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Rebel without a Cause Recém-chegado a uma nova cidade, o jovem Jim Stark (James Dean) inicia a estadia com problemas, sendo apanhado bêbedo pela polícia. Na escola, os seus pares logo o desafiam a mostrar o que vale, num jogo mortal de coragem, conduzindo um carro até um precipício. A tragédia acontece, com a morte de Buzz (Corey Allen), levando a que Jim se aproxime de Judy (Natalie Wood), uma rapariga com uma má relação familiar, e do submisso Plato (Sal Mineo), um rapaz abandonado pelos seus, e que segue Jim como um cachorrinho. Só que o trio é perseguido pelos amigos de Buzz que querem vingar a sua morte.

Análise:

Ainda antes de “A Leste do Paraíso” (East of Eden, 1955) estrear nos cinemas, James Dean filmava aquele que seria a sua segunda obra maior, o conturbado “Fúria de Viver”, sob realização do já consagrado Nicholas Ray, que depois de Elia Kazan seria o segundo realizador com formação de teatro a lidar com a estrela nascente de Dean.

Centrando-se num elenco de jovens actores James Dean, Sal Mineo, Natalie Wood como protagonistas, Dennis Hopper como secundário, “Fúria de Viver” baseia-se numa história do próprio Ray. Como no seu filme de estreia, “Filhos da Noite” (They Live by Night, 1948), Ray lida com as escolhas de adolescentes rebeldes, tendo a noite como pano de fundo para o desenrolar dos acontecimentos dramáticos e tragédia anunciada.

Filmado em CinemaScope e como uma espécie de tragédia em dois actos (isto é, com dois momentos trágicos bem vincados e bem marcantes), o filme inicia-se na chegada à cidade de Jim Stark (James Dean), um jovem com nítidos problemas no relacionamento com os seus pais, que os levam a mudar de cidade, numa interpretação visceralmente marcante do jovem actor (um actor que sabia interpretar com todo o corpo). É na esquadra da polícia que os vários elementos se encontram, fruto dessa rebeldia, falta de comunicação e revolta. Além de Jim, Judy (Natalie Wood), que teme que o pai a considere uma galdéria, e Plato (Sal Mineo), vítima de um abandono que o leva a chamar a si a atenção com actos ilícitos. Cedo a presença de Jim vai alertar Buzz (Corey Allen), namorado de Judy, e o seu bando de amigos, que numa espécie de desafio e ritual de iniciação o tentam amedrontar com uma perigosa prova, que consiste em dirigir um carro em direcção a um precipício para ver quem é o último a saltar. Por infortúnio, Buzz fica preso no carro e morre, mas o evento vai aproximar ainda mais Jim e Judy, enquanto Plato, vê neles uma espécie de pais adoptivos.

Quando o grupo de Buzz procura Jim para se vingar, Plato acorre e leva os Jim e Judy para se esconderem numa velha mansão abandonada. Mas aí Plato, temendo novo abandono, vai pegar numa arma contra os amigos de Buzz, gerando uma confusão, na qual a polícia chega e acaba por o atingir mortalmente.

Com um filme que começa numa noite (na esquadra), e termina numa segunda noite (a das tragédias), Nicholas Ray traz-nos mais um retrato de uma juventude inquieta, valores em queda e uma rebeldia que provém, afinal, dos sinais paternos (da fraqueza do pai de Jim à dominação surda da sua mãe, da autoridade cega do pai de Judy – com sugestões de incesto – à total ausência dos pais de Plato). Encontramos os três protagonistas primeiro na esquadra, por motivos diferentes, todos eles perdidos, desesperados, acabando por encontrar uns nos outros uma curiosidade que reverte em busca de companhia. É esse o tema principal do filme que fica no entanto marcado pelo dramatismo das duas citadas tragédias.

