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Cinema, Eduardo Fajardo, Fernando Rey, Franco Nero, Iris Berben, Jack Palance, José Bódalo, Sergio Corbucci, Tomas Milian, Western, Western Spaghetti
Quando o General Mongo (José Bódalo) conquista mais uma cidade para os revolucionários mexicanos, descobre que a combinação do cofre está nas mãos do pacifista professor Santos (Fernando Rey), aprisionado em Yuma, nos Estados Unidos. Para o resgatar, Mongo envia o seu tenente, o impulsivo Vasco (Tomas Milian) e o mercenário sueco Yodlaf Peterson (Franco Nero). Os dois homens odeiam-se, mas terão de trabalhar juntos para conseguir ludibriar os norte-americanos, raptar o professor e trazê-lo de volta ao México. Isto, enquanto são perseguidos pelo sádico John (Jack Palance), e tentam compreender a estranha filosofia pacifista de Santos.
Análise:
O mais prolífico (no que ao western diz respeito) dos Sergios, Sergio Corbucci estreava em 1970 um dos seus títulos mais populares, e mais um que se integrava no subgénero western zapata, isto é, aqueles westerns de origem italiana que lidavam com o tema da revolução mexicana. “Companheiros” pega, de certo modo, nas ideias deixadas pelo anterior “Pistoleiro Profissional” (Il mercenário, 1968), repetindo personagens e dinâmicas, que são as das lutas fratricidas dentro das várias vertentes da revolução, a ingerência estrangeira, fosse pelo interesse político (EUA), pelo uso de peritos militares (o Polaco do filme anterior, e o Sueco do filme presente, ambos interpretados por Franco Nero), ou ainda pelo papel do povo, e mesmo dos pequenos criminosos, que aos poucos ganhavam consciência política.
É um pouco de tudo isso que temos em “Companheiros”, que vemos iniciar-se com o fuzilamento daqueles que se recusam votar no presidente Diaz, levando a uma imediata escaramuça entre as tropas governamentais e os revolucionários do General Mongo. São-nos depois apresentados os dois protagonistas. De um lado Vasco (Tomas Milian), pequeno criminoso recrutado para chefiar um ataque das tropas de Mongo. Do outro, o sueco Yodlaf Peterson (Franco Nero), um mercenário que vende armas modernas à melhor oferta. Entre eles surge uma terceira força, os partidários do professor Santos (Fernando Rey), um idealista que quer paz e progresso para o México, e que renega governo e revolucionários militares. Liderados por Lola (Iris Berben), por quem Vasco se apaixona, pedem ajuda ao sueco, mas com a chegada do General, o sueco e Vasco são enviados a capturar Santos, pela combinação do cofre que este deixou para trás. Pelo caminho, tanto o sueco como Vasco vão rever as suas prioridades para com a revolução mexicana, muito graças às palavras de Santos, um homem bondoso e sábio, enquanto escapam aos exércitos norte-americano e mexicano, e ao mercenário John (Jack Palance) que os persegue. Tal faz com que, ao chegarem ao México, os dois se revoltem contra Mongo, tentando salvar Santos e a sua revolução pacífica.
Tal como em “Pistoleiro Profissional”, “Companheiros” começa com um flashback, narrado pelo personagem de Franco Nero, que conduz a história ao momento do confronto com o seu oponente mexicano, que acabará por ser seu amigo. Tal como no filme de 1968, temos uma história de revolução que coloca lado a lado um estrangeiro (Nero) e um mexicano de origens pouco recomendáveis (agora Milian), na missão de procurar algo, o que lembra ainda “Corre Homem Corre” (Corri uomo corri, 1968) de Sergio Sollima, também com Milian, onde este também emparceirava com um estrangeiro, para procurarem nos Estados Unidos o ouro escondido da revolução. Desta feita o que se procuram são ideais, na pessoa do pacifista professor Santos. Voltando o enredo a dar motivo para inúmeras perseguições e fugas, encontros e desencontros, onde a relação entre os dois protagonistas tem alguns contornos humorísticos, e onde o verdadeiro mal virá de outra parte, no caso o sinistro personagem de Jack Palance, aparentemente doente, e usando um falcão como os seus olhos.
