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Anouk Aimée, Cinema, Cinema Francês, Claude Lelouch, Drama, Jean-Louis Trintignant, Nouvelle Vague, Romance
Jean-Louis Duroc (Jean-Louis Trintignant) é piloto de competição, viúvo, que tem o seu filho num colégio interno no norte de França. Numa visita de fim de semana conhece Anne Gauthier (Anouk Aimée), que trabalha em cinema, também ela viúva, e mãe de uma menina que estuda no mesmo colégio. Começando por partilhar algumas viagens, o casal passa a fazer visitas conjuntas, e em breve estabelece-se entre eles algo mais. Restar-lhes-á lidar com as memórias de um passado que ainda os atormenta e os poderá impedir de querer de novo tentar ser felizes.
Análise:
Claude Lelouch distingue-se dos outros realizadores da geração da Nouvelle Vague, por ver os seus primeiros filmes votados ao fracasso, e mesmo severamente criticados pelos Chaiers du Cinema. Tudo mudaria com a sua sexta longa-metragem, “Um Homem e Uma Mulher”, baseada num argumento do seu amigo Pierre Uytterhoeven. Com a aceitação de Jean-Louis Trintignant, que se interessou pelo projecto e propôs como parceira a sua amiga Anouk Aimée, o filme começou a ganhar forma, e se por um lado tem traços comuns da Nouvelle Vague, como os planos pouco encenados, muitas vezes com câmaras transportadas à mão, e um centrar na psicologia interna dos personagens, em detrimento de uma coesão narrativa, por outro o filme destaca-se pela sua linearidade e atenção dada à fotografia.
“Um Homem e Uma Mulher” é a história simples de um par de pessoas, Jean-Louis Duroc (Jean-Louis Trintignant) e Anne Gauthier (Anouk Aimée), ele um piloto de automóveis de competição, ela trabalhando numa produtora de cinema, ambos viúvos. É nas visitas aos seus respectivos filhos, que estudam num colégio interno em Deauville, no norte de França, que se conhecem. A partir daí combinam visitas conjuntas, passam a passeios conjuntos com os filhos, tornam-se amigos, depois amigos íntimos, e finalmente percebem estarem enamorados um do outro.
Nas mãos de Lelouch, esta história simples, e quase sem eventos, é uma história de pequenos passos e revelações, nas quais os protagonistas vão reparando um no outro, vão-se habituando um ao outro, e se vão lentamente conhecendo. O filme é feito de momentos de contemplação, focando-se em pequenos gestos, olhares, sorrisos, e alguns pensamentos ouvidos em off, que se tornam mais reveladores que quaisquer palavras ou acontecimentos.
Por isso um sorriso num rosto em grande plano, o deambular de duas mãos, o plano de um cão que corre na praia, ou uma linha do horizonte são o fulcro de uma história de descoberta e aproximação, que se torna em simultâneo a história do lidar com fantasmas do passado, e do arriscar em acreditar de novo.
Jean-Louis e Anne já amaram. Ambos perderam o cônjuge tragicamente. Ambos lidaram com isso em negações ao seu modo. Ele em romances fúteis, ela num isolamento total. Ambos têm os filhos a quem dar todo o seu amor. Ambos espreitam agora o outro como uma oportunidade de voltar a acordar dentro de si algo que julgavam morto. Por tudo isso, “Um Homem e Uma Mulher” é um filme poético, e mesmo inocente, feito de esperança, mas não escamoteando a dor e a incerteza.
Filmado parcialmente a preto e branco, a cores e em tons de sépia (ao que consta por falta de película), o filme de Lelouch mantém uma linearidade narrativa, ainda que entrecortada pelo modo contemplativo de filmar, e por inúmeros flashbacks. Estes surgem sem ordem cronológica, ilustrando (sem palavras, quase como filmes caseiros) em imagens aquilo que sabemos que os personagens irão contar ou estarão a pensar.
A força do filme passa essencialmente pela força do olhar de Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée, que sem palavras conseguem ser delicados, curiosos, inocentes, felizes, tristes, contemplativos, assertivos, fracos, fortes. Quem o quiser testemunhar precisará apenas de ver a cena final, na estação de comboios, onde, sem palavras, se diz tanto (e onde a surpresa de Anouk Aimée é genuína, pois não lhe fora dito o que esperar).
“Um Homem e Uma Mulher” foi muito bem recebido internacionalmente, tendo ganho vários prémios de prestígio, entre eles a Palma de Ouro para Melhor Filme, em Cannes, e os Oscars de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Argumento.
Vinte anos mais tarde surgiria a sequela “Um Homem e Uma Mulher: 20 Anos Depois” (Un Homme et une Femme, 20 Ans Déjà, 1986), do mesmo Claude Lelouch, também com argumento de Pierre Uytterhoeven, e com a mesma dupla de protagonistas.
Produção:
Título original: Un homme et une femme; Produção: Les Films 13; País: França; Ano: 1966; Duração: 103 minutos; Distribuição: United Artists (França), Allied Artists Pictures (EUA); Estreia: 27 de Maio de 1966 (França).
Equipa técnica:
Realização: Claude Lelouch; Produção: Claude Lelouch [não creditado]; Argumento: Pierre Uytterhoeven; Música: Francis Lai; Orquestração: Yvan Jullien, Maurice Vander; Fotografia: Claude Lelouch [cor e preto e branco, cor por Eastmancolor]; Montagem: Claude Barrois, Claude Lelouch [não creditado]; Design de Produção: Robert Luchaire; Figurinos: Richard Marvil; Efeitos Especiais: Jean Beylieu; Direcção de Produção: Roger Fleytoux.
Elenco:
Anouk Aimée (Anne Gauthier), Jean-Louis Trintignant (Jean-Louis Duroc), Pierre Barouh (Pierre Gauthier), Valérie Lagrange (Valerie Duroc), Antoine Sire (Antoine Duroc), Souad Amidou (Françoise Gauthier), Henri Chemin (Co-Piloto de Jean-Louis), Yane Barry (Amante de Jean-Louis), Paul Le Person (Empregado da Estação de Serviço), Simone Paris (Directora da Escola).