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En Lektion i KärlekO ginecologista David Erneman (Gunnar Björnstrand), decide que é hora de parar o caso que mantém com a amante Susanne (Yvonne Lombard), ao saber que a esposa Marianne (Eva Dahlbeck) está a caminho de Copenhaga, para se reunir ao antigo noivo, o artista Carl-Adam (Åke Grönberg). David vai também fazer a viagem, para a tentar reconquistar, mostrando-lhe, através de uma série de reminiscências e episódios rocambolescos, que os dezasseis anos de casamento podem e devem ainda ser continuados.

Análise:

Depois dos maus resultados do filme “Noite de Saltimbancos” (Gycklarnas afton, 1954), produzido pela Sandrew, Ingmar Bergman voltava à estatal Svensk Filmindustri (SF), para o seu filme seguinte que, como começava a ser hábito, era baseado num argumento seu. Era o reencontro de Bergman com a sua habitual equipa de produção, e também com os actores Eva Dahlbeck e Gunnar Björnstrand, os protagonistas da sequência cómica de “Mulheres que Esperam” (Kvinnors väntan, 1952).

E é exactamente dessa dupla, e da química entre os dois actores que se constrói “Uma Lição de Amor”, um filme que fala de um casamento à beira do fim, e das tentativas de o recuperar, através da sua análise e do recordar, através de um conjunto de flashbacks, de alguns dos seus momentos chave.

Mas antes disso, vemos David Erneman (Gunnar Björnstrand), um ginecologista casado (vítima da recorrente piada de que, de tanto olhar o interior das mulheres, nada sabe sobre elas, talvez devido ao ângulo pela qual as olha), que mantém uma relação com a sua paciente, e também casada, Susanne (Yvonne Lombard), decide que é hora de tentar resgatar o amor da esposa Marianne (Eva Dahlbeck). Esta encontra-se a caminho de Copenhaga, para se reunir ao amante Carl-Adam (Åke Grönberg), antigo noivo de quem ela se separou no dia do casamento, para o trocar por David um amigo comum do casal. David sabendo dos planos da esposa, embarca no mesmo comboio, e após uma divertida sequência em que aposta com o colega de carruagem que este não conseguirá conquistar a mulher que viagem com eles (e que só depois saberemos tratar-se da própria esposa de David), passará o resto da viagem a tentar reconquistá-la, o que faz recordando momentos da vida conjunta.

A viagem é, sobretudo, um esgrimir de posições, onde Marianne acusa o esposo de nunca estar presente, de viver de modo egoísta, e não a compreender. A chegada a Copenhaga, e o conviver com Carl-Adam vai fazer a balança pender para o lado de David, com Marianne a aceitar que foram verdadeiramente felizes, e merecem uma nova oportunidade.

Com uma história baseada na interacção de contornos cómico-trágicos, entre os seus dois protagonistas, Ingmar Bergman está praticamente no domínio da screwball comedy. Na sua versão sueca, esta assenta menos em atrapalhações e humor físico (a fleuma sueca não o permitiria), e mais nos combates verbais, feitos de insinuações (muitas de nível sexual) e picardias de posições. Estas ocorrem, na maioria, em torno da dicotomia homem-mulher, e naquilo que é devido a cada género, ele por natureza egoísta e conquistador, ela maternal e romântica. Tudo isto vive da química perfeita entre Gunnar Björnstrand e Eva Dahlbeck, divertidos e sérios, cáusticos e ternurentos, num equilíbrio que nos desconcerta, por ser baseado em comportamentos de um frio e cordial mundo escandinavo que por vezes nos escapa.

O filme divide-se entre as sequências no comboio, os flashbacks do passado (casamento, aniversário do pai de David, conversas com a filha adolescente, interpretada por Harriet Andersson), prólogo no consultório, e epílogo em Copenhaga. É toda uma diversidade de locais, de fotografia luminosa, que assenta no carácter leve da história, que, mesmo que lidando com um tema sério, o faz de modo divertido. Temos o regresso de alguns temas, como a morte, a fé, a fidelidade, a que se juntam o da velhice, e da determinação feminina (por exemplo na assertiva personagem de Harriet Andersson). Tudo com a abertura sueca para se falar de sexo, infidelidade, e relações que aceitam a traição.

Comédia para David e Marianne, tragédia para a filha Nix (preocupada com o seu crescimento), verdadeira lição de amor dos idosos Henrik (Olof Winnerstrand) e Svea (Renée Björling), o filme termina com uma reconciliação, consumada num quarto de hotel, como aquele em que David encontrava a amante, com uma porta fechada pelo próprio Cupido, criança traquinas que nos sorri de arco e flecha, dando um contorno simbólico ao terminar da história.>

Era talvez o mais leve filme já realizado por Bergman, que, logo no início, nos alertava para o facto de uma comédia poder facilmente tornar-se uma tragédia, e que o nosso olhar depende da maturidade já adquirida por conseguirmos ultrapassar tais eventos. Daí para a frente tudo se tornaria bem mais negro.

Gunnar Björnstrand e Eva Dahlbeck

Produção:

Título original: En lektion i kärlek [Título inglês: A Lesson in Love]; Produção: Svensk Filmindustri (SF); País: Suécia; Ano: 1954; Duração: 92 minutos; Estreia: 4 de Outubro de 1954 (EUA), 10 de Maio de 1961 (Cinema Império, Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Ingmar Bergman; Produção: Allan Ekelund [não creditado]; Argumento: Ingmar Bergman; Música: Dag Wirén; Orquestração: Eskil Eckert-Lundin; Fotografia: Martin Bodin [preto e branco]; Montagem: Oscar Rosander; Design de Produção: P. A. Lundgren; Direcção Artística: Ingmar Bergman [não creditado]; Caracterização: Carl M. Lundh, Nils Nittel [não creditado]; Direcção de Produção: Allan Ekelund.

Elenco:

Eva Dahlbeck (Marianne Erneman), Gunnar Björnstrand (David Erneman), Yvonne Lombard (Susanne Verin), Harriet Andersson (Nix Erneman), Åke Grönberg (Carl-Adam), Olof Winnerstrand (Professor Henrik Erneman), Birgitte Reimer (Lise), John Elfström (Sam), Renée Björling (Svea Erneman), Dagmar Ebbesen (Enfermeira Lisa), Sigge Fürst (Vigário).

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