Etiquetas
Andrea Checchi, Arturo Dominici, Barbara Steele, Bruxaria, Cinema, Cinema italiano, Enrico Olivieri, Gótico, Gótico Italiano, Ivo Garrani, John Richardson (Dr. Andre Gorobec), Mario Bava, Terror
No século XVII no principado da Maldavia, a princesa Asa Vadja (Barbara Steele) e o seu amante Javutich (Arturo Dominici) são barbaramente mortos por acusações de bruxaria. Asa lança uma maldição sobre a descendência do seu irmão, a qual começa a ganhar forma quando, um dia, o professor Thomas Kruvajan (Andrea Checchi) e o seu assistente, Dr. Andre Gorobec (John Richardson) têm um incidente na cripta, levando à quebra da cruz que sela o mal de Asa. Os Vadja ficam então à mercê de nova bruxaria, em particular a princesa Katia (também Barbara Steele) de quem Andre se enamora.
Análise:
Depois de, em 1957, ter terminado o filme de Riccardo Freda, “Os Vampiros” (I Vampiri), fazendo o mesmo em 1959 com ” Caltiki il mostro immortale”, em 1960, Mario Bava estreava-se na realização em nome individual. Tal como acontecera com as experiências em que substituiu Freda, com “A Máscara do Demónio” Bava escolheu o terror gótico como obra de lançamento.
Com argumento de Ennio de Concini e Mario Serandrei, Mario Bava inspirou-se na história “Viy” de Nikolai Gogol, de 1865, embora o resultado final fique a dever pouco ao autor russo. De facto “A Máscara do Demónio” insere-se no gótico tal como estava a ser desenvolvido na Inglaterra pela Hammer. Não falta nenhum dos ingredientes clássicos: maldições após a morte, famílias que vivem sob o peso do seu passado, castelos ancestrais, cemitérios e florestas tenebrosas. Temos até a tradicional estalagem onde todos temem a maldição, o coche fantasmagórico que leva os personagens para o castelo, o cocheiro com medo de atravessar a floresta e a multidão que no final quer resolver tudo pelo fogo.
A história diz respeito a uma maldição lançada por uma bruxa no século XVII. Asa (Barbara Steele), ao morrer, lança sobre os descendentes daquele que a condenou (o próprio irmão) uma maldição, que irá cumprir-se duzentos anos depois. Tudo começa quando os doutores Thomas Kruvajan (Andrea Checchi) e Andre Gorobec (John Richardson), passam pela capela onde a cripta de Asa se encontra. Curioso com lenda local, Kruvajan é supreendido pelo ataque de um enorme vampiro e, na luta, derruba acidentalmente a cruz que protege o túmulo de Asa, cortando-se num vidro e derramando sangue sobre o cadáver. Tal traz Asa de volta à vida, que chama o seu acólito Javutich (Arturo Dominici). Este traz o Dr. Kruvajan ao palácio dos Vadja onde o velho príncipe teme a maldição. Sob o efeito de Asa, o doutor Kruvajan ajuda à morte do príncipe. Os acontecimentos trazem ao castelo o doutor Andre Gorobec, que se enamora da princesa Katia Vajda, a qual é a imagem de Asa. Resta a Andre compreender as forças que defronta, para com a ajuda do padre e do príncipe Constantine Vajda (Enrico Olivieri), salvarem Katia e expulsarem para sempre o mal de Asa.
Com um argumento coeso (ainda que com algumas falhas evidentes), que passa por bruxaria, fala de vampiros, e nos traz uma vingança perpetrada por mortos-vivos, o filme vale sobretudo pela atmosfera criada, e uma fotografia exemplar. Considerando os poucos meios com que foi filmado (em cerca de um mês), “A Máscara do Demónio” é um exemplo da criatividade de Mario Bava, que com pouco conseguia fazer muito. Mais que a história de Gogol, é o gótico inglês que aqui aparece filmado, num filme que poderia constar do cânone da Hammer, e com a virtude de ter um forte papel feminino, algo que a Hammer raramente conseguiu.
