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Wings Jack Powell (Charles ‘Buddy’ Rogers) e David Armstrong (Richard Arlen) são dois jovens da mesma povoação dos Estados Unidos, que acabam recrutados pela Força Aérea durante a Primeira Guerra Mundial. Entre eles existe a rivalidade de ambos estarem enamorados da mesma mulher, Sylvia Lewis (Jobyna Ralston). Esta corresponde ao amor de David, mas que para não desapontar Jack, não desmente os seus sentimentos. Jack é alvo da paixão de Mary Preston (Clara Bow), colega de travessuras desde a infância, e que se alista como enfermeira para estar mais perto de Jack. Uns e outros vão sofrer as agruras da guerra que os transformará para sempre forjando novas amizades e trazendo novas dores.

Análise:

Se é verdade que 1927 foi um ano de ouro para o cinema de Hollywood, um dos seus pontos mais altos foi o filme de guerra “Asas”, produzido pela Paramount Famous Lasky Corporation de Jesse L. Lasky e Adolph Zukor. Realizado por William A. Wellman, um autor já com longa carreira, e veterano da Primeira Guerra Mundial, que viu aqui o seu primeiro grande sucesso. A partir de uma história de guerra de John Monk Saunders, os argumentistas Hope Loring e Louis D. Lighton criaram o guião final, com a finalidade de incluir a personagem mais leve e de propensões românticas interpretada por Clara Bow, uma das maiores estrelas da sua geração.

“Asas” acompanha a vida militar de dois jovens da mesma localidade, Jack Powell (Charles ‘Buddy’ Rogers) e David Armstrong (Richard Arlen), ambos enamorados da mesma mulher, Sylvia Lewis (Jobyna Ralston) a qual corresponde o amor de David, mas que para não desapontar Jack, não desmente os seus sentimentos. Ao mesmo tempo Jack não percebe que é alvo da paixão de Mary Preston (Clara Bow), uma maria-rapaz que o acompanha nas peripécias de adolescência e que, quando Jack e Davis se alistam e vão para a Europa, se alista como enfermeira para estar mais perto de Jack.

Na Europa, Jack e Davis treinam para serem aviadores, num período que os passa de rivais para grandes amigos, em virtude do que passam juntos, e que torna as rivalidades da sua terra insignificantes. Jack é já um herói quando Mary o reencontra, bêbedo, rodeado de mulheres. Tentando salvá-lo da polícia militar, é ela própria apanhada e repatriada, sem que Jack perceba o que aconteceu. Na batalha de Saint-Mihiel, David é abatido, e dado como morto, mas consegue escapar e roubar um avião alemão. Decidido a vingar o amigo, Jack sai para abater aviões alemães, acabando por abater David, para só o perceber quando é demasiado tarde. De regresso aos Estados Unidos, Jack visita os pais de David contando-lhes o sucedido, mas estes perdoam-lhe, culpando a guerra e o inimigo. Ao reencontrar Mary, Jack percebe finalmente o amor entre ambos, e desposa-a.

Filmando durante mais de seis meses, em cenários naturais, principalmente nas paisagens abertas do Texas e Arizona, William A. Wellman dispôs de um orçamento milionário, e milhares de figurantes, entre os quais soldados e equipamentos das forças armadas dos EUA. As cenas aéreas foram filmadas usando pilotos e aviões militares, com algumas batalhas em terra a requererem movimentações de tropas reais, com aconselhamento das chefias militares no terreno (por vezes em conflito com as preocupações estéticas de Wellman). Como se não bastasse, tanto Charles ‘Buddy’ Rogers como Richard Arlen pilotaram os seus aviões para o filme, tendo o primeiro aprendido a voar durante as filmagens, enquanto o segundo era já aviador experiente.

