Etiquetas
Cinema, Comédia, Comédia Musical, Constance Dowling, Dana Andrews, Danny Kaye, Dinah Shore, Elliot Nugent, Musical, Segunda Guerra Mundial
Danny Weems (Danny Kaye) é um inveterado hiponcrondíaco, apropriadamente apaixonado por uma enfermeira, Mary (Constance Dowling). Mas na sua ilusão, Danny não vê que ela se apaixona pelo amigo dele, Joe (Dana Andrews), enquanto é a colega dela, Virginia (Dinah Shore) que tem interesse romântico por Danny. Um dia são todos recrutados para a guerra. Com Mary a embarcar por acidente no navio dos amigos, Danny, Joe e Virginia têm de ocultar a presença dela num navio apinhado de soldados e enfermeiras, o que vai causar a Danny pasto para se meter em confusões sem fim.
Análise:
Em 1944 o produtor Samuel Goldwyn (o mesmo que ajudou a dar o nome à Metro-Goldwyn-Mayer, embora nunca lhe tenha pertencido) decidiu que era hora de dar os holofotes à promissora estrela da comédia de palco, Danny Kaye. Nascido David Daniel Kaminsky, filho de imigrantes judeus ucranianos, Danny Kaye tinha já uma longa carreira de palco dos pequenos espectáculos de vaudeville, às grandes revistas musicais da Broadway, onde o actor desenvolvia os seus números de humor físico, estonteantes trocadilhos verbais, com canto e dança à mistura. Pelo meio haviam já ficado algumas curtas-metragens cómicas para a Educational Pictures, mas só agora Kaye chegaria ao grande ecrã pela porta grande, com uma comédia feita para os seus talentos.
O filme, realizado por Elliott Nugent, era um remake de “O Grito Selvagem” (Whoopee!, 1930), protagonizado por Eddie Cantor. Nele, Kaye interpreta Danny Weems, um hipocondríaco, apaixonado pela enfermeira Mary Morgan (Constance Dowling), que não percebe que esta namora o seu melhor amigo Joe (Dana Andrews), nem que a também enfermeira Virginia (Dinah Shore) está apaixonada por ele. Um dia são todos recrutados para a guerra, para combater no Pacífico. Danny e Joe como vulgares recrutas, Mary e Virginia, dadas as suas qualificações, como oficiais. Mas quer a sorte que Mary seja separada do trio de amigos, e Danny, sem querer acaba por fazer com que ela embarque com eles por acidente. A partir de então Danny e Joe têm de tentar tudo para esconder Mary, mas Danny acaba por se comprometer cada vez mais. Descoberto o embuste, ao chegar ao Pacífico, Danny é preso, mas acaba raptado por japoneses. Mais uma vez, ao atrapalhadamente tentar fugir, Danny engana os japoneses, que o tomam por um chefe seu, e são conduzidos a uma cilada, fazendo dele herói de guerra.
Baseando o seu humor por completo na personade Kaye, há em “Em Marcha” uma forte dependência do seu personagem, maneirismos, e mesmo números de palco, transportados um pouco aleatoriamente para o ecrã, em detrimento da coerência narrativa. Como vinha acontecendo, em particular nos anos 30, “Em Marcha” torna-se principalmente uma desculpa para incluir numa história que parece ser de propaganda militar, a alegria das rotinas de dança, e canções cómicas, as quais surgem um pouco forçadamente, quer como fugas de Kaye, quer como sonhos. São sequências em que, do nada, surgem bailarinas (as Goldwyn Girls – note-se que uma delas é Virginia Mayo, estrela dos filmes seguintes de Kaye), em coreografias de chorus lines, com Kaye a debitar os seus malabarismos verbais de trocadilhos e trava-línguas épicos, ou com a famosa cantora Dinah Shore a puxar dos seus galões. O filme brilha, quer nas corridas de Kaye pelo barco e na sua forma desajeitada de se esconder, quer nos seus ataques de hiponcondria, nos quais acaba sepre por convencer os interlocutores de que estes têm doenças gravíssimas.
Já em termos de história, “Em Marcha” deixa algo a desejar. Todos vão alegremente para a guerra, como se quer num filme estreado durante a Segunda Guerra Mundial, há tantas mulheres como homens no navio, e Danny não se apercebe que ama a mulher errada, pois esta não o quer. Pelo meio há que escondê-la, estranhamente entre os homens, com medo que se descubra que ela não é um deles, quando há centenas de mulheres a bordo. Perde-se a coerência, ganham-se algumas gargalhadas.
A história romântica nunca é convincente, com Dana Andrews perdido num papel ao qual não se ajusta, e todo um final é precipitado com uma súbita vitória militar, e um corte para mais uma sequência de dança que tem por missão fazer-nos esquecer que havia pontas soltas ainda por terminar. Pelo meio ficam alguns personagens secundários interessantes (o coronel, os colegas/némesis de Danny, o criado no restaurante) com pouco espaço para se mostrarem.
O filme foi nomeado para dois Oscars musicais, e foi, acima de tudo, o lançamento da carreira de Danny Kaye no cinema, que se tornava desde logo um favorito do público, vindo a fazer mais quatro filmes para Samuel Goldwyn.
Produção:
Título original: Up in Arms; Produção: The Samuel Goldwyn Company / Avalon Productions; País: EUA; Ano: 1944; Duração: 105 minutos; Distribuição: RKO Radio Pictures; Estreia: 17 de Fevereiro de 1944 (EUA), 14 de Novembro de 1944 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Elliott Nugent; Produção: Samuel Goldwyn; Produtor Associado: Don Hartman; Argumento: Don Hartman, Allen Boretz, Robert Pirosh [a partir do personagem da peça “The Nervous Wreck” de Owen Davis]; Música: Max Steiner [não creditado]; Canções: Harold Arlen e Ted Koehler, Sylvia Fine e Max Liebman; Direcção Musical: Louis Forbes; Fotografia: Ray Rennahan [cor por Technicolor]; Montagem: Daniel Mandell, James E. Newcom; Direcção Artística: Perry Ferguson, Stewart Chaney; Cenários: Howard Bristol; Figurinos: Miles White; Caracterização: Robert Stephanoff; Efeitos Especiais: Clarence Slifer, Ray Binger; Coreografia: Danny Dare; Direcção de Produção: Walter Mayo.
Elenco:
Danny Kaye (Danny Weems), Dinah Shore (Virginia), Dana Andrews (Joe), Constance Dowling (Mary Morgan), The Goldwyn Girls (Bailarinas), Knox Manning (Narrador (voz)), Louis Calhern (Coronel Ashley), George Mathews (Blackie), Benny Baker (Butterball), Elisha Cook Jr. (Info Jones), Lyle Talbot (Sargento Gelsey), Walter Catlett (Major Brock), George Meeker (Ajudante de Ashley), Tom Keene [como Richars Powers] (Ajudante de Ashley), Margaret Dumont (Mrs. Willoughby), Donald Dickson (Cantor no Cais), Charles Arnt (Mr. Higginbotham), Charles Halton (Dr. Roger B. Freyheisen), Tom Dugan (Pitchman), Sig Arno (Criado).