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Anna Maria Alberghetti, Cinderela, Cinema, Comédia, Ed Wynn, Farsa, Frank Tashlin, Henry Silva, Jerry Lewis, Judith Anderson, Robert Hutton
Versão masculina do conto de Cinderela, com um Cinderelo (Jerry Lewis) cujo pai morreu e deixou a herança à sua viúva (Judith Anderson). Esta, madrasta de Cinderelo, vive com os dois filhos, Maximilian (Henry Silva) e Rupert (Robert Hutton), e os três tratam Cinderelo como escravo. Quando a madrasta arranja forma de fazer um dos filhos cortejar uma Princesa Encantada (Anna Maria Alberghetti) de um reino europeu, surge um Fada-Padrinho (Ed Wynn) que irá dar a um incrédulo Cinderelo a oportunidade de conquistar a princesa, ao mesmo tempo que este ouve, nos seus sonhos, a voz do fantasma do pai que lhe fala de um tesouro escondido.
Análise:
1960 foi o ano da completa emancipação criativa de Jerry Lewis. Assinado um novo acordo no ano anterior com a Paramount Pictures, Lewis tinha agora controlo criativo sobre os seus filmes, que passariam a ser produzidos pelo próprio através da recém-criada Jerry Lewis Pictures. O primeiro filme produzido por Jerry Lewis seria este “Cinderelo dos Pés Grandes”, o qual seria, no entanto o segundo a ver a luz do dia. É que, uma vez o filme pronto, Lewis preferiu que a estreia fosse apenas no Natal, e perante a insistência da Paramount para ter um filme no Verão, Lewis filmou, à pressa, “Jerry no Grande Hotel” (The Bellboy), que também escreveu e realizou.
Mas o seu principal esforço do ano foi para a sua versão da história infantil de Cinderela, escrita e realizada por Frank Tashlin, a partir de uma ideia do comediante. Tashlin, um autor que começara como cartoonista, brilhando na era dourada dos Loonie Tunes da Warner Bros., passou depois a criador de gags em comédias de gente como os Irmãos Marx e Bob Hope. Não espanta que, com o curriculum de anarquia que trazia, Jerry Lewis visse nele um irmão de armas, tendo o seu trabalho conjunto em dois dos seus filmes de parceria com Dean Martin servido para que Lewis o chamasse a realizar dois dos filmes produzidos por si através da York Pictures Corporation, ainda no contrato anterior com Hall B. Wallis e a Paramount: “Jerry Ama-Seca” (Rock-A-Bye Baby) e “Jerry no Japão” (The Geisha Boy), ambos de 1958.
O filme é uma re-imaginação do popular conto de Cinderela, passado nos tempos modernos, e no masculino. O Cinderelo é Jerry Lewis, cujo pai morreu deixando a herança nas mãos da sua viúva (Judith Anderson), madrasta do Cinderelo, e a qual tem dois filhos, Maximilian (Henry Silva) e Rupert (Robert Hutton). Todos tratam o Cinderelo como escravo, fazendo-o cuidar da mansão e jardins para eles, até se aperceberem de que ele recebe, no sono, indicações do fantasma do pai sobre uma fortuna escondida. A madrasta decide que o melhor é prevenir e gasta todo o dinheiro para trazer a sua casa a Princesa Encantada (Nola Thorp) de um país europeu, para que Rupert case com ela. Só que surge a intervenção do Fada-Padrinho de Cinderelo (Ed Wynn), que lhe explica que é tempo de os homens se vingarem da história original que faz com que todas as mulheres do mundo esperem príncipes encantados, e tratem mal os seus maridos por não o serem. Com a intervenção do Padrinho, Cinderelo conquistará o coração da Princesa, e serão felizes para sempre.
Se a parceria entre Jerry Lewis e Frank Tashlin parece normal, e voltaria a repetir-se muitas mais vezes, menos natural é talvez o humor bastante contido do filme. Mostrando estar ainda numa fase de transição entre a sua persona de herói trapalhão, mas adorável, e o anarquismo irreverente que se seguiria, “Cinderelo dos Pés Grandes” baseia a sua comicidade no ar simplório, desastrado e bem-intencionado do personagem de Jerry Lewis, que passa o tempo a esgrimir histrionismos faciais, e o seu humor físico de gestos e comportamentos grotescamente desajeitados, por vezes estendendo os gags demasiado tempo. A isto o argumento junta algumas canções, que quebram desnecessariamente o ritmo de uma história que se torna bastante previsível desde a sua metade.
Há mesmo um espaço para Count Basie se mostrar com a sua orquestra, e diversos momentos de dança jazz, com Lewis a experimentar os seus passos propositadamente cómicos, como que num aperitivo do que seriam os seus espectáculos em Las Vegas.
Como se esperava, o filme é apenas um veículo para Jerry Lewis se exibir, com todos os outros personagens a serem meramente suportes das suas cenas, com a pequena excepção de Ed Wynn num ou dois momentos. Mesmo a nível de argumento, muito parece confuso. Todo o enredo em torno de um tesouro escondido mina completamente o conceito da história, não se percebendo sequer porque deixaria o pai de Cinderelo um tesouro escondido, quando o podia ter deixado na herança ao filho, nem porque a madrasta, senhora da herança oficial, e dona da casa, teria de ser expulsa caso Cinderelo encontrasse o dito tesouro. Tudo isto distrai do que deveria ser a ênfase da história – as consequências de uma Cinderela no masculino – resultando em sequências sem grande humor que não seja Jerry Lewis a levar os seus maneirismos ao limite do exagero.
Produção:
Título original: Cinderfella; Produção: Jerry Lewis Pictures; País: EUA; Ano: 1960; Duração: 88 minutos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia: 18 de Dezembro de 1960 (EUA).
Equipa técnica:
Realização: Frank Tashlin; Produção: Jerry Lewis; Produtor Associado: Ernest D. Glucksman; Argumento: Frank Tashlin, Joe Besser [não creditado]; História: Jerry Lewis [não creditado]; Música e Direcção Musical: Walter Scharf; Canções Originais: Harry Warren e Jack Brooks; Fotografia: Haskell B. Boggs [cor por Technicolor]; Montagem: Arthur P. Schmidt; Direcção Artística: Hal Pereira, Henry Bumstead; Cenários: Sam Comer, Robert R. Benton; Figurinos: Edith Head; Caracterização: Wally Westmore; Efeitos Visuais: John P. Fulton; Coreografia: Nick Castle; Direcção de Produção: William Davidson.
Elenco:
Jerry Lewis (Cinderelo), Ed Wynn (Fada-Padrinho), Judith Anderson (Madrasta), Henry Silva (Maximilian), Robert Hutton (Rupert), Anna Maria Alberghetti (Princesa Encantada), Count Basie (O Próprio), Joe Williams (Vocalista), Nola Thorp (Cinderela) [não creditada].
Parece ser um filme divertidíssimo. Sinto saudades de assistir filmes de comédia que realmente me façam rir. Esse eu não conhecia, e parece super divertido… gostei da ideia de brincar com o lance da Cinderela e transformá-la num personagem masculino. Deve ser demais 🙂