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Alice Terry, Carrie Daumery, Cinema, Cinema Mudo, Drama, Honoré de Balzac, Ralph Lewis, Rex Ingram, Rudolph Valentino
Dificuldades económicas, por culpa da especulação na bolsa, levam Victor Grandet (Eric Mayne) a enviar o filho Charles (Rudolph Valentino) a passar um tempo com o tio (Ralph Lewis) e a sua prima Eugénie (Alice Terry). Sem que Charles saiba, o pai suicida-se de seguida, e envia ao irmão a incumbência de cuidar de Charles. Mas o pai Grandet, vendo uma possibilidade de lucrar com a morte do irmão, e temendo pela ligação nascente entre Charles e Eugénie, congemina para lhe roubar o património do sobrinho, fazendo tudo para separar o casal, tentando casar Eugénie noutra família, por dinheiro.
Análise:
Na sequência do sucesso de “Os Quatro Ginetes do Apocalipse” (The Four Horsemen of the Apocalypse, 1921), a Metro Pictures Corporation decidiu repetir imediatamente a dose, com mais um projecto de June Mathis, adaptando novamente uma obra literária, neste caso “Eugénie Grandet” do célebre escritor francês Honoré de Balzac. Para realizar o filme foi novamente escolhido Rex Ingram, que actuou também como produtor. Como protagonista voltava a contar-se com a estrela em ascensão Rudolph Valentino, secundado por Alice Terry.
Seguindo o texto de Balzac, o filme de Ingram mostra-nos Charles Grandet (Rudolph Valentino) ser enviado pelo seu pai Victor Grandet (Eric Mayne) para passar um tempo com o tio Félix Grandet (Ralph Lewis) e conhecer a sua prima Eugénie (Alice Terry). Sob este pretexto velado de fazer Charles passar tempo com a família esconde-se a verdadeira intenção do seu pai, suicidar-se, devido às suas dívidas, deixando o filho ao encargo do irmão Félix, o chamado Pai Grandet. Só que este, avarento, procura uma forma de lucrar com a situação, escondendo as cartas que recebeu, e enviando o sobrinho para longe, sobretudo depois de ver que ele e Eugénie se apaixonaram. Félix Grandet procura então levar Charles a passar-lhe a totalidade do património que este pensa já nem existir, enquanto, com Eugénie cobiçada por duas famílias da cidade, o Pai Grandet tenta o melhor negócio, convencendo-a de que Charles tem uma noiva. A descoberta de mais cartas escondidas mostra a Eugénie que ela não é filha de Félix, e é a detentora de toda a fortuna que pertencera à sua mãe. A discussão entre Eugénie e Félix leva à loucura e consequente morte deste. Por fim, Charles chega a tempo de esclarecer que nunca esteve noivo, pelo que Eugénie cancela o seu próprio noivado para ficar com aquele que sempre amou.
Se é verdade que há a nítida intenção de voltar à grandiosidade (literária e cinemática) de “Os Quatro Ginetes do Apocalipse”, falta a “Eugénia Grandet” muito do fôlego que deu brilho ao filme anterior de Rex Ingram. Com uma boa descrição da sociedade do livro de Balzac, das elites regionais, esquemas tortuosos, convenções sociais, ambições desmedidas e amores impedidos, o filme parece nunca verdadeiramente levantar voo, demasiado preso às convenções cinematográficas de então.
Temos sobretudo planos fixos de conjunto, numa lógica quase de palco, onde os actores se movem como se estivessem defronte a um público, e uma narrativa demasiado presa ao texto, seja em longos intertítulos, seja no recurso às inúmeras cartas (mostradas em inserts), que funcionam como a única mola que faz a história avançar. Por entre esses momentos, os actores têm menos que fazer, e o próprio Valentino tem aqui uma actuação mais apagada que em “Os Quatro Ginetes do Apocalipse”, sem oportunidades de mostrar os atributos que o tornariam uma lenda. O filme vale, no entanto pelo evoluir da trama, pelos valores de produção, como são os cenários de interiores, e por alguns apontamentos notáveis, como a célebre sequência da loucura de Félix Grandet (os fantasmas, o demónio do ouro, as paredes que o comprimem).
Com a advertência inicial de que o público não entenderia a história no seu contexto original, esta é transposta para os anos 10, onde Valentino pode interpretar um dandy da sua época. Como não podia deixar de ser, também o final é alterado, com a junção feliz de Charles e Eugénie, ao passo que no livro, Charles a abandona por dinheiro. Mas “Eugénia Grandet” é, afinal, um filme moralista, onde Ingram e Mathis nos querem mostrar que, apesar de todos os fantasmas e pecados associados à avareza do ouro, o tal poder conquistador de que fala o título original é o amor que une o casal e o faz vencer todas as adversidades.
Produção:
Título original: The Conquering Power; Produção: Metro Pictures Corporation; Produtores Executivos: ; País: EUA; Ano: 1921; Duração: 89 minutos; Distribuição: Metro Pictures Corporation; Estreia: 8 de Julho de 1921 (EUA), 18 de Maio de 1925 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Rex Ingram; Produção: Rex Ingram; Produtor Associado: ; Argumento: June Mathis [a partir do romance “Eugénie Grandet” de Honoré de Balzac]; Fotografia: John F. Seitz [preto e branco]; Montagem: ; Direcção Técnica: Ralph Barton, Amos Myers.
Elenco:
Rudolph Valentino (Charles Grandet), Alice Terry (Eugenie Grandet), Ralph Lewis (Félix Grandet), Carrie Daumery [como Edna Demaurey] (Mãe Grandet), Bridgetta Clark (Madame des Grassins), Mark Fenton (Monsieur des Grassins), Ward Wing (Adolphe des Grassins), Eric Mayne (Victor Grandet), Edward Connelly (Notário Cruchot), George Atkinson (Bonfons Cruchot), Willard Lee Hall (Abade Cruchot), Mary Hearn (Nanon), Eugene Pouyet (Cornoiller), Andrée Tourneur (Annette).
Belo blog, adorei!!!!