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Till GlädjeStig (Stig Olin) é o mais recente violinista da orquestra do maestro Sönderby (Victor Sjöström). Amargurado e perdido na sua vida, Stig vai encontrar conforto nos braços da também violinista da orquestra, Marta (Maj-Britt Nilsson). Os dois iniciam uma relação a medo, que em breve se precipita para um casamento, quando Marta descobre estar grávida. Por entre crises existenciais, e falhanços como solista da orquestra, Stig acaba por conduzir o casamento de modo acidentado, incluindo mesmo uma relação extra-conjugal.

Análise:

Continuando na Svensk Filmindustri (SF), Ingmar Bergman filmava mais um filme escrito por si, agora no sul da Suécia, na paisagem natural da região de Helsingborg.

É a história gos violinistas Stig (Stig Olin) e Marta (Maj-Britt Nilsson), ambos na orquestra do maestro Sönderby (Victor Sjöström). Recém-chegado, Stig atravessa um mau momento, perturbado com crises sobre a sua existência e valor. Acaba por encontrar conforto nos braços de Marta, que se vai apaixonar por ele. Os dois iniciam então uma relação, que não querem tornar séria, mas que os leva ao casamento. Uma primeira crise conjugal surge quando Marta revela estar grávida, algo que Stig vê como um entrave à sua carreira. Mas o maior golpe para Stig é o seu falhanço como solista da orquestra. Para o combater, Stig resolve retomar aulas individuais com o professor Mikael Bro (John Ekman), aceitando os avanços da muito jovem mulher deste, Nelly (Margit Carlqvist).

O casal vive então de zangas e desencontros, fugas extra-conjugais de Stig e suas crises existenciais. Mas contra tudo, vão continuando juntos, com Stig a perceber aos poucos que cada ausência de Marta lhe dói muito mais do que ele poderia supor. Mas a tragédia é anunciada logo nas cenas de abertura, que fazem do filme um longo flashback, encapsulado por planos de uma harpa, com o Hino à Alegria de Beethoven ilustrar, ironicamente, as sequências inicial e final (justificando o título original).

Com Maj-Britt Nilsson e Stig Olin nos principais papéis, “Rumo à Felicidade” surge na linha do anterior “A Sede” (Törst, 1949), como mais um ensaio sobre a dinâmica conjugal, principalmente quando afectada pelos problemas internos de um dos elementos do casal (em “A Sede”, a neurose da personagem de Eva Henning, aqui a frustração pessoal da de Stig Olin). Bergman conta-nos a história separada por vários períodos do tempo (incluindo um flashback poeticamente narrado pelo personagem de Victor Sjöström), onde os interiores coexistem com a paisagem natural, quer no campo, quer na cidade. Bergman filma já com mestria, deixando travellings contar pequenas histórias, e os grandes planos pontuar as cenas mais dramáticas. Para além disso, desta vez Bergman usa a música clássica (tão presente na sua obra futura) para longas sequências de orquestra, que se tornam pequenos intervalos na narrativa, nos quais ouvimos Beethoven, Mozart e Mendelssohn.

Mas o que fica é, principalmente, a história dos desencontros de um casal, cuja relação é toldada pelas crises existenciais do elemento masculino, a contas com a frustração de não ser já alguém importante. Não se contentando a ser um bom músico de orquestra (como o maestro lhe vaticina), Stig desespera por não ter o talento com que sonha para liderar o seu próprio quarteto de cordas que lhe traga fama mundial, ou ser sequer solista da sua orquestra. Tal amargura-o, deprime-o e lança-o em buscas infrutíferas e estados de espírito destrutivos, que Marta, o exemplo do pragmatismo, e alicerce da família, vai suportando e tentando mitigar.

Bergman voltava assim a lidar com os problemas de um casal, e muito daquilo que o pode destruir, como a ambição pessoal, a infidelidade, os filhos não desejados (note-se como mais uma vez o aborto é um tema abordado frontalmente), num filme que chega a ser tocante pela forma como os personagens lutam sinceramente para se encontrarem. É também um ensaio sobre a solidão, mesmo quando no meio da multidão. Ela provém da solidão que Stig sente transportar sempre consigo, como o mostra a festa que o leva a ficar (só entre todos) pela primeira vez em casa de Marta, ou, mais paradoxalmente, no seu desejo de ser solista, um entre tantos. E termina, de novo de modo poético, na solidão final do filho que o observa, já só, talvez espelho do próprio Stig na sua idade.

O resultado é um exercício de diálogos poéticos, no qual os personagens se tentam descobrir, no que seria, afinal, mais um episódio da vida sentimentalmente atribulada e inconstante do próprio Bergman, como um exorcismo das suas questões pessoais.

“Rumo à Felicidade” conta ainda com as presenças de Birger Malmsten, desta vez num papel menor, e do antigo realizador, e a dada altura mentor de Bergman, Victor Sjöström, que compõe um paternal e exigente maestro.

Stig Olin e Maj-Britt Nilsson

Produção:

Título original: Till glädje [Título inglês: To Joy]; Produção: Svensk Filmindustri (SF); País: Suécia; Ano: 1950; Duração: 99 minutos; Distribuição: Svensk Filmindustri (SF); Estreia: 20 de Fevereiro de 1950 (Suécia), 28 de Janeiro de 1966 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Ingmar Bergman; Produção: Allan Ekelund; Argumento: Ingmar Bergman; Música: Ludwig van Beethoven, Wolfgang Amadeus Mozart, Felix Mendelssohn Bartholdy; Orquestração: Eskil Eckert-Lundin; Fotografia: Gunnar Fischer [preto e branco]; Montagem: Oscar Rosander; Design de Produção: Nils Svenwall; Caracterização: Carl M. Lundh; Direcção de Produção: Allan Ekelund.

Elenco:

Maj-Britt Nilsson (Marta Olsson), Stig Olin (Stig Eriksson), Victor Sjöström (Sönderby), Birger Malmsten (Marcel), John Ekman (Mikael Bro), Margit Carlqvist (Nelly Bro).

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