O mérito é de Barbara Steele, uma actriz inglesa, então com 18 anos, que Mario Bava escolheu por fotografia, simplesmente porque queria um tipo diferente de rosto. Steele, que não falava italiano, e tinha horror a cenas de nudez, temia que o realizador abusasse da sua inocência. Tal gerou algum mal-estar na equipa, com a actriz a confessar ter que se embriagar para as cenas em que mostra o peito.
“A Máscara do Demónio” não deixa de fazer apelo à sexualidade de Steele, explorando também o lado romântico, muito por culpa da banda sonora de Roberto Nicolosi.
O filme foi distribuído na Europa, alcançando sucesso em vários países, mas sendo censurado noutros, como no Reino Unido (com o nome “The Mask of Satan”) onde, até 1968, o filme esteve proibido, altura em que nova versão foi submetida ao comité de censura, com o nome “Revenge of the Vampire”.
Para o mercado norte-americano, a distribuição foi feita pela American International Pictures de Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson (que ficaria famosa pelos filmes de terror de Roger Corman com Vincent Price). Para o filme, que nos EUA se chamou “Black Sunday”, foram feitas algumas modificações, incluindo a excisão das cenas iniciais com o S a ser queimado na testa de Asa, e a sua morte ao lhe martelarem na cabeça uma máscara de picos internos (a nominal máscara do demónio). A própria banda sonora foi substituída por uma mais ao gosto americano, da autoria de Les Baxter. Nem a dobragem feita em Itália foi aproveitada, com a AIP a preferir fazer uma dobragem nova (de notar que a voz de Barbara Steele não foi usada em nenhuma das versões).
O filme foi um enorme sucesso internacional, lançando as carreiras, tanto do realizador Mario Bava, como da actriz Barbara Steele, é hoje vulgarmente considerado o melhor da carreira de Bava, e é amiúde citado como influência, nomeadamente por realizadores que já afloraram o terror gótico, como Francis Ford Coppola e Tim Burton.
Produção:
Título original: La Maschera del Demónio [Título americano: Black Sunday]; Produção: Galatea Film / Jolly Film / Alta Vista Productions [versão norte-americana]; Produtor Executivo (EUA): Samuel Z. Arkoff; País: Itália; Ano: 1960; Duração: 87 minutos; Distribuição: American International Pictures (AIP) (EUA); Estreia: 11 de Agosto de 1960 (Itália), 15 de Fevereiro de 1961 (EUA).
Equipa técnica:
Realização: Mario Bava; Produção: Massimo De Rita, Lou Rusoff [versão norte-americana]; Argumento: Mario Bava [não creditado], Marcello Coscia [não creditado], Ennio De Concini, Mario Serandrei [baseado no conto “Viy” de Nicolai Gogol]; Música: Roberto Nicolosi, Les Baxter [versão norte-americana]; Direcção Musical: Luigi Urbini; Fotografia: Mario Bava [preto e branco]; Montagem: Mario Serandrei; Design de Produção: Giorgio Giovannini; Cenários: Nedo Azzini; Figurinos: Tina Grani.
Elenco:
Barbara Steele (Princesa Katia Vajda / Asa Vajda), John Richardson (Dr. Andre Gorobec), Andrea Checchi (Dr. Thomas Kruvajan), Ivo Garrani (Príncipe Vajda), Arturo Dominici (Igor Javutich / Javuto), Enrico Olivieri (Príncipe Constantine Vajda), Antonio Pierfederici (Padre), Tino Bianchi (Ivan), Clara Bindi (Estalajadeira), Mario Passante (Nikita, O Cocheiro), Renato Terra (Boris), Germana Dominici (Sonya, filha da Estalajadeira).
Para não variar, os ingleses e os americanos transformam um belo filme de terror num aglomerado de fantochadas com as suas habituais censuras e modificações parvas!
Quem ficou a perder foram os fãs desses países…