Com a Primeira Guerra Mundial terminada há quase uma década, “Asas” é uma das várias super-produções dos anos 20 que a aborda com realismo e sem olhar a custos, destacando-se pelas cenas aéreas, que eram um prodígio inigualável na época. Partindo de uma história simples, a da amizade em tempos de guerra dos dois protagonistas, o filme é toda uma construção climática, que tem por objectivo mostrar-nos o horror da guerra, o valor da camaradagem, e a tragédia da perda. Pelo meio, a personagem de Clara Bow surge um pouco inusitadamente (do mesmo modo que volta a sair a meio do filme), apenas para trazer um lado mais leve, e uma famosa cena de nudez, onde por uma fracção de segundo a actriz mostra o peito nu às câmaras.

Mas o que fica são os bailados aéreos, e a dinâmica dos dois actores principais, que vemos desde a rivalidade pueril do início, à pungente cena de morte de um deles (que inclui efusivos beijos entre os dois), passando pelo ritual de passagem que é a morte daquele que eles têm brevemente como modelo (um muito jovem Gary Cooper), morte essa que marca a sua passagem de aspirantes a pilotos de facto. Assim sendo, “Asas” é ainda hoje tido como um modelo no que toca a filmes que abordam cenas de aviação militar, mesmo que em termos de enredo deixe algo a desejar. Fruto dos seus tempos é também o final simplista e moralista, com o Jack a ser categoricamente perdoado pelos pais do amigo que acidentalmente matou, os quais compreendem e culpam apenas o malvado inimigo.

A não esquecer está ainda o facto de o próprio William A. Wellman ter sido piloto de combate, tendo abatido aviões inimigos, e sido ele próprio abatido como um dos personagens do filme, o que traz uma componente autobiográfica ao filme.

O sucesso do filme foi tal que “Asas” foi exibido ininterruptamente durante mais de um ano. Tal não será sido alheio ao facto de o voo de Charles Lindbergh sobre o Atlântico ter ocorrido em Junho do mesmo ano, e ter sido motivo de grande entusiasmo popular, algo que é mencionado no início do filme. O filme venceria o primeiro Oscar de Melhor Filme atribuído (então chamado Melhor Produção), sendo o único filme mudo até “O Artista” (The Artist, 2011), de Michel Hazanavicius, a receber tal distinção. Tal não evitou que “Asas” viesse a ser considerado um filme perdido durante décadas, até uma cópia ser descoberta na Cinemateca Francesa.,

“Asas” seria motivo de um restauro da Paramount, com nova banda sonora, editado em 2012, com participação da Skywalker Sound e da Lucasfilm Ltd, e banda sonora original de J. S. Zamecnik.

Charles 'Buddy' Rogers, Clara Bow e Richard Arlen em "Asas" (Wings, 1927) de William A. Wellman

Produção:

Título original: Wings; Produção: Paramount Famous Lasky Corporation; Produtores Executivos: Adolph Zukor, Jesse L. Lasky; País: EUA; Ano: 1927; Duração: 143 minutos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia: 19 de Maio de 1927 (EUA), 13 de Dezembro de 1928 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: William A. Wellman, Harry d’Abbadie d’Arrast [não creditado]; Produção: Lucien Hubbard; Produtor Associado: B. P. Schulberg; Argumento: Hope Loring, Louis D. Lighton [a partir de uma história de John Monk Saunders]; Intertítulos: Julian Johnson; Música: J. S. Zamecnik [não creditado]; Fotografia: Harry Perry [preto e branco]; Montagem: E. Lloyd Sheldon, Lucien Hubbard [não creditado]; Direcção Artística: Hans Dreier [não creditado]; Cenários: ; Figurinos: Travis Banton [não creditado], Edith Head [não creditada]; Caracterização: ; Efeitos Especiais: Roy Pomeroy [não creditado]; Efeitos Visuais: ; Direcção de Produção: Frank M. Blount [não creditado].

Elenco:

Clara Bow (Mary Preston), Charles ‘Buddy’ Rogers (Jack Powell), Richard Arlen (David Armstrong), Jobyna Ralston (Sylvia Lewis), El Brendel (Herman Schwimpf), Richard Tucker (Comandante Aéreo), Gary Cooper (Cadete White), Gunboat Smith (O Sargento), Henry B. Walthall (Pai de David), Roscoe Karns (Tenente Cameron), Julia Swayne Gordon (Mãe de David), Arlette Marchal (Celeste).

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