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The Fourth ProtocolJohn Preston (Michael Caine) é um agente de contra-espionagem britânico, cujos métodos pouco ortodoxos são apreciados pela chefia, mas põem em causa o seu superior directo. Depois de ter apanhado um oficial que passava informações da NATO para um diplomata sul-africano, sem saber que este era agente soviético, Preston é despromovido para uma posição nos portos da Escócia. Ao mesmo tempo, o Major Valeri Petrofsky (Pierce Brosnan) é enviado para o Reino Unido secretamente, pelo chefe do KGB (Alan North), numa missão que consiste em provocar uma explosão nuclear num aeroporto da NATO. Só que Preston começa a desconfiar de alguns acontecimentos que vê num dos portos que supervisiona.

Análise:

Com a Guerra Fria a terminar, não faltava ainda incentivo para filmes de espionagem que a tivessem como inspiração. Nem que fosse pela temida recaída na aproximação entre Estados Unidos e União Soviética, que no Ocidente se temia fosse o desejo de uma parte das Forças Armadas soviéticas. É esse o tema de “O Quarto Protocolo”, uma produção britânica, realizada por John McKenzie, um realizador com mais experiência na televisão, e conhecido no cinema, sobretudo pelo drama criminal “A Sexta-Feira Mais Longa” (The Long Good Friday, 1980).

Foi Michael Caine quem imaginou o filme, chamando George Axelrod como argumentista e John Frankenheimer para o realizar. Problemas com o orçamento levaram a que ambos abandonassem o projecto e o próprio autor do livro, Frederick Forsyth, escrevesse o argumento para o filme. Com filmagens por vários locais do Reino Unido, e com a Finlândia a servir de cenário para as cenas ocorridas na Rússia, “O Quarto Protocolo” tem o seu nome em referência a um protocolo secreto de 1968 que prevê a não proliferação de armas nucleares, fala-nos dessa mesma ameaça, quando a chefia da KGB decide agir por conta própria, no intuito de provocar um acidente nuclear numa base da NATO na Escócia, de modo a provocar o descontentamento do povo britânico contra a presença norte-americana.

O agente chamado a executar esse plano é o Major Valeri Petrofsky (Pierce Brosnan) que deve obedecer apenas a Govershin (Alan North), director máximo do KGB. Sob o nome de James Edward Ross, Petrofsky estabelece-se no Reino Unido, pronto para receber as peças que constituirão uma bomba nuclear. Quando o superior de Petrofsky (Ned Beatty) se queixa a General Karpov (Ray McAnally) pela perda do seu melhor agente, Karpov começa uma investigação que o leva a desconfiar que Govershin age por conta própria.

Na Inglaterra, John Preston (Michael Caine), agente do MI5 acaba de expor um homem que roubava segredos da NATO para os sul-africanos, sem saber que eles iam parar ao KGB. Mas os seus métodos pouco ortodoxos valem-lhe o desfavor do seu superior directo Brian Harcourt-Smith (Julian Glover), que o despromove para supervisionar portos e aeroportos. É nessas funções que Preston detecta actividades estranhas, como a chegada de falsos marinheiros, e a apreensão de um disco de polónio. Sob a protecção do director do MI5, Sir Nigel Irvine (Ian Richardson), Preston vai iniciar uma investigação, que o leva a Petrofsky. Este, no entanto, já tendo recebido peças substitutas pela agente Irina Vassilievna (Joanna Cassidy), está pronto a detonar o engenho, quando se apercebe de várias traições que lhe vão pôr em risco a missão.

Bebendo na paranóia do nuclear, que grassava ainda em 1987, “O Quarto Protocolo” é essencialmente uma história de traições. Elas começam de quase modo burocrático, quando Govershin trai Karpov, não o informando da missão que planeia (note-se como o filme começa com um oficial soviético sendo assassinado pelos seus, de forma cobarde). Continua no lado inglês, primeiro quando Preston age sem informar Harcourt-Smith, e depois quando este, apesar dos bons resultados de Preston, o demove. Ela vai ainda estar presente na colaboração entre Petrofsky e Vassilievna, a qual porá em risco toda a missão. E por fim, será descoberta por Preston como uma aliança secreta de Irvine e Karpov, para por cobro à missão trágica, e ao mesmo tempo eliminar qualquer traço, pois um rumor num caso assim seria tão catastrófico como a própria explosão que se pretendia evitar.

É, como não poderia deixar de ser, uma história sinuosa e complicada, que tem até um prelúdio descorrelacionado da história (a primeira missão de Preston), que serve para apresentar personagens, e nos dar a conhecer um pouco da actividade dos membros do MI5. Ainda assim, o filme apresenta uma simplificação em relação ao livro que o origina, deixando de lado conspirações políticas dentro do Reino Unido.

Michael Caine é o centro do filme, agora que tinha já atrás de si uma longa carreira de filmes de espionagem, onde o seu perfil de homem comum, aparente calma distante, e uma certa propensão para um fino sarcasmo o tornavam já um personagem transversal aos vários filmes do género por si interpretados. Como um agente frio, quase sem sentimentos, temos um surpreendente Pierce Brosnan, sem adivinhar que se tornaria o famoso 007 quase vinte anos depois.

Com uma realização sóbria, apostando no realismo de locais e procedimentos, John McKenzie respeita a tradição inglesa dos filmes de espiões, de histórias realistas sem qualquer romantização, e personagens comuns. O resultado é um filme talvez demasiado cerebral, mas cuja força reside na tensão trazida pelas interpretações de Brosnan e Caine, no desenrolar de uma história que se percebe ser sempre mais complexa do que nos é dado a adivinhar.

Produção:

Título original: The Fourth Protocol; Produção: Fourth Protocol; Produtores Executivos: Frederick Forsyth, Wafic Said, Michael Caine; País: Reino Unido; Ano: 1987; Duração: 114 minutos; Distribuição: J. Arthur Rank Film Distributors (Reino Unido), Lorimar (EUA); Estreia: 19 de Março de 1987 (Reino Unido), 18 de Setembro de 1987 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: John Mackenzie; Produção: Timothy Burrill; Argumento: Frederick Forsyth, George Axelrod [baseado no livro homónimo de Frederick Forsyth]; Material Adicional: Richard Burridge; Música: Lalo Schifrin, Francis Shaw (música adicional); Fotografia: Phil Meheux; Montagem: Graham Walker; Design de Produção: Allan Cameron; Direcção Artística: Tim Hutchinson; Cenários: Peter Howitt; Figurinos: Tiny Nicholls; Caracterização: Lois Burwell; Efeitos Especiais: Peter Fern, Peter Hutchinson; Direcção de Produção: Jeannie Stone, Juhani Jotuni (Finlândia).

Elenco:

Michael Caine (John Preston), Pierce Brosnan (Valeri Petrofsky / James Edward Ross), Ned Beatty (Borisov / Pavel Petrovic), Julian Glover (Brian Harcourt-Smith), Michael Gough (Sir Bernard Hemmings), Ray McAnally (General Karpov), Ian Richardson (Sir Nigel Irvine), Anton Rodgers (George Berenson), Joanna Cassidy (Irina Vassilievna), Caroline Blakiston (Angela Berenson), Joseph Brady (Carmichael), Betsy Brantley (Eileen McWhirter), Sean Chapman (Capitão Lyndhurst), Matt Frewer (Tom McWhirter), Jerry Harte (Professor Krilov), Michael J. Jackson (Major Pavlov), Matthew Marsh (Barry Banks), Alan North (Govershin).

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