“Companheiros” vive, por isso, dos inúmeros recontros que vão mudar o curso dos eventos, num enredo complexo, onde a evolução da dinâmica entre os personagens de Nero e Milian (ambos com interpretações carismáticas) é sempre o ponto fulcral. A incerteza dessa relação (exacerbada pela cena de duelo com o que o filme abre) é o grande motivo de tensão do filme, que, à boa maneira dos western-zapatas, tem o seu quinhão de político (onde o personagem de Milian ostenta uma boina basca, a lembrar Che Guevara), com um olhar crítico para as forças que disputavam o México de então.
Mas é sobretudo no espírito de aventura, cenas de acção e irreverência dos personagens, que reside o interesse de “Companheiros”, onde não falta a presença feminina da revolucionária Lola, e o já citado lado negro do americano interpretado novamente por Palance, num papel que lembra a sua prestação como Curly em “Pistoleiro Profissional”. Adiciona-se a isto mais uma banda sonora de belo efeito de Ennio Morricone, com o tema-título em especial destaque.
Numa altura em que o próprio spaghetti começava a entrar em declínio, nota-se no próprio Corbucci (um dos mais originais criadores do género, com uma atmosfera negra e histórias assustadoramente provocantes) uma necessidade de cristalizar clichés, e aligeirar um pouco o tom. Tudo faz de “Companheiros” um filme leve, com quota-parte de divertimento, ainda que contendo a habitual habilidade de Corbucci para a grande acção, e o seu modo de filmar a grande paisagem como um deserto, seja qual for a cor escolhida. Um pouco como prova das citações que Corbucci agora insiste em fazer, como homenagem aos filmes anteriores, veja-se a sequência inicial, em que a corrida de Lola, em grande plano, mostrando-nos o fundo a girar em alta velocidade, é evocativa da sequência de Tuco (Eli Wallach) no cemitério em “O Bom, o Mau e o Vilão” (Il buono, il brutto, il cativo, 1966) de Sergio Leone, e como a cena em que o personagem de Milian arrasta um caixão é um piscar de olhos a “Django” 1966) do próprio Corbucci.
Produção:
Título original: Vamos a matar, compañeros [Título inglês: Companeros]; Produção: Tritone Cinematografica / Atlántida Films / Terra-Filmkunst; Produtor Executivo: Antonio Morelli; País: Itália / Espanha / RFA; Ano: 1970; Duração: 115 minutos; Distribuição: Titanus Distribuzione (Itália) / Atlántida Films (Espanha) / GSF (EUA) / 20th Century Fox (Reino Unido) / Constantin Film (RFA); Estreia: 18 de Dezembro de 1970 (Itália), 15 de Março de 1973 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Sergio Corbucci; Argumento: Arduino Maiuri [como Dino Maiuri], Massimo De Rita, Fritz Ebert, Sergio Corbucci; História: Sergio Corbucci; Diálogos: José Frade [não creditado]; Música: Ennio Morricone; Direcção Musical: Bruno Nicolai; Fotografia: Alejandro Ulloa [filmado em Techniscope, cor por Technicolor]; Montagem: Eugenio Alabiso; Design de Produção: Adolfo Cofiño; Figurinos: Jürgen Henze; Caracterização: Giuseppe Capogrosso; Direcção de Produção: Norberto Soliño.
Elenco:
Franco Nero (Yodlaf Peterson, O Sueco), Tomas Milian (El Vasco), Jack Palance (John), Fernando Rey (Professor Santos), Iris Berben (Lola), José Bódalo [como Francisco Bódalo] (General Mongo), Eduardo Fajardo (Coronel), Karin Schubert (Zaira), Gino Pernice [como Luigi Pernice] (Tourneur), Álvaro de Luna (Pistoleiro de John), Jesús Fernández (Santista), Claudio Scarchilli, Lorenzo Robledo (Capitão Jim), Giovanni Petti (Oficial de Fronteira), Gérard Tichy (Tenente), Gianni Pulone [como Giovanni Pulone], Tito García (Pepito Tigrero) [não creditado].
Este filme é visto quase como um “remake” de “Il Mercenario” mas para mim não é tão bom como o anterior.
Temos Milian em grande, temos Nero como “Il Pinguino”, temos Palance como vilão maneta que fuma charros, temos Fernando Rey armado em Ghandi.
Há uma grande legião de fãs deste filme. Eu não sou um deles.
Eu faço parte dessa legião. O tom aplicado neste quase remake eleva o filme para outra fasquia e claro, outro publico. É um filme que facilmente recomendo a novatos no género, e sei que não os desiludirá. Também existe uma ponte para com outros filmes anteriores de Corbucci, “Django” e “I Crudeli”, vide a cena do caixão.
Onde encontro este filme para baixar?
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