Etiquetas

, , , , , , , , , ,

La resa dei conti Jonathan Corbett (Lee Van Cleef) é um pistoleiro, famoso por apanhar bandidos com a cabeça a prémio. Dada a sua fama, o milionário Brokston (Walter Barnes) propõe-lhe que se candidate a senador, no que ele o apoiará em troco do apoio de Corbett para que ele desenvolva os caminhos-de-ferro. Para facilitar a candidatura, Brokston envia Corbett em busca de mais um criminoso, o mexicano Cuchillo Sanchez (Tomas Milian), suspeito de violar e matar uma rapariga de 12 anos. Corbett e Cuchillo iniciam uma longa perseguição e fuga, de jogos de gato e rato, durante a qual Corbett vai simpatizando com as condições da classe explorada a que Cuchillo pertence, e percebendo que talvez ele não seja o culpado dos crimes que lhe apontam.

Análise:

Depois de uma carreira no cinema como argumentista nos anos 50 (nomeadamente nos filmes do género «peplum»), Sergio Sollima começava a realizar os seus próprios projectos, começando com dois filmes da série de acção criminal “Agente 3S3” (assinados como Simon Sterling), e o thriller cómico “Perseguição a Sangue Frio” (Requiem per un agente segreto, 1966), antes de passar ao seu primeiro western “O Grande Pistoleiro”. Estreando-se num território onde outros, como por exemplo Sergio Leone e Sergio Corbucci, já davam cartas há algum tempo, Sollima aproveitava a enorme máquina italiana de produção para criar um dos seus filmes mais consagrados.

Jogando em terreno familiar, Sollima contava desde logo com a música de Ennio Morricone, o design do especialista Carlo Simi, e claro, filmagens na região de Almería, na Andaluzia, como bem se espera de um western italiano. A isto somava-se a habitual colaboração de um elenco internacional, onde se destacava Lee van Cleef, protagonista, com Clint Eastwood, de alguns dos filmes de Sergio Leone, e por isso, só por si, quase uma garantia, para o espectador, de se estar em território de confiança. Este era, claro, o do western sujo, de heróis pouco nobres, num mundo em desaparecimento, onde os tiros e as mortes não tinham o lado moral e limpo dos filmes clássicos de Hollywood.

“O Grande Pistoleiro” conta-nos a história de uma perseguição. Esta acontece quando o célebre caçador de bandidos Jonathan Corbett (Lee Van Cleef) é incentivado pelo milionário Brokston (o antigo desportista Walter Barnes) a procurar um pretenso assassino e violador mexicano chamado Cuchillo Sanchez (o cubano Tomas Milian). Brokston é um especulador decidido a entrar na indústria dos caminhos-de-ferro, e que vê com bons olhos uma carreira política para Corbett, que por sua vez o beneficie. Corbett segue o trilho de Cuchillo, que encontra facilmente, mas lhe escapa com astúcia. Uma série de perseguições, encontros e fugas vão fazer com que os dois homens se estejam constantemente a encontrar, mas Cuchillo consegue sempre escapar, mesmo quando parece já irremediavelmente apanhado. De todas as vezes, Cuchillo vai dizendo que não é culpado dos crimes que lhe apontam, provando a sua bondade quando poupa a vida de Corbett, num momento em que se lhe superioriza. Por fim, Brokston resolve tomar o assunto em próprias mãos, enviando o austríaco Barão (Gérard Herter) para matar Cuchillo e, se necessário, Corbett. Este, que já começara a empatizar com Cuchillo e o seu povo, explorado por gente como Brokston, percebe então que foi Chet (Ángel del Pozo), genro de Brokston, o responsável pelos crimes que Brokston atribui a Cuchillo.

Hoje, quando se fala de Sollima, pelos seus westerns spaghetti, acrescenta-se sempre que este surge em terceiro lugar de um pódio encabeçado pelos outros dois Sergios: Leone e Corbucci. No entanto, “O Grande Pistoleiro” foi um enorme sucesso imediato, para um realizador que procurava uma voz própria no género. É claro que há sempre forma de compararmos esta obra de Sollima com as dos seus pares, e se a presença de Van Cleef remete para Leone, a própria história de um pistoleiro justiceiro, na fronteira com o México lembra Django, de Corbucci.

