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Per qualche dollaro in piùMonco (Clint Eastwood) é um herói solitário, que ganha a vida como caçador de recompensas, procurando bandidos com cabeça a prémio. Nessa actividade, Monco cruza-se com outro caçador de prémios, o igualmente mortífero coronel Douglas Mortimer (Lee Van Cleef). Quando ambos descobrem que o bandido conhecido como Índio (Gian Maria Volontè) fugiu da prisão e tem um prémio de captura de 10 000 dólares, dirigem-se a El Paso, onde, supostamente, Índio estará. Os dois homens sabem, no entanto, que terão de lidar um com o outro, antes de dar caça ao bandido e ao seu bando.

Análise:

Com uma equipa que voltava a incluir vários dos seus colaboradores de “Por um Punhado de Dólares” (Per un pugno di dolari, 1964), entre os quais o assistente Tonino Valerii, o compositor Ennio Morricone, o director de fotografia Massimo Dallamano e os actores Clint Eastwood e Gian Maria Volontè, Sergio Leone tinha, em “Por Mais Alguns Dólares”, a receita para uma sequela de sucesso ao seu filme anterior. Mais uma vez a produção incluiu RFA e Espanha, com filmagem de exteriores em Espanha (Almeria e arredores de Madrid), com interiores no Cinecittà de Roma. A novidade foi a troca da Jolly Film pela Produzioni Europee Associati (PEA), que valeria a Leone um processo pelo uso do personagem de Clint Eastwood, em tudo idêntico ao do filme de 1964. Leone venceria no entanto o processo, com base na ideia de que o «homem sem nome» (que aqui é, por uma vez, referido como Monco), era um modelo geral do western.

Desculpas legais à parte, “Por Mais Alguns Dólares” repete em tudo a mitologia do western spaghetti começada por Leone em “Por um Punhado de Dólares”, numa revisita ao velho Oeste, mas de uma forma mais crua, suja, directa e violenta.

Mais uma vez, o herói é o personagem de poucas palavras, olhos claros, poncho (ainda esburacado dos tiros recebidos no filme anterior), e cigarro eternamente a ser aceso, enquanto olha de olhos semicerrados, quase escondidos pela aba do chapéu. Ele é obviamente Clint Eastwood, agora um caçador de prémios, procurando e matando bandidos com a cabeça a prémio. Nessa actividade, Monco cruza-se com outro caçador de prémios, o coronel retirado Douglas Mortimer (Lee Van Cleef), famoso pela sua pontaria de longa distância. Quando ambos descobrem que o bandido conhecido como Índio (Gian Maria Volontè) fugiu da prisão e tem um prémio de captura de 10 000 dólares, ambos se dirigem a El Paso, onde, supostamente, Índio estará.

Após um primeiro recontro, Monco e o Coronel decidem juntar forças, o primeiro tornando-se membro do bando de Índio, o segundo seguindo-os. Depois de um assalto ao banco de El Paso, o bando, já diminuído dos homens que Monco matou, foge para Leste, onde encontra o Coronel que os ajuda a abrir o cofre roubado. À noite, Monco e o Coronel escondem o dinheiro, mas são apanhados. Na esperança de se livrar dos seus próprios homens, Índio liberta os dois caçadores de prémios, simulando uma fuga que causa a morte de mais dois dos seus homens. De seguida envia os restantes bandidos no encalço dos fugitivos, esperando que se aniquilem mutuamente. Mas os dois caçadores sobrevivem e voltam para buscar o dinheiro, e matar Índio, com quem o Coronel tinha uma dívida familiar para saldar.

Se, por um lado, é óbvio que tudo neste filme mostra continuidade em relação ao anterior, também é evidente que há uma evolução no sentido operático que viria a ser imagem de marca de Sergio Leone. A velocidade diminuiu, a atenção ao rosto dos protagonistas aumenta, e a montagem faz uma constante roda-viva por rostos e expressões, que marcam os momentos, mais que qualquer movimento. Essa exaltação é fruto de um congelamento de segundos que se tornam eternos, criando tensão e definindo momentos, e resultado de enquadramentos estudados e sempre de cortar o fôlego, mercê da encenação cuidada, e uso perfeito do Techniscope. Note-se o duelo final, numa espécie de arena circular, já prenunciando o seguinte “O Bom, o Mau e o Vilão” (Il buono, il brutto, il cativo, 1966).

A nível de enredo, pouco muda, com os personagens de Eastwood e Van Cleef a surgirem como justiceiros num mundo selvagem, no qual os seus métodos são praticamente tão questionáveis quanto os dos bandidos (note-se como Monco trata o telegrafista em Santa Cruz).