Fruto de rebeldia, de inconsciência fértil na juventude, de vontade de provar algo, de sangue demasiado quente, ou até de falta de estabilidade emocional, primeiro a corrida de carros, depois o tiroteio, surgem como os pontos-chave, plenos de tensão, como tragédias em lume brado, prontas a explodir. Mas se apenas horas se passam entre elas, tudo mudou para Jim e Judy, que um no outro encontram a estabilidade que faltava. Se na primeira tragédia Jim se envolve para provar algo a uma Judy embriagada pela adrenalina daqueles jogos mortais, na segunda são já um Jim e uma Judy adultos. A transformação dá-se pelo incontornável Plato, numa sugerida adoração homossexual por Jim, embevecido pelo casal que toma por progenitores, e por fim sentindo-se traído quando eles vão consumar o seu amor sem ele. Como se, por breves momentos, Jim e Judy tivessem tido a experiência de serem progenitores, e sentido o amargo da repreensão juvenil. Note-se como a própria reacção dos pais de ambos é diferente então, orgulhosos dos filhos que tentaram salvar a situação, e sofrem com o seu resultado, no que é uma mostra de total maturidade.

A noite é aqui, para Ray, mais que um refúgio de comportamentos improváveis, um processo de maturação que conduz os jovens rebeldes a um estágio diferente, caso dela sobrevivam. Destaca-se ainda o modo de filmar, com uma proximidade bastante intensa, e o recurso aos planos oblíquos nos momentos de tensão, como se a câmara seguisse as contorções dos sentimentos e do próprio Dean.

“Fúria de Viver”, hoje um pouco datado por representar modos de estar já desaparecidos, surpreendeu pelo retrato conturbado da juventude, e o aventar de explicações que incluem culpas para pais aparentemente normais. O próprio título faz referência ao livro “Rebel Without a Cause: The Hypnoanalysis of a Criminal Psychopath” do psiquiatra Robert M. Lindner’s (publicado em 1944). A Warner considerou-o inicialmente como produção menor até perceber que Dean se estava a tornar uma estrela da noite para o dia, decidindo filmá-lo a cores e torna-lo um dos seus principais filmes do ano, apesar do tema difícil, habitualmente deixado para produções mais discretas.

Como resultado, “Fúria de Viver” conseguiu Oscars para Melhor Actor e Actriz secundários (Sal Mineo e Natalie Wood) e Argumento, além de dois BAFTA para Melhor Filme e Actor (Dean). Quanto a James Dean, conseguia mais uma interpretação inesquecível, cimentando o seu nome como actor que definia uma geração, para além de ícone de juventude em revolta, que este filme lhe daria para sempre. E, graças a Dean, a t-shirt passou a ser um dos artigos de vestuário mais vendidos de então para cá.

Sal Mineo, James Dean e Natalie Wood em "Fúria de Viver" (Rebel Without a Cause, 1955) de Nicholas Ray

Produção:

Título original: Rebel Without a Cause; Produção: Warner Bros.; Produtores Executivos: ; País: EUA; Ano: 1955; Duração: 106 minutos; Distribuição: Warner Bros.; Estreia: 26 de Outubro de 1955 (EUA), 6 de Novembro de 1956 (Cinema Monumental, Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Nicholas Ray; Produção: David Weisbart; Argumento: Stewart Stern [a partir de uma história de Nicholas Ray, adaptada por Irving Shulman]; Música: Leonard Rosenman; Fotografia: Ernest Haller [filmado em CinemaScope, cor por WarnerColor]; Montagem: William H. Ziegler, James Moore [não creditado]; Design de Produção: Malcolm C. Bert [não creditado]; Direcção Artística: Malcolm C. Bert; Cenários: William Wallace; Figurinos: Moss Mabry; Caracterização: Gordon Bau.

Elenco:

James Dean (Jim Stark), Natalie Wood (Judy), Sal Mineo (John ‘Plato’ Crawford), Jim Backus (Frank Stark), Ann Doran (Mrs. Carol Stark), Corey Allen (Buzz Gunderson), William Hopper (Pai de Judy), Rochelle Hudson (Mãe de Judy), Dennis Hopper (Goon), Edward Platt (Ray Fremick), Steffi Sidney (Mil), Marietta Canty (Criada da Família Crawford), Virginia Brissac (Mrs. Stark, Avó de Jim), Beverly Long (Helen), Ian Wolfe (Dr. Minton), Frank Mazzola (Crunch), Robert Foulk (Gene), Jack Simmons (Cookie), Tom Bernard (Harry), Nick Adams (Chick), Jack Grinnage (Moose), Clifford Morris (Cliff).

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