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Allakariallak, Cinema, Docudrama, Documentário, Robert J. Flaherty
Com base nas suas viagens pela Baía de Hudson, no nordeste do Canadá, Roberth J. Flaherty contactou com o povo autóctone, inuit, cujas condições de vida documentou, na história de Nanook (Allakariallak) e da sua família. São eles que vemos viajar pela neve, quer para trocas comerciais, quer nos seus terrenos de caça. Esta pode ser às morsas (os tigres do mar, que são caçadas colectivamente), ou a ursos, focas e simples peixes. Com Nanook testemunhamos as várias técnicas usadas, bem como o seu dia a dia com família e cães, e até a construção de um igloo.
Análise:
“Nanuk, o Esquimó” foi um projecto pessoal de Roberth J Flaherty, um cidadão dos Estados Unidos que acabou por ir estudar em Toronto, no Canadá, tornando-se mais tarde prospector de terrenos para companhias de caminho-de-ferro, no norte desse país. Foi aí que começou a contactar com os povos autóctones, e a interessar-se pelo documentar daquela região do globo, de natureza inóspita. Como consequência desse seu interesse, Flaherty começou a escrever para a Geographical Review, num trabalho que o levou a visitar a Baía de Hudson (retratada neste filme) desde 1909. Em breve, Flaherty teria a ideia de documentar em imagem aquilo que ia vendo e descrevendo em papel. E, sem saber nada de cinema, Flaherty aprendeu o que pode no mais breve período de tempo possível, e começou a levar câmaras consigo a partir de 1913. Flaherty passou anos a recolher imagens, e quando as montava em 1916, um acidente levou à destruição dos negativos. Tal não o demoveu, voltando ao norte, depois de novo esforço financeiro, para filmar entre 1920 e 1921, aquilo que seria o seu mais famoso filme, desta vez com uma nova abordagem, centrar-se no dia a dia de uma pessoa.
Com essa escolha, focando-se no caçador dos inuit, Allakariallak, que ficou imortalizado em filme como Nanook, Robert J. Flaherty criou, mais que um documentário, uma espécie de docudrama, já que existe uma narrativa centrada em personagens (com actores não profissionais, claro, já que cada qual se interpreta a si próprio em condições perfeitamente naturais), e com sequências algo encenadas, para ilustrar os momentos que Flaherty desejava captar em filme.
O resultado é um pouco da vida de Nanook, suas esposas e filhos. Vemo-los, num entreposto de trocas comerciais com os «homens brancos», e depois de volta à natureza, onde testemunhamos uma agitada caça a morsas, caça de uma foca, preparação de alimentos e dos trenós, a vida familiar e tratamento dos cães, e a construção de um igloo.
O filme terá levantado alguma polémica por se saber que os intervenientes não eram realmente uma família, e que posaram para Flaherty a seu pedido. Allakariallak reverteu as suas técnicas de caça a armas antigas (lanças em vez de espingardas), para dar um aspecto mais arcaico ao estilo de vida, e várias sequências foram encenadas, por exemplo na construção do igloo (que vemos quase em tempo real, detalhadamente), as imagens do interior foram filmadas noutro local, num igloo incompleto, para poder albergar a câmara.
Apesar desses desvios, o que temos é um testemunho incrivelmente fiel e comovente da vida numa região remota e tão violentamente diferente das nossas. Episódio a episódio, Flaherty vai mostrando detalhes da vida de uma comunidade, que ele descreve como a mais feliz do mundo, pese o modo de vida tão difícil e perigoso. Com uma câmara sempre no centro da acção, Flaherty mostra-nos quer a violência de uma caçada, quer a ternura das crianças a brincar. Sempre presente é a figura simpática e generosa de Nanook, activo, engenhoso, pronto a resolver cada situação com uma naturalidade ancestral, que nos pode causar estranheza, mas ao mesmo tempo comover pelo seu exemplo de força de viver.
“Nanuk, o Esquimó” foi um sucesso, sendo ainda hoje considerado o primeiro grande documentário da história do cinema. Foi o primeiro de dezena e meia de filmes realizados por Falherty, todos eles no campo do documentário, em regiões remotas da Terra. Mas nunca o sucesso da sua estreia seria de novo alcançado.
Produção:
Título original: Nanook of the North; Produção: Les Frères Revillon / Pathé Exchange; Produtor Executivo: John Révillon [não creditado]; País: EUA / França; Ano: 1922; Duração: 78 minutos; Distribuição: Pathé Exchange; Estreia: (EUA), (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Robert J. Flaherty; Produção: Robert J. Flaherty; Argumento: Robert J. Flaherty [não creditado] [a partir de uma ideia de Frances H. Flaherty – não creditada]; Fotografia: Robert J. Flaherty [não creditado] [preto e branco]; Montagem: Robert J. Flaherty [não creditado], Charles Gelb [não creditado].
Elenco:
Allakariallak (Nanook), Nyla (A Própria, Mulher de Nannok – A Sorridente), Allee (O Próprio, Filho de Nannok), Cunayou (A Própria, Mulher de Nannok), Allegoo (O Próprio, Filho de Nannok), Camock (O Próprio, Gato de Nannok).