monique Chantal (Minette), Marina Koshetz (Mme. Louise Cornet).