Mas talvez o que mais destaque o filme de Sollima sejam os personagens. O Corbett de Van Cleef é um herói bem mais clássico que os de Leone e Corbucci. Interessa-lhe apenas fazer justiça, declara prontamente a Brokston que o ajudará politicamente apenas se isso beneficiar o país, enoja-se com a ideia do crime de violação de menores, é sensível às condições do povo de Cuchillo, e por fim ao seu próprio comportamento. Já Cuchillo, destaca-se pelo humor, e capacidade de improvisação, que nos fazem simpatizar com ele, e desde logo torcer para que ele não seja o bandido que se diz que é. O facto de Cuchillo usar preferencialmente facas é outro factor de distinção, marcando o confronto final num original duelo de faca contra pistola.

Mais discreta é a história política, com Brokston a encarnar o papel do magnata corrupto, referências à revolução mexicana, e um olhar sobre as classes exploradas pelo capitalismo desenfreado de alguns.

O sucesso de “O Grande Pistoleiro” na Europa levaria Sergio Sollima a fazer a sequela, baseada no personagem de Chucillo, de novo com Tomas Milian, “Corre Homem Corre” (Corri uomo corri, 1968). No entanto o filme teve problemas com a distribuição americana, que via na sua duração um impedimento. Dos 110 minutos originais, o filme, já dobrado, seria cortado para 89 minutos para que a Columbia o distribuísse no mercado norte-americano, em 1968, sob o título “The Big Gundown”. Os cortes levaram, por vezes, episódios completos, fazendo que o filme final pareça ter algumas elipses muito forçadas.

Como curiosidade refira-se que o personagem do Barão (austríaco, e de monóculo) é uma homenagem ao excêntrico actor e realizador Eric Von Stroheim.

Lee Van Cleef em "O Grande Pistoleiro" (La resa dei conti / The Big Gundown, 1966) de Sergio Sollima

Produção:

Título original: La resa dei conti [Título inglês: The Big Gundown]; Produção: Produzioni Europee Associati (PEA – Rome) / Tulio Demicheli P.C. / United Artists [não creditada]; Produtores Executivos: 1966; País: Itália/Espanha/EUA; Ano: 1966; Duração: 89 minutos; Distribuição: Produzioni Europee Associati (PEA) (Itália), Regia Films Arturo González (Espanha) / Columbia Pictures (EUA); Estreia: 29 de Novembro de 1966 (Espanha e Argentina), 21 de Agosto de 1968 (EUA).

Equipa técnica:

Realização: Sergio Sollima; Produção: Tulio Demicheli, Alberto Grimaldi; Argumento: Sergio Donati, Sergio Sollima; História: Franco Solinas, Fernando Morandi; Música: Ennio Morricone; Direcção Musical: Bruno Nicolai; Fotografia: Carlo Carlini [filmado em Techniscope, cor por Technicolor]; Montagem: Adriana Novelli; Cenários: Carlo Simi, Carlo Leva, Nicola Tamburo; Figurinos: Carlo Simi; Caracterização: Rino Carboni; Efeitos Especiais: Eros Bacciucchi; Direcção de Produção: Fernando Cinquini, Valentín Panero.

Elenco:

Lee Van Cleef (Jonathan ‘Colorado’ Corbett), Tomas Milian (Manuel ‘Cuchillo’ Sanchez), Walter Barnes (Brokston), Nieves Navarro (A Viúva), Gérard Herter (Baron von Schulenberg), Ángel del Pozo (Chet Miller), María Granada (Rosita Sanchez), Roberto Camardiel (Xerife Jellicol), Calisto Calisti (Mr. Lynch), José Torres (Paco Molinas), Antonio Molino Rojo (Rancheiro da Viúva), Luisa Rivelli (Prostituta de Willow Creek) , Fernando Sancho (Capitão Segura), Tom Felleghy (Pai de Chet Miller), Benito Stefanelli (Jess, Rancheiro da Viúva), Nello Pazzafini (Hondo, Ex-Fora da Lei da União), Antonio Casas (Irmão Smith & Wesson), Spartaco Conversi (Mitchell, Guarda Prisional), Romano Puppo (Rocky, Rancheiro da Viúva).

Advertisement