Etiquetas
Alex Rocco, Allen Garfield, Barbara Hershey, Cinema, Drama, Filme sobre Cinema, Hollywood, Paul Brodeur, Peter O'Toole, Richard Rush, Steve Railsback
Enquanto foge da polícia, Cameron (Steve Railsback) vai participar inconscientemente numa gravação de um filme, na qual um carro cai de uma ponte. A morte de Burt, o duplo dentro do carro, e a iminente paragem nas filmagens, leva o realizador, Eli Ross (Peter O’Toole) a apresentar Cameron como o duplo Burt, enganando a polícia, ao mesmo tempo que dá a Cameron a possibilidade de escapar à perseguição. Cedo Cameron se deixa fascinar por aquele mundo de faz de conta, e se apaixona por Nina (Barbara Hershey), a actriz principal. Mas quantos mais dias passam e mais arriscados os seus desempenhos se tornam, mais Cameron se convence de que Ross nada poupará para obter as cenas pretendidas, nem que isso custe matá-lo, livrando-se assim definitivamente do problema da morte de Burt, e do auxílio ao fugitivo.
Análise:
“The Stunt Man – O Fugitivo” começou a ganhar forma quando Melvin Simon, um milionário do mundo imobiliário, resolveu financiar o projecto há muito acalentado por Richard Rush, que realizou, produziu e ajudou a adaptar o livro de 1970 de Paul Brodeur. Homenagem ao mundo dos duplos de cinema (homens que por dinheiro ou loucura interpretam as cenas fisicamente mais perigosas, sendo – sem quase serem creditados – o verdadeiro espírito da aventura no cinema), o filme de Rush é um interessante exercício sobre os bastidores do cinema. Parte drama, parte thriller, parte aventura, parte comédia negra, “The Stunt Man – O Fugitivo” vive de uma história excitante e de um par de interpretações acima da média.
Destaca-se sobretudo Peter O’Toole (que seria nomeado aos Oscars por esta interpretação), no papel do carismático realizador (meio génio, meio louco), que ninguém sabe ao certo até onde irá para obter os resultados desejados. Ao seu lado está Steve Railsback, um actor pouco conhecido, provindo do Actor’s Studio, e que impressionara Rush pela sua personificação de Charlie Manson na série “Helter Skelter” (1976), e ganhou o papel a Martin Sheen e Jeff Bridges. Com eles, a sempre imprevisível Barbara Hershey.
“The Stunt Man – O Fugitivo” conta-nos a história de Cameron (Steve Railsback), um veterano do Vietnam, de regresso conturbado, e presentemente fugido da polícia, que inadvertidamente interfere na filmagem de uma queda de um carro de uma ponte. Nessa filmagem o duplo, Burt (curiosamente o irmão de Railsback), morre afogado, e quando a polícia questiona o realizador, Eli Ross (Peter O’Toole), este improvisa, imediatamente apresentando Cameron sendo Burt, ao mesmo tempo que oferece a Cameron um modo de se esconder da polícia, mesmo debaixo do seu olhar. Fascinado com o mundo do cinema, Cameron vai aprender a arte dos duplos, participando em cada vez mais arrojadas proezas físicas, ao mesmo tempo que se envolve romanticamente com a Nina (Barbara Hershey) a actriz principal do filme de Ross.
Mas com o continuar das filmagens, e o testemunho do modo tirânico com que Ross trata todos os actores e equipa, para deles conseguir os resultados pretendidos, Cameron começa a temer que na cena final (a repetição da queda da ponte), Ross prepare a sua morte, para assim obter a filmagem perfeita, uma forma de justificar a morte do verdadeiro Burt, e por fim se livrar do fugitivo que ainda por cima lhe está a roubar a actriz principal.
Quer como homenagem ao mundo dos duplos, quer ao cinema em geral, com elaboradas recriações de cenas de combate (num filme dentro do filme que se passa na Primeira Guerra Mundial), “The Stunt Man – O Fugitivo” funciona quase como um carrossel de emoções e situações. A tensão é clara desde os primeiros minutos, acentuando-se com o estabelecimento do triângulo Cameron-Nina-Ross, e intensificando-se com as intenções (ou suspeita de intenções) escondidas dos vários intervenientes.
Não deixa sequer de haver uma série de metáforas escondidas, geralmente evidenciadas por Ross, quer na forma como representa os despóticos génios de que Hollywood é fértil, que no mostrar de motivações, medos e paranóias. Tudo isto, num filme anti-guerra, onde são as cenas de guerra as mais excitantes, como que a exacerbar a falta de controlo que um autor tem sobre a sua obra depois de dada ao público. Por outro lado, todo o enredo principal lembra a anedota que Ross vai contando, ilustrando como tudo no cinema é ilusão, afinal o King Kong tinha apenas um metro de altura.
Embora com alguns desequilíbrios e uma interpretação de Railsback um pouco irregular, “The Stunt Man – O Fugitivo” é um exercício interessantíssimo, quer pelos temas, quer pela forma refrescante de filmar de Rush (que mostra conhecer bem as regras do suspense), quer ainda pela interpretação de Peter O’Toole (que, consta, se terá inspirado na pessoa de David Lean), que se torna a alma de tudo o que o filme tem de arrojado, imprevisível e irreverente.
Embora tolhido por uma fraca distribuição, fruto de ser uma produção independente, e por ser uma obra que ninguém sabia categorizar, o filme seria ainda nomeado para os Oscars de Melhor Realizador e de Melhor Argumento Adaptado. A banda sonora de Dominic Frontiere receberia o Globo de Ouro desse ano.
A versão DVD seria acompanhada do documentário “The Sinister Saga of Making ‘The Stunt Man’” (2000).
Produção:
Título original: The Stunt Man; Produção: Melvin Simon Productions; Produtor Executivo: Melvin Simon; País: EUA; Ano: 1980; Duração: 130 minutos; Distribuição: Twentieth Century-Fox Film Corporation; Estreia: 27 de Junho de 1980 (EUA), 26 de Março de 1982 (Portugal).
Equipa técnica:
Realização: Richard Rush; Produção: Richard Rush; Produtor Associado: Paul Lewis; Argumento: Lawrence B. Marcus [adaptado por Richard Rush, a partir do livro de Paul Brodeur]; Música: Dominic Frontiere; Fotografia: Mario Tosi [cor por Metrocolor]; Montagem: Jack Hofstra, Caroline Biggerstaff [como Caroline Ferriol]; Direcção Artística: James L. Schoppe; Cenários: Richard Spero; Figurinos: Rosanna Norton; Caracterização: Ken Chase; Efeitos Especiais: Milt Rice; Direcção de Produção: Frank Beetson.
Elenco:
Peter O’Toole (Eli Cross), Steve Railsback (Cameron), Barbara Hershey (Nina Franklin), Allen Garfield [como Allen Goorwitz] (Sam), Alex Rocco (Jake), Sharon Farrell (Denise), Adam Roarke (Raymond Bailey), Philip Bruns (Ace), Charles Bail (Chuck Barton), John Garwood (Gabe, Cameraman), Jim Hess (Henry, Assistente do Cameraman), John Pearce (Guarda na Garagem), Michael Railsback (Burt), George Wallace (Pai de Nina), Dee Carroll (Mãe de Nina), Leslie Winograde (Irmã de Nina).