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Alexander Sokurov, Antje Lewald, Anton Adasinsky, Cinema, Cinema russo, Drama, Fausto, Filme de época, Georg Friedrich, Hanna Schygulla, Isolda Dychauk, Johan Wolfgand von Goethe, Johannes Zeiler
Faust (Johannes Zeiler) é um astrólogo, alquimista, cirurgião, que busca os segredos da ciência em autópsias em que procura a alma entre as vísceras dos cadáveres. A sua busca leva-o a conhecer o excêntrico Mauricius (Anton Adassinsky), cuja retórica esguia e rebuscada, o vai convencendo de que tem respostas diferentes. Mauricius leva então Faust pelas áreas mais obscuras a cidade, onde conhece a bela Gretchen (Isolda Dychauk), por quem se apaixona a ponto de ceder às propostas de Mauricius que lhe oferece uma noite com a rapariga, em troca da sua alma.
Análise:
Como quarto tomo da sua tetralogia do poder, que inclui “Moloch” (Molokh 1999), sobre Adolf Hitler, “Taurus” (Telets, 2001), sobre Lenine, e “O Sol” (Solntse, 2005) sobre Hirohito, Alexander Sokurov realizou em 2011 “Fausto”, sobre o homónimo herói trágico, como descrito na obra de Goethe. Por essa razão, o filme é falado em alemão, usando maioritariamente actores alemães.
A história tem por base o mito de Fausto, o homem que fez um pacto com o Diabo, e que aqui é Heinrich (Johannes Zeiler), um astrólogo, alquimista, cirurgião, que busca os segredos da vida e da ciência, mesmo que para isso tenha que usar métodos pouco ortodoxos, como autópsias em que procura a alma entre as vísceras dos cadáveres. Apegado ao seu mantra de que no início era o verbo, Heinrich é surpreendido pelo verborreico Mauricius (Anton Adassinsky), que, entre perguntas, intromissões e uma retórica rebuscada, o vai convencendo de que tem respostas diferentes. Henrich Faust segue-o então, numa viagem por áreas mais obscuras da cidade, e por elas conhece a bela Gretchen (Isolda Dychauk), para logo depois, se envolver involuntariamente numa briga num bar, que provoca a morte do irmão dela.
Por entre indecisões, curiosidade, e uma tendência para se deixar levar pelo mefistóles Mauricius, Heinrich vai-se deixando enrolar pelos conselhos daquele, acabando por assinar um contrato com ele, em troca de ajuda para conquistar Gretchen. Com a ajuda do demónio, Heinrich consegue uma noite com Gretchen, mas depois disso Mauricius leva-o consigo, e terminam num lugar que já não é deste mundo. Farto de Mauricius, Heinrich soterra-o sob rochas, e vagueia sozinho para sempre.
Filmando num monocromatismo sépia, Sokurov traz-nos uma história que, pelo dècor, figurinos, e a própria paleta, nos reporta a tempos idos, mas que é afinal uma história universal, a da busca do transcendente, e a proverbial venda da própria alma na busca de mais poder ou conhecimento. Nesse sentido o filme encaixa-se na supracitada tetralogia do poder, embora, neste caso de modo alegórico.
Nessa busca, o realismo torna-se secundário, perante a caminhada conduzida pelo estranho Mauricius (um Mefistófeles que se revela não ter órgãos genitais, nem forma completamente humana, mas que se chama a si próprio «Übermensch», aquilo que Nietszche definiu como o superior «Além-homem»), numa retórica tão envolvente como falaciosa, mas sempre provocante, que assim vai seduzindo Heinrich Faust.
Graças a essa capacidade coloquial, à cor, à interpolação de planos distorcidos obliquamente, ao modo como os diálogos se tornam comentários ou pensamentos em off (num quase murmúrio transversal à própria acção), e à forma como as cenas são interligadas, fica sempre algo de onírico no desenvolvimento da história, onde o tempo é difícil de apreender, e a narrativa tem tanto de sério como de perversamente irónico e cómico, e sempre críptico. Por isso “Fausto” diverge dos anteriores filmes de Sokurov, ao ter uma montagem rápida de sequências curtas, que neste caso funcionam quase como pinturas de inspiração holandesa, tendo Rembrandt sido apontado como grande inspiração do realizador. “Fausto” espanta pela sua beleza estética, ambiente irreal e forma hipnótica de conduzir diálogo e acção numa história universal.
Com um orçamento de 8 milhões de euros, o filme teve exteriores filmados na República Checa, Alemanha e Islândia, tendo tido o apoio das autoridades russas que o viram como um ponto positivo na ligação entre a Rússia e a Europa. Apresentado em diversos festivais internacionais, “Fausto” viria a receber o Leão de Ouro do Festival Internacional de Veneza.
Produção:
Título original: Faust / Фауст; Produção: Proline Film/ Stitfung für film Medienförderung / Filmförderung; País: Rússia; Ano: 2011; Duração: 133 minutos; Estreia: 8 de Setembro de 2011 (Festival Internacional de Veneza, Itália), 26 de Outubro de 2011 (Itália), 11 de Abril de 2013 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Alexander Sokurov; Produção: Andrey Sigle; Argumento: Alexander Sokurov, Marina Koreneva [a partir do livro de Yuriy Arabov, baseado na peça homónima de Johann Wolfgang von Goethe; Música: Andrey Sigle; Fotografia: Bruno Delbonnel [Digital, cor por Eastmancolor]; Montagem: Jörg Hauschild; Design de Produção: Elena Zhukova; Figurinos: Lidia Kryukova; Caracterização: Tamara Frid; Efeitos Especiais: Kamil Jaffar; Efeitos Visuais: Tuomo Hintikka; Direcção de Produção: Jirí Hauzner, Jiri Kounicky.
Elenco:
Johannes Zeiler (Heinrich Faust), Anton Adasinsky (Mauricius), Isolda Dychauk (Margarete, ou Gretchen), Georg Friedrich (Wagner), Hanna Schygulla (Mulher de Mauricius), Antje Lewald (Mãe de Margarete), Florian Brückner (Valentin), Maxim Mehmet (Amigo de Valentin), Sigurður Skúlason (Pai de Faust), Andreas Schmidt (Amigo de Valentin), Oliver Bootz (Amigo de Valentin), Jonas Jägermeyr (Amigo de Valentin), Igor Orozovic (Amigo de Valentin), Jirí Hampl (Amigo de Valentin), Joel Kirby (Padre Philippe), Eva-Maria Kurz (Cozinheira de Faust), Katrin Filzen (Criada de Margarete), Prodromos Antoniadis (Notário), Lars Rudolph (Estalajadeiro).