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Le feu folletAlain Leroy (Maurice Ronet) está em Versailles, onde recupera de dependência alcoólica. Embora já curado, teme uma recaída e está renitente em deixar a instituição onde está. Recusa por isso regressar a Nova Iorque, onde a esposa, Dorothy, o espera, e mesmo envolvendo-se numa ligação amorosa com Lydia (Léna Skerla), ele vê-a com frieza e distância. Para se libertar da depressão em que vive, Alain vai para Paris, onde reconstitui passos antigos, e procuras as pessoas da sua vida anterior. Mas nada lhe dá alento, deixando-o mais firme na decisão de acabar com a sua vida.

Análise:

Com “Fogo Fátuo” de 1963, Louis Malle continuava a comportar-se como o mais diversificado realizador da Nouvelle Vague, não se restringindo a temas e formas de filmar, optando por narrativas mais clássicas, mas sempre com o objectivo de nos dar um estudo de personalidade. Voltando a filmar a preto e branco, Malle escolheu o livro homónimo de Pierre Drieu La Rochelle, o qual era, por sua vez, baseado na vida no poeta surrealista francês Jacques Rigaut, que se suicidou em 1929.

Louis Malle aborda um tema tabú, o suicídio, na história de Alain Leroy (Maurice Ronet), um homem que se desligou de todos, para recuperar de alcoolismo, e agora que os médicos o proclamam curado, se recusa a deixar a instituição onde estivera internado, com medo de uma recaída. Nem mesmo Lydia (Léna Skerla), com quem ele se envolve sexualmente, consegue retirá-lo da depressão. Para Alain, a sua cruz é nada sentir, nada lhe importar. Por isso não regressa a Nova Iorque, onde a esposa, que ele não ama, o espera, nem assume uma relação com Lydia, para não ver nela outra pessoa que lhe seja indiferente, como a sua esposa.

Sem rumo, Alain deixa a instituição em Versailles, e vai para Paris. Aí procura reencontrar antigos amigos, visitar antigos locais, e restabelecer antigos hábitos. Uma por uma, Alain vive (revive) diferentes histórias e episódios, com pessoas do seu passado, mas o que isso confirma é a sua incapacidade de se relacionar e entusiasmar com alguma coisa.

Em “Fogo Fátuo”, Louis Malle entra em território existencialista, através de um protagonista que se apercebe de que nada o liga à sua vida. Apercebe-se de que não é capaz de sentir, de que na verdade nunca amou, e que o seu casamento nunca lhe trouxe nada. Essa incapacidade de sentir, de se ligar, de compreender, de fazer sentido dos seus passos, será o mote do filme, que nos mostra um homem que erra pela cidade, observa, e tenta conversar com os que em tempos considerou amigos. Mas tudo lhe parece agora diferente, como se a crise de alcoolismo e subsequente recuperação fossem o levantar de um véu que sempre o impediu de ver que afinal sempre esteve só num mundo que para ele não tem sentido.

Consciente do seu tom negro, Malle filma de um modo contemplativo, quer o quarto claustrofóbico e impessoal de Alain, quer as ruas de Paris, filmadas quase como documentário de câmara na mão, no seu desenrolar lento e repetitivo, quer, claro, o rosto de Maurice Ronet (onde não nos são poupados os muitos close-ups), a partir do qual se constrói a densidade psicológica do filme, feita de negrume e pessimismo.

Para acentuar essa frieza, e fragilidade quase clínica, destaque para a música de Erik Satie que pontua todo o filme.

“Fogo Fátuo” recebeu no Festival de Veneza, o Prémio especial do júri e o Prémio dos críticos de cinema italianos, tendo também sido seleccionado para os Oscars como Melhor Filme Estrangeiro, mas não aceite na escolha final.

Produção:

Título original: Le feu follet [Título inglês: The Fire Within]; Produção: Nouvelles Éditions de Films (NEF); País: França / Itália; Ano: 1963; Duração: 103 minutos; Distribuição: Lux Compagnie Cinématographique de France; Estreia: 15 de Outubro de 1963 (França).

Equipa técnica:

Realização: Louis Malle; Argumento: Louis Malle [baseado no livro de Pierre Drieu La Rochelle]; Música: Erik Satie; Fotografia: Ghislain Cloquet [preto e branco]; Montagem: Suzanne Baron; Design de Produção: Bernard Evein; Figurinos: Gitt Magrini; Direcção de Produção: Alain Quefféléan.

Elenco:

Maurice Ronet (Alain Leroy), Léna Skerla (Lydia), Yvonne Clech (Mademoiselle Farnoux), Hubert Deschamps (D’Averseau), Jean-Paul Moulinot (Dr. La Barbinais), Mona Dol (Madame La Barbinais), Pierre Moncorbier (Moraine), René Dupuy (Charlie), Bernard Tiphaine (Milou), Bernard Noël (Dubourg), Ursula Kubler (Fanny), Jeanne Moreau (Eva), Alain Mottet (Urcel), François Gragnon (François Minville), Romain Bouteille (Jérôme Minville), Jacques Sereys (Cyrille Lavaud), Alexandra Stewart (Solange), Claude Deschamps (Maria), Tony Taffin (Brancion), Henri Serre (Frédéric).

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