Com mais tempo para contar a sua história, Leone dedica-o aos bandidos, que conhecemos com detalhe, desde o bruto Wild (Klaus Kinski) ao pistoleiro cobarde Groggy (Luigi Pistilli). Mas é sobretudo Gian Maria Volontè, o Índio, que brilha, dominando cada cena com um carisma de cantor lírico, o qual parece ser mesmo o motivo da sua inspiração. Com ele testemunhamos a crueldade daquele universo, de mortes cruéis e gratuitas (a esposa e filho do homem que o traiu, o companheiro de cela, os próprios correligionários) e, num flashback, a violação da própria amante.

Mas, e apesar da sua história, e das quebras de regras tácitas do western (enquadrar no mesmo plano atirador e vítima, com imagem vista das costas do atirador era quase um pecado na altura), extrema violência, a morte de um cavalo, uso de drogas, e nenhum personagem particularmente simpático, é sempre Clint Eastwood quem fica para a história em mais uma interpretação bem conseguida, que, com toda a sobriedade e calma, compõe o seu «homem sem nome» que se tornava um ícone do western. Ao seu lado, também Lee Van Cleef, até aí um secundário em Hollywood, veria a sua carreira ganhar novo fôlego, com o seu ar frio e cruel, depois de ganhar um papel de protagonista devido à recusa das primeiras escolhas, Henry Fonda, Charles Bronson e Lee Marvin.

Mais uma vez a banda sonora de Ennio Morricone, aqui ainda mais arrojada que no filme anterior, é mais um elemento que torna “Por Mais Alguns Dólares” um clássico, nela construindo referências que mais tarde muitos procurariam imitar.

Novamente dobrado em estúdio, o filme teve na versão italiana Enrico Maria Salerno a dobrar Clint Eastwood, e Emilio Cigoli a dobrar Lee Van Cleef. Já na versão em inglês, Gian Maria Volontè dobrou a sua própria voz, mesmo sem falar inglês.

Produção:

Título original: Per qualche dollaro in più [Título inglês: For a Few Dollars More]; Produção: Produzioni Europee Associati (PEA) / Arturo González Producciones Cinematográficas / Constantin Film Produktion; Produtor Executivo: Alfredo Fraile [não creditado]; País: Itália / Espanha / República Federal Alemã (RFA); Ano: 1965; Duração: 132 minutos; Distribuição: Produzioni Europee Associati (PEA) (Itália), Constantin Film (RFA), United Artists; Estreia: 19 de Dezembro de 1965 (Itália).

Equipa técnica:

Realização: Sergio Leone; Produção: Arturo González, Alberto Grimaldi [não creditado]; Argumento: Luciano Vincenzoni, Sergio Leone, Sergio Donati [não creditado], Fernando Di Leo [não creditado]; História: Sergio Leone, Fulvio Morsella; Diálogos da versão inglesa: Luciano Vincenzoni; Música: Ennio Morricone; Direcção Musical: Bruno Nicolai, Ennio Morricone [não creditado]; Fotografia: Massimo Dallamano [filmado em Techniscope, cor por Technicolor]; Montagem: Adriana Novelli, Eugenio Alabiso, Giorgio Serrallonga; Direcção Artística: Carlo Simi; Cenários: Ángel Cabero [não creditado], Montoro [não creditado]; Figurinos: Carlo Simi; Caracterização: Rino Carboni; Efeitos Especiais: Giovanni Corridori, Eros Bacciucchi [não creditado], Manuel Baquero [não creditado]; Efeitos Visuais: Ludovico Bettarello; Direcção de Produção: Ottavio Oppo.

Elenco:

Clint Eastwood (Monco), Lee Van Cleef (Coronel Douglas Mortimer), Gian Maria Volontè (El Indio), Mario Brega (Nino, Elemento do bando de El Indio), Mara Krupp (Mary, Mulher do Gerente do Hotel), Luigi Pistilli (Groggy, Elemento do bando de El Indio), Klaus Kinski (Juan Wild, o Corcunda), Panos Papadopulos (Sancho Perez, Elemento do bando de El Indio), Benito Stefanelli(Luke ‘Hughie’), Roberto Camardiel (Empregado da Estação de Tucumcari), Aldo Sambrell (Cuchillio), Luis Rodríguez (Manuel, Elemento do bando de El Indio), Tomás Blanco (Xerife de Tucumcari), Lorenzo Robledo (Tomaso, Traidor de El Indio), Sergio Mendizábal (Gerente do Banco de Tucumcari), Dante Maggio (Carpinteiro na Cela com El Indio), Diana Rabito (Rapariga na Banheira), Giovanni Tarallo (Telegrafista de Santa Cruz), Mario Meniconi (Maquinista do Comboio), Joseph Egger (Velho Profeta).

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