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Queen ChristinaEm 1632, com a Suécia de Gustavo II Adolfo a tornar-se a maior potência do norte da Europa, a morte do rei deixa como sucessora a sua filha de seis anos, Cristina. Cristina (Greta Garbo) cresce para se tornar uma rainha amada pelo seu povo, continuando a elevar o nome do reino. Há no entanto uma preocupação, que é a necessidade de um herdeiro, uma vez que a rainha não parece querer casar. Tudo se torna mais complicado, quando a monarca deixa o seu coração guiá-la, vivendo a sua paixão pelo embaixador de Espanha, Don Antonio (John Gilbert).

Análise:

Com a renovação do contrato de Greta Garbo com a MGM, em 1932, a actriz garantia um maior poder de decisão nas obras em que participaria, e isso começava a dar frutos. Por um lado Garbo cansara-se de desempenhar a eterna tentadora, de vida dissoluta, que acabava por sofrer fins inenarráveis, depois de ter destroçado vidas à sua volta. Por outro conseguia finalmente ser centro de um conjunto de filmes de enormes valores de produção, inspirados em personagens históricas de maior complexidade e empatia com o seu público. Por fim, e em especial para este filme, Garbo conseguia o regresso de John Gilbert, com quem tinha desde há uns anos uma relação, e cuja carreira definhava com o advento do sonoro.

Todos estes elementos se conjugavam na reinterpretação da história dos amores da rainha Cristina da Suécia, afinal o país de onde Garbo era proveniente. A actriz lera a história de Salka Viertel, quando estava de férias na Suécia e decidiu que era hora de trazer uma sua conterrânea para o cinema. O filme foi recebido como um regresso de Garbo ao ecrã, pois ele acontecia dezoito meses depois do seu antecessor, na época um hiato considerável.

“Rainha Cristina” conta a história daquela que foi rainha da Suécia a meio do século XVII, numa época em que o reino era um dos mais poderosos do norte da Europa, vitorioso na Guerra dos Trinta Anos, e paladino do protestantismo. Cristina (Greta Garbo) surge representada tal como era, mulher independente, de personalidade forte, amada do seu povo, com forte sentido de estado e uma grande paixão pelo conhecimento e cultura, quer científicos quer artísticos. Tal como a rainha histórica, também a personagem de Garbo espantava por não se quedar a um papel feminino, gostando de vestir roupas masculinas, comportar-se como um homem (mesmo nas conquistas amorosas) e chocar pelo facto de não pensar casar.

É essa a trama da história do filme de Rouben Mamoulian (um realizador célebre pela versão da Paramount da história “Dr. Jekyll and Mr. Hyde”), que coloca a ênfase do filme nas pressões para a necessidade de casamento, como forma de garantir herdeiros para a coroa. Vemos aí as forças em confronto, desde o fiel Oxenstierna, ministro da rainha (Lewis Stone, no seu quinto filme com Garbo), até ao conde Magnus (Ian Keith), tesoureiro real e amante das horas vagas. Surgindo um pretendente dentro do reino, Charles (Reginald Owen), um herói de guerra, de sangue azul, o casamento parece óbvio, mas Cristina surpreende ao declinar.

Os caprichos da rainha ganham proporções de assuntos de estado, quando a rainha se apaixona pelo embaixador de Espanha, Don Antonio (John Gilbert), e com isso começa a ganhar a oposição de todo o reino. Resta-lhe apenas decidir entre casar com Charles e esquecer o seu amor, ou deixar o reino por Don Antonio. Cristina vai optar pela segunda hipótese, sem que consiga colher disso nenhum fruto, pois Antonio acabaria por morrer num duelo com o conde Magnus.

Temos assim Greta Garbo em mais uma história de amor, mas agora como uma mulher de honra, disposta a trocar um reino pelo homem que ama. É, como sempre, uma personagem dominante, mesmo nas relações amorosas, onde a forma como trata homens e mulheres traz uma suspeita de bissexualidade.

O filme vive sobretudo (para lá de todo o design bem conseguido) da sequência em que Cristina conhece Antonio na estalagem. Em eventos dignos de uma screwball comedy, o par acaba a dormir junto, sem que Antonio saiba que Cristina é uma mulher. Segue-se todo o deslumbramento da paixão nascente, com a célebre cena em que Garbo quase faz amor com todo o quarto, tal a sua necessidade de memorizar cada espaço.

O filme termina quase em jeito de aventura, onde não falta um duelo final, mas mais que o destino dos homens, é o destino da rainha que nos interessa. Faltando aqui o facto de Cristina ter fugido para Itália onde se converteria ao Catolicismo, isso é deixado em aberto, para vermos apenas uma mulher resoluta, que não se quer deixar amarrar a convenções, senhora do seu destino, como o ilustrado na cena final, o grande plano famoso em que vemos Garbo orgulhosa, na proa do seu navio.

Mais uma vez é Garbo quem domina o filme, com as suas fraquezas e forças, resoluções e hesitações. Gilbert teria em “Rainha Cristina” o seu canto do cisne, e não mais se destacaria no cinema. O filme foi muito bem recebido pela crítica e público, tornando-se um dos maiores sucessos de sempre de Greta Garbo, mostrando à MGM que a opção da actriz era a correcta, e por isso, a repetir.

Produção:

Título original: Queen Christina; Produção: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM); País: EUA; Ano: 1933; Duração: 89 minutos; Distribuição: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM); Estreia: 26 de Dezembro de 1933 (EUA), 8 de Maio de 1934 (Portugal).

Equipa técnica:

Realização: Rouben Mamoulian; Produção: Walter Wanger; Argumento: H.M. Harwood, Salka Viertel, Harvey Gates [não creditado], Ben Hecht [não creditado], Rouben Mamoulian [não creditado], Ernest Vajda [não creditado], Claudine West [não creditado] [a partir da história de Salka Viertel e Margaret P. Levino]; Diálogos: S.N. Behrman; Música: Herbert Stothart; Fotografia: William H. Daniels [preto e branco]; Montagem: Blanche Sewell; Design de Produção: Edgar G. Ulmer [não creditado]; Direcção Artística: Alexander Toluboff; Cenários: Edwin B. Willis; Figurinos: Adrian.

Elenco:

Greta Garbo (Cristina), John Gilbert (Antonio), Ian Keith (Magnus Gabriel De la Gardie), Lewis Stone (Axel Oxenstierna), Elizabeth Young (Ebba Sparre), C. Aubrey Smith (Aage), Reginald Owen (Charles), Georges Renavent (Embaixador Francês), David Torrence (Arcebispo), Gustav von von Seyffertitz (General), Ferdinand Munier (Estalajadeiro).

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