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Üç MaymunServet (Ercan Kesal), um empresário de sucesso com pretensões políticas, conduzindo à noite, atropela alguém mortalmente, mas acaba por fugir em pânico. Temendo ter sido reconhecido, Servet convence o seu motorista Eyüp (Yavuz Bingol) a dar-se como culpado pelo acidente, a troco de dinheiro. Eyüp aceita ir preso, deixando a Hacer (Hatice Aslan) e o filho Ísmail (Ahmet Rifat Şungar), o qual falha os exames e convence a mãe a pedir um adiantamento a Servet para comprar um carro que lhe permita ter um emprego. Só que quando Hacer começa a lidar com Servet, os dois iniciam uma relação ilícita.

Análise:

Com a reputação em alta, Nuri Bilge Ceylan conseguiu para o seu filme “Os Três Macacos” financiamento internacional, principalmente de França e Itália, levando-o a uma ainda maior exposição, que culminaria na participação em imensos festivais, começando logo em Cannes, como vinha sendo habitual na sua carreira.

Com uma história escrita em colaboração com a sua esposa Ebru e o actor Ercan Kesal, Ceylan voltava a descrever a Turquia actual, numa história que juntava os habituais problemas decorrentes da falta de comunicação e isolamentos das pessoas, a uma série de ironias trágicas que servem como pontos-chave no desenvolver da narrativa.

Assim temos a história de Eyüp (Yavuz Bingol) e da esposa Hacer (Hatice Aslan), um casal pobre dos subúrbios de Istambul, de modos rudes, e que tem como objectivo levar o filho Ísmail (Ahmet Rifat Şungar) a conseguir uma carreira através dos estudos. O primeiro episódio trágico ocorre quando o empresário Servet (Ercan Kesal), conduzindo à noite, atropela alguém mortalmente, abandonando o local em pânico, depois de ser visto por outro carro. Servet decide então que o seu motorista Eyüp deverá arcar com a culpa, para assim se poupar ao escândalo. A Eyüp é proposta o continuar do pagamento dos salários, e uma choruda recompensa financeira, a pagar no final do seu tempo na cadeia. Este aceita, a bem da sua família e dos estudos do filho.

Só que Ísmail volta a falhar nos exames, e convence a mãe a pedir um adiantamento a Servet par comprar um carro com que trabalhar. Hacer tem então que contactar Servet, o que se torna numa relação adúltera, como algum tempo mais tarde Ísmail vem a descobrir. Finda a sua pena, Eyüp sente-se traído pelo pedido do adiantamento do dinheiro feito sem ele ter sido consultado. O fantasma da traição avoluma-se em torno do estranho comportamento da esposa, e telefonemas recebidos por ela. Essas suspeitas confirmam-se quando a polícia o informa da morte de Servet, e relação que este mantinha com Hacer. Eyüp procura então alguém que aceite a culpa de outrem, como ele antes fizera, para assim poupar o verdadeiro assassino, que foi o próprio filho.

Numa história que termina e acaba com transferências de culpa, Nuri Bilge Ceylan traz-nos mais um conto de afastamento dos seus personagens, cuja incapacidade de comunicar os lança num cada vez maior abismo, que acaba por trazer uma barreira intransponível aos seus elementos. Temos como catalisadores elementos exteriores, como o atropelamento de Servet, a que se seguem alguns infortúnios (o falhanço de Ísmail nos exames, a coincidência que o levou a encontrar Servet com a sua mãe, etc.). Mas mesmo com uma história de vários crimes, é sempre a falta de comunicação entre a família, e o afastamento progressivo feito de desinteresse e incompreensão que, como habitualmente em Ceylan, vai conduzir a narrativa.

Mais uma vez, estas realidades são-nos veiculadas, mais que por palavras, pela fotografia de Ceylan, feita de planos demorados e contemplativos, quer nos interiores (plenos de realismo, e com os costumeiros close-ups intensos, e extremamente realistas), quer nos exteriores, onde os personagens nos chegam por vezes como minúsculos apontamentos, esmagados no peso da paisagem. Essa qualidade de fotógrafo faz com que, em Ceylan, os planos pareçam fotografias, e o tempo decorra languidamente, na certeza de que cada sentimento tem o seu tempo, e surge vindo de dentro, sem pressa, sem que as palavras o possam rotular.

Há no entanto, em “Os Três Macacos”, um ritmo mais acelerado, com um misto da anterior languidez de Ceylan, e composições mais rápidas, mas sempre obedecendo ao princípio fotográfico de planos intensos, que narram quase sem palavras, e ao simbolismo meteorológico, com as ameaças de tormentas nos momentos mais difíceis para os personagens. Talvez essas diferenças retirem alguma da fluidez que marcara os filmes anteriores do realizador.

O filme valeu a Nuri Bilge Ceylan o prémio de Melhor Realizador em Cannes, a que juntou troféus de vários outros festivais internacionais de cinema. Esteve ainda na lista de pré-nomeados para Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, não tendo, no entanto, chegado à competição final.

Hatice Aslan e Yavuz Bingol

Produção:

Título original: Üç Maymun [Título em inglês: Three Monkeys]; Produção: Zeyno Film / NBC Film / Pyramide Productions / BIM Distribuzione / Eurimages – Conseil de l’Europe / Imaj Sound Post Production / Imaj / Ministry of Culture and Tourism/ Centre National de la Cinématographie; País: Turquia / França / Itália; Ano: 2008; Duração: 104 minutos; Distribuição: United International Pictures (Turquia); Estreia: 16 de Maio de 2008 (Cannes Film Festival, França), 3 de Outubro de 2008 (Taiwan), 25 de Dezembro de 2008 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Nuri Bilge Ceylan; Produção: Zeynep Ozbatur Atakan; Co-Produção: Fabienne Vonier, Valerio De Paolis, Cemal Noyan, Nuri Bilge Ceylan; Argumento: Ebru Ceylan, Ercan Kesal, Nuri Bilge Ceylan; Fotografia: Gökhan Tiryaki [Digital]; Montagem: Ayhan Ergürsel, Bora Göksingöl, Nuri Bilge Ceylan; Direcção Artística: Ebru Ceylan; Caracterização: Gülcan Bayar Öge.

Elenco:

Yavuz Bingöl (Eyüp), Hatice Aslan (Hacer), Ahmet Rifat Şungar (Ísmail), Ercan Kesal (Servet), Cafer Köse (Bayram), Gürkan Aydin (Cocuk).

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