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Bibi Andersson, Cinema, Cinema sueco, Drama, Elliott Gould, Ingmar Bergman, Max Von Sydow, Romance, Sheila Reid
Karin (Bibi Andersson) é uma mulher casada com o médico Andreas Vergerus (Max von Sydow), e mãe, que depois de o casal privar com um novo amigo, o arqueólogo inglês a trabalhar na Suécia David Kovac (Elliot Gould), se deixa envolver romanticamente com ele. Com grande urgência, e um tanto ingenuamente, os amantes vão-se encontrando às escondidas, deixando que a sua relação se torne uma obsessão ao ponto de os começar a destruir por dentro. Quando Andreas descobre, vai forçar Karin a escolher, e esta começa por seguir David, mas uma série de desencontros emocionais vai pôr tudo em causa, e fazer com que a relação se torne impossível.
Análise:
Com “O Amante”, Ingmar Bergam colocou-se o mais perto que já tinha estado do melodrama convencional, naquele que foi o seu primeiro filme falado em inglês. Co-produzido pela Cinematograph AB e a norte-americana ABC Pictures, o filme teve filmagens em Estocolmo e Londres, contando com a participação do norte-americano Elliot Gould. Foi também o primeiro filme em de que o próprio Bergman assinou a produção.
Com um título que, no original significa «o toque», Bergman conta a história de Karin (Bibi Andersson), uma mulher casada com o médico Andreas Vergerus (Max von Sydow), e mãe, que se deixa apaixonar por David Kovac (Elliot Gould), um arqueólogo inglês a trabalhar na Suécia. A princípio um tanto ingenuamente, os amantes vão deixando que a urgência da sua relação se torne uma obsessão ao ponto de os começar a destruir por dentro. Isto não passa despercebido aos olhos de Andreas, que vai forçar Karin a escolher. Uma série de desencontros de estado de espírito vai fazer com que a relação se torne impossível, com Karin finalmente a escolher ficar com Andreas.
Numa verdadeira operação de charme ao mercado anglófono, Ingmar Bergman filmou em inglês (consta que existe uma versão em que cada actor falou originalmente na sua língua), um romance com Elliot Gould no principal papel, depois da recusa da primeira escolha, Dustin Hoffman.
Trata-se de uma história que choca pela secura com o que tema é tratado. Não nos apercebemos das razões que levam David e Karin a aproximar-se, nem do que torna a sua relação especial. No seu habitual jeito cerebral, Bergman mostra-nos os sentimentos, desejos e decisões em diálogos frios, cujas palavras parecem não corresponder ao que os personagens demonstram fisicamente. Essa disjunção é clara na primeira vez que David e Karin dormem juntos, onde nada acontecem, com o sexo a ser para eles apenas mais um motivo de diálogo, diálogo esse que os seus corpos parecem não querer compartilhar.
É sempre racionalmente, através dos diálogos, que nos apercebemos dos avanços e recuos (por vezes com enormes elipses temporais), que não testemunhamos, nem poderemos compreender. Como se fossem narrados por terceiros numa grande ausência de emoções dos protagonistas, que olham para as suas vidas como se estivessem fora delas.
Com uma fotografia fria, e uma câmara sempre móvel, a seguir os rostos de muito perto, há como que um certo nervosismo nos enquadramentos, que corresponde aos jeitos ansiosos e inquietos dos amantes. Entre eles tudo é brusco, tudo se torna desencontro, com a nítida percepção de que nunca estão ambos no mesmo estado de espírito, cada qual sempre mais voluntarioso no momento em que o outro se procura afastar. Esta corrosão é espelho do trabalho de David, que explica a Karin como a figura de uma Virgem por dele encontrada se revelou albergar um ninho de insectos que a corrói por dentro.
O resultado dos impulsos, infracções, incompreensões e desencontros será a constatação final por Karin que, na conclusão da sua luta (que dura todo o filme) pela honestidade das relações e de cada um para consigo próprio, que apesar da sua atracção pela vida mais instável com David, será apenas com Andreas que poderá ser minimamente feliz. A cena final, da separação, é de certo modo evocativa daquela protagonizada por Liv Ullman e Max von Sydow em “A Paixão” (En Passion, 1969).
Perdido entre filmes maiores de Bergman, este “O Amante”, filme que Bergman hesitou ao filmar e lhe valeu críticas depreciativas ao protagonista, acabou quase esquecido, e é, juntamente com “This Can’t Happen Here” (Sånt händer inte här, 1950), um dos dois filmes de Ingmar Bergman nunca editados em DVD.
Produção:
Título original: Beröringen [Título inglês: The Touch]; Produção: Cinematograph AB / ABC Pictures; País: Suécia / EUA; Ano: 1971; Duração: 113 minutos; Distribuição: Svensk Filmindustri (SF) (Suécia); Estreia: 14 de Julho de 1971 (EUA), 30 de Agosto de 1971 (Suécia), 18 de Maio de 1972 (Cinema Londres, Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Ingmar Bergman; Produção: Ingmar Bergman, Lars-Owe Carlberg; Argumento: Ingmar Bergman; Música: Jan Johansson, Peter Covent, Carl Michael Bellman; Fotografia: Sven Nykvist [cor por Eastmancolor]; Montagem: Siv Lundgren; Design de Produção: P. A. Lundgren, Ann-Christin Lobråten; Figurinos: Mago, Ethel Sjöholm; Caracterização: Bengt Ottekil, Cecilia Drott, Carl M. Lundh; Direcção de Produção: Lars-Owe Carlberg, Lotti Ekberg.
Elenco:
Elliott Gould (David Kovac), Bibi Andersson (Karin Vergerus), Max von Sydow (Andreas Vergerus), Sheila Reid (Sara Kovac).